NOTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA (SBS) SOBRE A SUPRESSÃO DO
ENSINO DE QUESTÕES DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL NAS ESCOLAS
A Sociedade Brasileira de Sociologia
considera preocupante a supressão dos temas das relações de gênero e orientação
sexual dos planos de educação nacional, estaduais e municipais. Sem formação
sobre eles, os estudantes não terão acesso a conceitos e vocabulário
fundamentais para a vida na sociedade contemporânea, marcada pela luta por
igualdade entre homens e mulheres e o enriquecedor contato com as diferenças
sexuais e de gênero. As discussões sobre gênero e orientação sexual favorecem a
compreensão de direitos fundamentais e oferecem embasamento para que pessoas
recusem e se protejam do preconceito e da discriminação, contribuindo assim
para a construção de uma sociedade mais justa. A exclusão de conteúdos
educacionais sobre gênero e sexualidade fere valores republicanos como direito
à informação e livre expressão do pensamento, impedindo que que os jovens
reflitam sobre desigualdades históricas e possam participar de modo qualificado
do aprimoramento da democracia brasileira.
A oposição sistemática e autoritária de alguns ao que chamam de “ideologia de
gênero” revela desconhecimento da consolidada produção científica nacional e
internacional na área dos estudos de gênero e sexualidade. Gênero é uma categoria
analítica que permite compreender e criticar desigualdades históricas entre
homens e mulheres, assim como os processos discriminatórios que impedem a livre
transitividade de gênero legando pessoas ‘trans’ a uma injusta e inaceitável
subcidadania. As investigações sociológicas sobre sexualidade permitiram a
compreensão de formas institucionais e cotidianas de discriminação e violência
contra homossexuais, o que tem contribuído para a formulação de políticas
públicas que visem garantir a esses sujeitos seus direitos humanos.
Impedir o acesso de alunas e alunos às teorias e pesquisas contemporâneas sobre
gênero e orientação sexual e a propalada defesa da família proposta por
segmentos de grupos de religiosos constitui indisfarçável ato obscurantista de
censura ao acesso a informações de indiscutível validade científica. Cabe
ressaltar que religiosos, das mais variadas crenças, tem se revoltado contra
discriminações e desigualdades baseadas no gênero e na orientação sexual e não
apoiam a restrição à propagação de conhecimentos sobre a temática.
Vedar a possibilidade de aprendizado sobre conhecimentos largamente comprovados
na ciência contemporânea é uma medida obscurantista, incompatível com objetivos
educacionais do país estabelecidos no próprio Plano Nacional de Educação (PNE),
projeto de lei que define diretrizes e metas para a educação até 2020, dentre
os quais destacamos: superação das desigualdades educacionais, com ênfase na
promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; promoção
humanística, científica, cultural e tecnológica do país; promoção dos
princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
socioambiental. Por essas razões, a Sociedade Brasileira de Sociologia vem a
público expressar seu repúdio à supressão da menção às questões de gênero e
orientação sexual no referido Plano, bem como a outras iniciativas similares
que vem sendo tomadas em unidades da federação brasileira.
Porto Alegre, junho de 2015.
Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS)
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