Em 2013, Analas of the New York Academy of Sciences publicou pesquisa que indicava uma 'reação biológica' em pessoas que não só não se sensibilizam com o sofrimento alheio, como chegam até mesmo a experimentar prazer diante das dificuldades e da dores do outro. As bizarrices do mundo! Claro, não se trata de valorizar o "coitadismo", que, no final das contas, termina por anular as pessoas. De resto, o coitadismo quase sempre anda na garupa de 'preceitos morais' que dispensam juízos lustrados pela razão.  Trata-se, sim, de ter sobre a mesa a temática do 'humanismo concreto', no sentido de garantir a afirmação autônoma de cada um como autor da sua própria história. E aqui, pelo caminho, encontra-se a questão da felicidade. Aí abaixo, segue um pequeno texto discutindo o assunto a partir de uma incursão na antiguidade clássica grega, com foco em Platão e Aristóteles. De rerum natura. É necessário apreender a captar a 'natureza das coisas'. Sócrates: "é sábio quem  coloca em si o que leva à felicidade ou dela se aproxima." 

Por Bento Silva
Santos (UFES) 
O objetivo desta comunicação
tem em vista esboçar, para além de todas
as   diferenças, o que existe de comum nas éticas descritivas ou “empiristas”
de Platão e Aristóteles a partir da estrutura
fundamental da ética eudaimônica:
a eudaimonia
é entendida como posse de bens reais, dotados de um valor objetivo. Para Platão, esses bens são, além do conhecimento, a ordem, a medida, a proporção que, presentes
em toda a realidade humana,
contribuem para assegurar aos homens a vida feliz. Aristóteles acrescentará aos bens intelectuais certos bens exteriores, tais como a saúde e a reputação, poder, que são necessários para o exercício
da espontaneidade moral.
Ambos se aproximam na questão do “bem humano”: este, enquanto
expressão de “felicidade”, pode ser tematizado a partir das analogias entre os termos em redor dos quais gravita pre-
ponderantemente a ética grega: techne, agathon, arete. Quando os vinculamos ao conceito axial de eudaimonia, o “bem humano” aparecerá como característica
principal da “felicidade”  humana
nas abordagens mais descritivas e empiristas de Platão e Aristóteles. Por conseguinte, a “felicidade” historicamente realizável dependerá da posse de bens reais aos quais a razão imporá uma justa medida (Político), um meio termo (Ética a Nicômaco), uma mistura ou combinação de prazer e inteligência (Filebo), uma mistura das distintas Constituições (Leis).
proporção que, presentes
em toda a realidade humana,
contribuem para assegurar aos homens a vida feliz. Aristóteles acrescentará aos bens intelectuais certos bens exteriores, tais como a saúde e a reputação, poder, que são necessários para o exercício
da espontaneidade moral.
Ambos se aproximam na questão do “bem humano”: este, enquanto
expressão de “felicidade”, pode ser tematizado a partir das analogias entre os termos em redor dos quais gravita pre-
ponderantemente a ética grega: techne, agathon, arete. Quando os vinculamos ao conceito axial de eudaimonia, o “bem humano” aparecerá como característica
principal da “felicidade”  humana
nas abordagens mais descritivas e empiristas de Platão e Aristóteles. Por conseguinte, a “felicidade” historicamente realizável dependerá da posse de bens reais aos quais a razão imporá uma justa medida (Político), um meio termo (Ética a Nicômaco), uma mistura ou combinação de prazer e inteligência (Filebo), uma mistura das distintas Constituições (Leis).
 proporção que, presentes
em toda a realidade humana,
contribuem para assegurar aos homens a vida feliz. Aristóteles acrescentará aos bens intelectuais certos bens exteriores, tais como a saúde e a reputação, poder, que são necessários para o exercício
da espontaneidade moral.
Ambos se aproximam na questão do “bem humano”: este, enquanto
expressão de “felicidade”, pode ser tematizado a partir das analogias entre os termos em redor dos quais gravita pre-
ponderantemente a ética grega: techne, agathon, arete. Quando os vinculamos ao conceito axial de eudaimonia, o “bem humano” aparecerá como característica
principal da “felicidade”  humana
nas abordagens mais descritivas e empiristas de Platão e Aristóteles. Por conseguinte, a “felicidade” historicamente realizável dependerá da posse de bens reais aos quais a razão imporá uma justa medida (Político), um meio termo (Ética a Nicômaco), uma mistura ou combinação de prazer e inteligência (Filebo), uma mistura das distintas Constituições (Leis).
proporção que, presentes
em toda a realidade humana,
contribuem para assegurar aos homens a vida feliz. Aristóteles acrescentará aos bens intelectuais certos bens exteriores, tais como a saúde e a reputação, poder, que são necessários para o exercício
da espontaneidade moral.
