quarta-feira, 18 de março de 2015

A crise política, a Presidente e o jabuti

Duas notas: 


1) Ecoando uma 'metáfora política', é de se reter que 'jabuti não sobe em árvore'; se está lá, alguém o colocou. Como é que o deputado Eduardo Cunha, enrolado na Operação Lava Jato, denunciado pelo Ministério Público Federal, de repente começa a aparecer nos principais programas que alimentam o debate político brasileiro como paladino da boa governança e dando lições, quase sempre afrontosas, à Presidente da República? Pois bem, Cunha é figura central nas tratativas de desencadeamento do processo de impeachment, bem como no pós-consumação - estará apintando o jogo, na linha de sucessão. Limpar-lhe a imagem agora, com ele aparecendo nos referidos programas, equivale a levar o jabuti à arvore. 

2) O desgaste do governo federal atingiu um grau que, à luz da razão, deveria deixar preocupado até o mais otimista dos petistas. Veja-se o gráfico abaixo (da pesquisa do Datafolha) 


Em resumo, uma leitura sintética do gráfico e da pesquisa em geral: em pouco tempo, a avaliação de ruim/péssimo saltou de 44% para 62%; regular caiu de 33% para 24%; e bom/ótimo despencou de 23 para 13%. Na região Nordeste, que deu forte suporte à vitória da Presidente, a queda de popularidade também é significativa. Ou seja, ela não venceria a eleição hoje. É um equívoco, e grosseiro, do PT insistir com a ideia, por exemplo, de que só quem participou das manifestações no último domingo/15 foram as pessoas que votaram em Aécio. Pode-se discutir a(s) causa(s) da perda de popularidade, como se falta comunicação adequada do governo com a população, se é resultado da campanha/ataques promovidos pela oposição, etc., mas não é mais possível negar que a Presidente perdeu apoios entre os que votaram nela. Ao que parece, foi um erro ter silenciado, sumido das entrevistas, quando o seu Ministro da Fazenda reinava nos meios de comunicação anunciando a adoção de medidas que foram negadas pela candidata Dilma durante a campanha. Tentou livrar-se do ônus das explicações, mas o resultado foi desastroso. Parte dos eleitores da Presidente sentiram-se traídos. O resultado está aí. É o menor índice de aprovação presidencial desde o ex-Presidente Fernando Collor - que, só para lembrar, sofreu impeachment. Enfim, junte-se a nota que realcei acima (sobre o deputado Eduardo Cunha) com a situação da Presidente em termos de apoio popular e então talvez algumas coisas comecem a fazer sentido. O jogo está aberto. E é bruto. 

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