segunda-feira, 9 de março de 2015

Igor Leite e novamente o 'Veneno da Bala'

Igor Leite, delegado de polícia em Pernambuco, já aqui referido (http://ivonaldo-leite.blogspot.com.br/2014/06/igor-leite-no-veneno-da-bala.html), segue com o seu livro de ficção 'No Veneno da Bala', que, em verdade, em muito revela a situação da segurança pública no país. Desta feita, do que me chega, reproduzo, aí abaixo, uma passagem da parte IV da obra. 

O Veneno da Bala, Parte IV - Igor Leite 

"E todos olharam boquiabertos …  a confusão que tomava conta da rua. Nunca, na história daquela via pública, tinha tanta gente perdido o juízo ao mesmo tempo. Talvez o míssil não tivesse afetado os policiais, de forma mais gravosa, em razão do costume de enfrentar situações tensas e de crise. Pelo visto, o mesmo não se passava com os cidadãos comuns. A explosão tinha afetado o povo além do que se poderia imaginar. Talvez por isso também o prefeito Silas tivesse reagido daquela forma alucinada e vingativa – isso e a morte de quase todos os seus familiares. As pessoas gritavam aos telefones celulares, na tentativa de conseguir alguma comunicação ou sinal. Gesticulavam alucinadas, soltando frases sem qualquer nexo. Corriam em todas as direções, derrubando mercadorias e objetos pessoais, esbarrando uns nos outros e trocando agressões verbais e safanões.
–  Que loucura é essa? – indagou Espiga com os olhos esbugalhados. Será que essa bomba caiu aqui na rua e nós não vimos?
Sônia parecia mais compreensiva – Ninguém está acostumado a lidar com isso, Espiga. O povo não entende nem o que é um míssil! – justificou.
– São tempo de guerra e insanidade. – completou Espiga.
Aguiar olhou curioso, mas apesar de espantado com as reações, sabia que tinham que seguir em frente:
– A polícia militar vai ter que se virar com essas confusões. Não podemos ficar nesse circo. Tem uma viatura dos fardados encostando mais na frente. Vamos embarcar e sair logo daqui, antes que o trânsito pare de vez.
A equipe obedeceu o comando e entrou na viatura. Mas a delegacia só tinha três carros e um sério problema. Eram todos uma porcaria! O primeiro era uma caminhonete toyota que estava sem gasolina, pois a cota de combustível do Estado tinha sido insuficiente para as investigações do mês. O segundo era uma brasília amarela, mas estava na revisão há 4 meses, com a rebimboca da parafuseta estourada (sabe-se lá o que é isso). E o único carro disponível era um celta, na cor preta, que aparentemente era bom, mas o fato é que algumas lambretas andavam mais rápido que essa viatura, que tinha 200 mil quilômetros rodados e motor 1.0. As viaturas institucionais sempre foram um sério, conhecido e batido problema.
– Chefe, vou dirigir essa lata velha de novo? – perguntou Johnny já de péssimo humor.
– É o jeito, Johnny. Não temos outra. – respondeu o delegado balançando a cabeça afirmativamente.
– Se eu pegar tétano ou tiver uma úlcera gástrica, quero ver o governador emprestar aquele carrão 2.0 dele, pra gente botar pra rodar nos buracos dessa nossa selva de pedra. – replicou o policial.
– Johnny, meu filho, as bicicletas vão continuar te ultrapassando. – disse Espiga sorrindo – Estou nessas polícia há mais de 20 anos e o problema continua o mesmo. Aguiar apenas sorriu. Conhecia o drama e sabia que era a mais pura verdade."

Nenhum comentário:

Postar um comentário