Ambos se aproximam na questão do “bem humano”: este, enquanto
expressão de “felicidade”, pode ser tematizado a partir das analogias entre os termos em redor dos quais gravita pre-
ponderantemente a ética grega: techne, agathon, arete. Quando os vinculamos ao conceito axial de eudaimonia, o “bem humano” aparecerá como característica
principal da “felicidade”  humana
nas abordagens mais descritivas e empiristas de Platão e Aristóteles. Por conseguinte, a “felicidade” historicamente realizável dependerá da posse de bens reais aos quais a razão imporá uma justa medida (Político), um meio termo (Ética a Nicômaco), uma mistura ou combinação de prazer e inteligência (Filebo), uma mistura das distintas Constituições (Leis).
1. A ética “empirista” de Platão
Segundo o consenso unânime dos autores, dois temas fundamentais
norteiam a reflexão ético-filosófica
de Platão: de um lado, o conhecimento e as condições que o tornam possível
e, simultaneamente, a natureza metafísica do que é conhecido (“Como posso conhecer como devo viver?”); de outro lado, a
questão socrática fundamental que tematiza
a importância da moralidade para a
vida feliz e as condições
necessárias de sua realização na polis: “Como eu devo viver?”. A pretensão de uma compreensão racional do eu, formulada pela pri-
meira vez por Sócrates nos diálogos primitivos, fez com que Platão buscasse
um fundamento filosófico da abordagem racional de seu mestre
conectando-a com o conhecimento da realidade inteligível, que é a Idéia
do Bem. O conhecimento do Bem e sua interiorização constituem a resposta
platônica à questão normativa
socrática: “Como eu devo viver?” A verdadeira
“felicidade”, segundo
as reflexões ético-políticas dos livros centrais
da República, reside na forma de existência consagrada ao conhecimento do Bem. Este ideal filosófico, portanto, seria o verdadeiro ideal humano
do viver, no sentido de “assemelhar-se a Deus enquan to é possível”1. As respostas
às questões normativas e epistemológica dependem, respectivamente da doutrina de Platão sobre a conexão entre
 virtudes e felicidade, bem como de sua interpretação sobre o conhecimento, opinião e ciência2.
to é possível”1. As respostas
às questões normativas e epistemológica dependem, respectivamente da doutrina de Platão sobre a conexão entre
 virtudes e felicidade, bem como de sua interpretação sobre o conhecimento, opinião e ciência2.
 to é possível”1. As respostas
às questões normativas e epistemológica dependem, respectivamente da doutrina de Platão sobre a conexão entre
 virtudes e felicidade, bem como de sua interpretação sobre o conhecimento, opinião e ciência2.
to é possível”1. As respostas
às questões normativas e epistemológica dependem, respectivamente da doutrina de Platão sobre a conexão entre
 virtudes e felicidade, bem como de sua interpretação sobre o conhecimento, opinião e ciência2.
