Não concordo, de todo, com o artigo aí abaixo, de Vinicius Torres Freire, publicado na Folha de São Paulo de hoje (11/03/2015) - edição para assinantes. Contudo, há, no mesmo, pontos centrais que, de algum modo, tenho repisado neste espaço. Nessa "pantufada" toda, preocupa saber que está em jogo o futuro próximo do país, o que significa dizer, dentre outros, para jovens, que estão em processo de formação; para cidadãos e cidadãs, que - a partir dos seus orçamentos - assumiram determinados compromissos/comprometeram-se com certos projetos; para pequenos agricultores, que, à volta com os juros bancários, 'dão de ombro' e se perguntam 'como ficarão as coisas'. É certo que, desde o ano passado, os indicadores já sinalizavam prudência ao se assumir compromissos financeiros - nos arquivos deste blog, isto está discutido quando tratei da provável bolha imobiliária. Mas, o risco é algo inerente em matéria econômica - de resto, no longo prazo, disse Keynes, 'todos estaremos mortos.' Então é compreensível que as pessoas tenham assumido compromissos monetários. No mais, e o que temos hoje. Aí, a conferir o texto.
Tumulto é agora imprevisível
Por Vinicius Torres Freire
O
TUMULTO NACIONAL destes quase idos de março estava escrito e poderia ser lido
desde pelo menos a reeleição de Dilma Rousseff. O que virá adiante, porém,
parece incalculável, talvez quase aleatório e, pois, aberto a acidentes
extremos. Na falta de lideranças políticas e alianças sociais fortes que tentem
colocar ordem nessa confluência revolta de incompetências e pequenezes, o risco
de desastre aumenta.
Era previsível e, aliás, foi aqui e ali previsto que,
ao final do primeiro trimestre do ano, por aí, haveria a conjunção exponencial
das seguintes crises:
1) Apareceriam os primeiros efeitos concretos,
"de rua", da crise econômica, fosse pela degradação contínua
decorrente da má administração, pelos primeiros impactos do arrocho ou, caso a
presidente persistisse nos erros piores, no colapso resultante do fato de que
agentes econômicos antecipariam a crise de modo grave, agudo e concentrado;
2) O clima político progressivamente odiento, agravado
pela eleição apertada e pelo udenismo de parte significativa do PSDB e de certa
elite, degringolava já na campanha em ataques à legitimidade da eleição. Essa
atitude biliosa regressiva de parte da oposição deu alento a birutas a
princípio periféricos, que passaram a pregar tipos variados de golpe. A
conjunção de piora econômica com o estelionato eleitoral de Dilma Rousseff
agregou parcelas importantes da população à revolta antes marginal;
3) Era evidente que o rolo político do petrolão
desarticularia um Congresso já desbaratado. Crise econômica e tumulto
político-partidário se realimentariam;
4) A ruína da Petrobras, financeira, administrativa e,
enfim, corrupta, teria efeitos na cadeia enorme de empresas relacionadas e no
crédito de firmas em geral, quiçá em bancos.
De mais imprevisto foi o tamanho da incompetência política
do governo. Além do mais, um mistério, pergunta-se por que Dilma rechaçou o
conselho de Lula, que tenta sem sucesso tutelar ou ao menos orientar a pupila
pelo menos desde junho de 2013.
Agora se torna muito difícil calcular a resultante de
tantas lutas ávidas, imediatistas e particularistas para a salvação do próprio
pescoço e interesses, políticos e econômicos.
O que pode ser do Congresso? Os presidentes do Senado,
Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, lutam pela sobrevivência política,
assim como bancadas que haviam sido comprados para a coalizão do governo.
Querem triturar politicamente o governo. Mas dão sinais de que não vão fazer
política de terra arrasada na legislação econômica. Cunha o disse
explicitamente; Renan negocia um acordo para o reajuste da tabela do IR que,
embora não seja o ideal para o governo, é uma negociação que seria normal e
razoável em qualquer Congresso.
Os líderes do Congresso podem estar sob pressão de
parte das lideranças maiores do empresariado, mas parte do mundo empresarial,
aliada a sindicatos, milita contra o ajuste. Há muita gente nesse salve-se quem
puder imediatista. A política econômica se tornou mais incerta devido aos danos
adicionais causados pelo tumulto político (juros e câmbio estão sem norte).
A confluência tumultuária de interesses imediatistas e
a falta de lideranças tornou bastante imprevisível o futuro próximo do país.
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