Por Clovis Rossi
O
medo de que a Grécia se veja obrigada a abandonar o euro, o que jogaria a
Europa em território desconhecido, levou lideranças europeias a entrar de peito
aberto na campanha para o plebiscito de domingo, 5, em que os gregos decidirão
se aceitam o pacote proposto pelos credores.
"Um
voto 'não' significaria que a Grécia está dizendo não à Europa", decretou,
por exemplo, Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, o braço
executivo do conglomerado europeu.
Por
que a Europa teme a saída da Grécia, se representa só 2% da economia europeia?
Primeiro,
porque seria entrar "em território desconhecido", como disse ao
"Financial Times" o analista Huw Pill, da Goldman Sachs.
Segundo:
as consequências político-institucionais de levar a Grécia à quebra seriam potencialmente
tão dramáticas quanto as econômicas.
Diz,
por exemplo, Dimitar Bechev, pesquisador visitante do Instituto Europeu da
London School of Economics: "A saída da Grécia provaria que a integração
europeia é reversível e não conduz à convergência em prosperidade e padrões de
governança".
FRONTEIRA
SENSÍVEL
Emenda
Thanos Dokos, da Fundação Helênica para Política Europeia e Externa: "A
Grécia tem uma das fronteiras externas mais sensíveis da UE, no contexto da
imigração [a outra grande tragédia contemporânea para a Europa]. O
gerenciamento da fronteira estaria além da capacidade de um país em
bancarrota".
Por
isso, a liderança europeia pede o voto "sim" ao pacote por ela
apresentado aos gregos, que impõe austeridade adicional em troca de socorro
financeiro, sem o qual os bancos gregos quebram.
O
eleitorado terá que decidir, no domingo, se dói mais a navegação por território
desconhecido ou a austeridade, cujos resultados, estes sim, são conhecidos.
A
OCDE, o clubão dos países mais industrializados, em seu relatório de meio de
ano, informa que o PIB grego em 2014 (sem austeridade adicional) só crescerá
0,1% (detalhe: a avaliadora de risco S&P prevê queda de 3%); que a dívida
pública ficará em 185% do PIB (estava, no fim de 2014, em 175%); e que o desemprego
continuará na escandalosa casa dos 25% (mais exatamente 25,7%).
É
com base nesses números que o premiê Alexis Tsipras pede o "não", com
o que aprofunda o confronto com os europeus. Mas ele também não sabe se, caso
sua posição seja aprovada pelo eleitorado, os números não se tornarão ainda
mais tenebrosos.
Chegou-se,
pois, a uma situação na qual não haverá ganhadores claros, vença o
"sim" ou o "não".
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