Em relação aos diálogos
de Platão, a problemática presente no tema desta reflexão
poderia ser formulada
com as seguintes perguntas: como relacionar
a ontologia da maturidade, mais voltada ao conhecimento
das Idéias e de sua geração, com as reflexões
sobre as ações humanas?3 Como em Platão se     modificou a questão ética associada
ao problema cósmico e metafísico com as noções de kosmos e
taxis4 para o “bem” ético definido
nos diálogos tardios como metrion? Se o conhecimento do Bem absoluto
preconizado na República é
a suprema Idéia que norteia
as vertentes das ações humanas
(gnoseológicas, éticas, estéticas, políticas, técnicas) em direção a uma vida feliz na prática da virtude, Platão terá descortinado um pessimismo acerca da viabilidade prática deste princípio fundamental em suas obras da velhice? Em que medida, portanto, se configu-
ram as continuidades e descontinuidades entre as aplicações éticas de Platão sobre a noção de “intermediário” (justa medida, proporção, mistura dos elemen tos, meio-termo, etc.) e as éticas
mais descritivas e “empiristas” de Aristóteles?5
tos, meio-termo, etc.) e as éticas
mais descritivas e “empiristas” de Aristóteles?5
 tos, meio-termo, etc.) e as éticas
mais descritivas e “empiristas” de Aristóteles?5
tos, meio-termo, etc.) e as éticas
mais descritivas e “empiristas” de Aristóteles?5
As semelhanças com as éticas
aristotélicas se tornam evidentes a partir
do estudo dos últimos diálogos
de Platão6  que tematizam novos aspectos na postura idealista e metafísica conquistada a partir do ensinamento socrático que inaugurou no ocidente a reflexão ética organizada como uma ciência
do bem: do exame do Bem em si nos livros centrais da República7, Platão se voltará ao e- xame do bem humano concreto. Do estudo das últimas fontes constitutivas da moralidade na esfera metafísica
– relação com o Bem absoluto
– passará a con- siderar descritivamente os constitutivos imediatos
do bem humano in facto esse.
Neste sentido, lendo os últimos diálogos – isto é, o Político, o
Filebo, o Timeu e as Leis -, que se supõe tradicionalmente posteriores à República, verificamos que a grandiosa síntese metafísica e epistemológica
sobre a Idéia do Bem se
desintegrou8.
É impossível que o Bem absoluto se realize neste mundo9. Uma
mudança notável se realiza: os aspectos teórico e prático da filosofia
do conhe- cimento em Platão estão agora separados. No entanto, Platão permanece fiel à diretriz dada pelas analogias socráticas. Os elementos que descritivamente
e como que a posteriori Platão descobre no Bem são a ordem, a medida, a pro-
porção, a reta combinação ou mistura dos elementos, a harmonia; esses ele-
mentos são como o leitmotiv ético dos diálogos tardios,
mas quase todos esta vam de certo modo implícitos, ou às vezes explícitos, na analogia técnica
tão habitual em Sócrates. A missão da técnica consiste
em estabelecer ordem, me- dida,
proporção, harmonia, etc. entre elementos
dispersos.
vam de certo modo implícitos, ou às vezes explícitos, na analogia técnica
tão habitual em Sócrates. A missão da técnica consiste
em estabelecer ordem, me- dida,
proporção, harmonia, etc. entre elementos
dispersos.
 vam de certo modo implícitos, ou às vezes explícitos, na analogia técnica
tão habitual em Sócrates. A missão da técnica consiste
em estabelecer ordem, me- dida,
proporção, harmonia, etc. entre elementos
dispersos.
vam de certo modo implícitos, ou às vezes explícitos, na analogia técnica
tão habitual em Sócrates. A missão da técnica consiste
em estabelecer ordem, me- dida,
proporção, harmonia, etc. entre elementos
dispersos.
Neste sentido, é assim significativo o posicionamento mais realista no Político, onde Platão introduz o tema da “justa medida”
ou proporção, to metrion,
que retornará em quase todos os diálogos
tardios e que, sem dúvida,
é o ante- cedente imediato da famosa mesotes
aristotélica10. A medida é algo que pode aplicar-se a tudo que admite excesso ou defeito;
mas deve-se distinguir duas classes de medida: a primeira,
que é mera comparação de diversas
grandezas entre si – que é o que se faz ao “medir”
algo com um padrão de longitude,
ca- pacidade, peso, etc.; a segunda, que se faz com “relação às necessidades es- senciais do devir” (kata ten geneseos anankaian ousian, 283 d)11: Em outras
palavras: podem estabelecer-se toda espécie de medidas relativas
por comparação entre diversas grandezas; mas um tipo de medida que é, em certo sentido, absoluta, pois responde ao que exige a essência de cada coisa: cada coisa exige por sua essência determinadas qualidades em determinado grau, e é o excesso ou defeito em relação a esta medida o que determina
o que está bem ou mal
nas coisas. Se a Idéia do Bem representava a objetivação no plano metafísico do sumo valor, a justa medida representa uma objetivação
semelhante no plano concreto. Isto porque se supõe que esta justa medida é algo objetivo
e plena- mente determinado na ordem dos valores. A justa medida é o bem próprio de cada essência, e a justa medida para o homem consiste em realizar em todas as suas ações o bem que lhe corresponde por sua essência.
Trata-se,
portanto, de dois tipos de metrética:
um de caráter quantitativo
 e matemático, que vem a ser a mensuração
do mais e do menos nas suas rela- ções recíprocas, segundo a relação
de grande e pequeno (exemplos: comprimento, largura, profundidade,
espessura, velocidade e os seus contrários),
e outro de caráter ontológico-axiológico, que é a mensuração do mais e do menos em
relação ao justo meio, segundo a medida
necessária para a geração das coisas e segundo o que faz com que exista o bom e o mau (exemplos: conveniente, oportuno, devido
e tudo o que implica
o meio entre os extremos).
e matemático, que vem a ser a mensuração
do mais e do menos nas suas rela- ções recíprocas, segundo a relação
de grande e pequeno (exemplos: comprimento, largura, profundidade,
espessura, velocidade e os seus contrários),
e outro de caráter ontológico-axiológico, que é a mensuração do mais e do menos em
relação ao justo meio, segundo a medida
necessária para a geração das coisas e segundo o que faz com que exista o bom e o mau (exemplos: conveniente, oportuno, devido
e tudo o que implica
o meio entre os extremos). 2. As éticas de Aristóteles12
2. As éticas de Aristóteles12
Se Platão ofereceu
sua grande tentativa de “salvar” a vida do homem ne- gando todo valor ao mundo da mutabilidade e do contingente, à vida das pai- xões,
aos bens necessariamente efêmeros em sua grandiosa síntese metafísica
da Idéia do Bem, a autocrítica e a revisão
filosófica de seu pensamento na fase
tardia redimensionaram a sua teoria ética: nos diálogos de seu último período
de produção literária, Platão lança elementos que permitirão reabilitar o valor dos bens humanos que, sendo mutáveis e instáveis, não deixam, porém, de ser componentes indispensáveis de uma vida boa. É o caso
das éticas de Aristóteles.
Na Ética a Nicômaco, considerada como um
manual para a felicidade, o discípulo de Platão estabelece desde o início da obra sua primeira “definição”:  “O bem
do homem vem
a ser uma atividade da alma de conformidade com
a virtude, e se as virtudes são várias, de
conformidade com a melhor e
mais completa entre elas, e ademais devemos
acrescentar que tal atividade deve estender-se por
toda a vida”13. Assim, o primeiro livro da Ética a Nicômaco já
contém passagens que indicam a
necessidade de bens externos (sendo a virtude o bem
interno por antonomásia), cuja presença na vida do homem
contribui essencialmente para a
 sua felicidade:
sua felicidade: “Por que não diríamos, então que é feliz o homem ativo de conformidade com a virtude perfeita e
suficientemente aquinhoado com bens exteriores,
não por um lapso de tempo qualquer;
mas por toda a
vida?”
“Por que não diríamos, então que é feliz o homem ativo de conformidade com a virtude perfeita e
suficientemente aquinhoado com bens exteriores,
não por um lapso de tempo qualquer;
mas por toda a
vida?”
 sua felicidade:
sua felicidade: “Por que não diríamos, então que é feliz o homem ativo de conformidade com a virtude perfeita e
suficientemente aquinhoado com bens exteriores,
não por um lapso de tempo qualquer;
mas por toda a
vida?”
“Por que não diríamos, então que é feliz o homem ativo de conformidade com a virtude perfeita e
suficientemente aquinhoado com bens exteriores,
não por um lapso de tempo qualquer;
mas por toda a
vida?”
Por conseguinte, segundo
perspectivas epistemológicas semelhantes, e ao estabeleceram reflexões relacionadas com as ações humanas através
da teoria do “bem humano”15,
Platão e Aristóteles propõem a busca da
felicidade na vida virtuosa.
De modo geral, a felicidade, da qual a virtude
é uma condição necessária, requer também outros bens; trata-se do bem propriamente humano que, diferentemente do bem divino, monolítico e necessário, é radicalmente
frágil e delicado, mas que
integra essencialmente a busca da felicidade por parte do homem16; por mais contingente que seja em relação à sua forma, é inevitável o conflito entre os múltiplos valores que, com forças desiguais, atraem o ho- mem, e existem numerosos
elementos da personalidade ou do caráter humano que não estão submetidos a uma deliberação prévia (boulesis) ou
a uma escolha racional (proairesis)... Ora, admitindo
que esta fragilidade ou vulnerabilidade – a
abertura ao risco e à incerteza, à paixão e ao
sofrimento – define radicalmente a condição humana, a insensibilidade diante da dor pessoal ou alheia implicaria
mutatis mutandis perder a possibilidade de, enquanto humanos,
sermos felizes.
 3. Platão e Aristóteles
3. Platão e Aristóteles
O exame comparativo das éticas de Platão e de Aristóteles sob o aspecto  da célebre
questão do Bem poderá
levantar alguns problemas de grande rele
da célebre
questão do Bem poderá
levantar alguns problemas de grande rele vância. Ambos os autores se distanciam quando determinam
o significado ético do Bem. Em Platão,
o conhecimento do bem
permite ao filósofo julgar o que é o bem nos seres humanos e na totalidade do Universo. Antes de apresentar
os fundamentos de sua ética nos livros centrais da República, Platão já os prepara nos diálogos primitivos
quando concebe a felicidade como fim último da ação
moral e o agathon como conceito universal: a felicidade
depende da ciência do bem e do mal (to agathon kai kakon) em
todas as coisas. O objeto desta ciência (episteme) é universal: o eu prattein da
moral é algo de incomensurável com o eu prattein da ação técnica
(techne). Assim, por
exemplo, no Cármides, chegou-
se à
conclusão de que a ciência que nos pode proporcionar a felicidade não é uma ciência da mesma categoria
que a dos arquitetos ou sapateiros.
Esta ciên- cia “real” ou “política”
não é um objeto tão definido:
no Cármides dizia-se que este objeto é simplesmente fazer o bem e o mal (174 b)17. No Eutidemo diz-se que é “tornar
os homens sábios
e bons” (292 b).
vância. Ambos os autores se distanciam quando determinam
o significado ético do Bem. Em Platão,
o conhecimento do bem
permite ao filósofo julgar o que é o bem nos seres humanos e na totalidade do Universo. Antes de apresentar
os fundamentos de sua ética nos livros centrais da República, Platão já os prepara nos diálogos primitivos
quando concebe a felicidade como fim último da ação
moral e o agathon como conceito universal: a felicidade
depende da ciência do bem e do mal (to agathon kai kakon) em
todas as coisas. O objeto desta ciência (episteme) é universal: o eu prattein da
moral é algo de incomensurável com o eu prattein da ação técnica
(techne). Assim, por
exemplo, no Cármides, chegou-
se à
conclusão de que a ciência que nos pode proporcionar a felicidade não é uma ciência da mesma categoria
que a dos arquitetos ou sapateiros.
Esta ciên- cia “real” ou “política”
não é um objeto tão definido:
no Cármides dizia-se que este objeto é simplesmente fazer o bem e o mal (174 b)17. No Eutidemo diz-se que é “tornar
os homens sábios
e bons” (292 b).
 da célebre
questão do Bem poderá
levantar alguns problemas de grande rele
da célebre
questão do Bem poderá
levantar alguns problemas de grande rele vância. Ambos os autores se distanciam quando determinam
o significado ético do Bem. Em Platão,
o conhecimento do bem
permite ao filósofo julgar o que é o bem nos seres humanos e na totalidade do Universo. Antes de apresentar
os fundamentos de sua ética nos livros centrais da República, Platão já os prepara nos diálogos primitivos
quando concebe a felicidade como fim último da ação
moral e o agathon como conceito universal: a felicidade
depende da ciência do bem e do mal (to agathon kai kakon) em
todas as coisas. O objeto desta ciência (episteme) é universal: o eu prattein da
moral é algo de incomensurável com o eu prattein da ação técnica
(techne). Assim, por
exemplo, no Cármides, chegou-
se à
conclusão de que a ciência que nos pode proporcionar a felicidade não é uma ciência da mesma categoria
que a dos arquitetos ou sapateiros.
Esta ciên- cia “real” ou “política”
não é um objeto tão definido:
no Cármides dizia-se que este objeto é simplesmente fazer o bem e o mal (174 b)17. No Eutidemo diz-se que é “tornar
os homens sábios
e bons” (292 b).
vância. Ambos os autores se distanciam quando determinam
o significado ético do Bem. Em Platão,
o conhecimento do bem
permite ao filósofo julgar o que é o bem nos seres humanos e na totalidade do Universo. Antes de apresentar
os fundamentos de sua ética nos livros centrais da República, Platão já os prepara nos diálogos primitivos
quando concebe a felicidade como fim último da ação
moral e o agathon como conceito universal: a felicidade
depende da ciência do bem e do mal (to agathon kai kakon) em
todas as coisas. O objeto desta ciência (episteme) é universal: o eu prattein da
moral é algo de incomensurável com o eu prattein da ação técnica
(techne). Assim, por
exemplo, no Cármides, chegou-
se à
conclusão de que a ciência que nos pode proporcionar a felicidade não é uma ciência da mesma categoria
que a dos arquitetos ou sapateiros.
Esta ciên- cia “real” ou “política”
não é um objeto tão definido:
no Cármides dizia-se que este objeto é simplesmente fazer o bem e o mal (174 b)17. No Eutidemo diz-se que é “tornar
os homens sábios
e bons” (292 b).
A preocupação socrática com o estabelecimento de uma techne da ação
humana18 como tal induziu Platão a criar uma epistemologia e uma metafísica: assim como a medicina
abre o caminho para a fisiologia e a pressupõe como condição essencial, da mesma forma a ética pressupõe
em sua teleologia uma concepção ontológica. A superação do paradigma técnico
(Craft-analogy)19 e-
merge no Górgias (464 c-465 a)20  com a racionalização ou sublimação do con-
ceito de techne e, especialmente, no Ménon com uma estrutura mental
centrada  no conhecimento das matemáticas21. Sob o influxo analógico
do bem técnico
no conhecimento das matemáticas21. Sob o influxo analógico
do bem técnico 
 no conhecimento das matemáticas21. Sob o influxo analógico
do bem técnico
no conhecimento das matemáticas21. Sob o influxo analógico
do bem técnico 
4 - Ética  e “Felicidade” em Platão
 e Aristóteles: semelhanças,  tensões e convergências                                   
(superado enquanto paradigma
para a moral especialmente a partir do Ménon),
fim objetivado de um processo teleológico concreto, chega-se nas obras da
maturidade (cf. República) à objetivação do Sumo Bem como objeto absoluto
e necessário do processo teleológico universal do ser. Em suma: Platão reivindica, em sua doutrina sobre a Idéia do Bem, uma pretensão
ontológica universal como fim último e princípio primeiro
das razões do agir.
Em seus tratados
de ética, Aristóteles critica Platão por sua interpretação
ontológica universal da doutrina sobre a Idéia do Bem e a integração,
nesta sistematização metafísica, do problema da arete em geral22. Aristóteles propôs uma concepção
pluralista e deu ao conceito
de bem uma estrutura analógica,
sem, porém, perder de vista a hierarquia
dos bens estabelecida de acordo com
as exigência da natureza racional
da praxis. Conseqüentemente, a questão so- crática da virtude seria incompatível com a questão
universal do agathon
que visa a dialética
platônica. Desta problemática surgem inevitavelmente
alguns questionamentos importantes:
Como entender
o interesse de Platão pelo mundo da geração e
corrup- ção, da falibilidade e da mutabilidade nos últimos
diálogos? O retorno aos temas da filosofia
socrática teria como causa a “crise metafísica” surgida com o Parmênides 128 e-130 a? Se a doutrina da “justa medida”
do Politico representa o reconhecimento do ser limitado
na ordem dos valores, como paralelamente
no Sofista admitiu a existência do não-ser para avançar o discurso, um exame do  sentido “ético”
dos últimos diálogos
não contribuiria para ver em Platão um
sentido “ético”
dos últimos diálogos
não contribuiria para ver em Platão um  homem que esboça
um outro modo de filosofar – ao qual o diálogo se verifica
cada vez menos apropriado -, um modo que parte de problemas concretos, que leva em conta o trabalho
de terceiros? Ora, este procedimento se assemelha
incontestavelmente ao de Aristóteles.
homem que esboça
um outro modo de filosofar – ao qual o diálogo se verifica
cada vez menos apropriado -, um modo que parte de problemas concretos, que leva em conta o trabalho
de terceiros? Ora, este procedimento se assemelha
incontestavelmente ao de Aristóteles.
 sentido “ético”
dos últimos diálogos
não contribuiria para ver em Platão um
sentido “ético”
dos últimos diálogos
não contribuiria para ver em Platão um  homem que esboça
um outro modo de filosofar – ao qual o diálogo se verifica
cada vez menos apropriado -, um modo que parte de problemas concretos, que leva em conta o trabalho
de terceiros? Ora, este procedimento se assemelha
incontestavelmente ao de Aristóteles.
homem que esboça
um outro modo de filosofar – ao qual o diálogo se verifica
cada vez menos apropriado -, um modo que parte de problemas concretos, que leva em conta o trabalho
de terceiros? Ora, este procedimento se assemelha
incontestavelmente ao de Aristóteles.
A impostação mais realista da ética aristotélica não se assemelharia ao in- teresse pelo “bem humano”
dos
últimos diálogos de Platão, nos quais o autor impôs uma socialização ou “politização” à ética socrática
individualista e introduziu o tema da justa medida ou proporção, to metrion? Já não se espera, como pre- tendia Sócrates, que cada indivíduo
particular tenha autêntica ciência do bem ou da medida; basta que a tenha o político que há de governar
os
demais. O objeto da arte ou técnica política
são as artes “concernentes à justa medida, ao conveniente, ao oportuno, ao devido, e tudo o que se estabelece
como um termo médio (to meson) entre dois extremos.
Ora,
esta doutrina platônica
sobre a “justa medi- da”
é o embrião de toda a ética aristotélica, e Platão reiteradamente insiste na idéia de que a verdadeira felicidade dependerá da devida subordinação
e harmonia entre as três classes de bens: bens da alma, bens do corpo e bens inferiores.
Enfim, se ambas as reflexões
coincidem em uma abordagem
ética mais descritiva e “empirista”
sobre o bem humano, e levando em conta o verdadeiro
drama vital do homem que experimenta
sentimentos e paixões em constante
conflito, não poderíamos aceitar que a ética de Platão e Aristóteles consistiria no
conhecimento e na compreensão das condições limitativas da ação humana na
busca da felicidade? A filosofia
moral, neste sentido, consistiria igualmente não só em reconhecer – na ambigüidade das ações humanas
– a sua profundidade e complexidade, mas também em responder
às suas condições limitativas pela transformação em condições de possibilidade
de atingir uma vida consumada
em sua maturidade e florescimento na virtude?
Referências 
1 – Platão, Teeteto, 176a
2 Cf. T. IRWIN, Plato’s
Ethics. Oxford,1995, 3-4. Uma vez que Platão julga que o conheci-
mento só é possível se postulamos as Idéias
para
prover a base do conhecimento, sua resposta à questão epistemológica exige uma resposta às questões metafísicas
sobre as Idéias. Supondo os elementos essenciais sobre
a Teoria das Idéias, remeto às discussões críticas do volume de T. IRWIN (ed.) Classical Philosophy 4: Plato’s Metaphysics and Epistemology. New York-London,1995,
173-302.
3  Por exemplo, a relação com as ações humanas
ditas virtuosas a partir da noção de
prazer no Filebo: Sócrates propõe atingir a verdade naquilo que diz respeito
a assegurar aos homens a vida feliz (cf. Filebo 11d). Cf. também COSENZA, P. (ed.) Il Filebo di Plato- ne
e la sua fortuna. Napoli, 1996.
4 Cf., por exemplo, a analogia entre o ethos e
a ordem universal no Górgias (507 e-508 a) de Platão.
5 Cf. a obra clássica de H. KRÄMER, Arete bei Platon und A
6 Tenho em vista fundamentalmente os seguintes
diálogos: o Político, o
Filebo, o
Timeu e as Leis. Entre os estudos mais significativos sobre a ética platônica (cf. T. IRWIN, Plato’s Moral Theory. The Early and Middle Dialogues.Oxford,1977 (cf. também nota anterior); G. VLASTOS, Socrates: Ironist
and Moral Philosopher. Cambridge,1991; T. IRWIN [ed.] Clas-
sical Philosophy 3:
Plato’s Ethics. New York-London,1995; J. ANNAS, Platonic Ethics, Old and New. Ithaca-London, 1999), não
tem merecido a devida atenção
o sentido “ético” dos diálogos tardios. Daí
a importância de examinar
como se configura a chamada ética “em- pirista” ou descritiva de Platão
em sua última fase de
produção literária.
7  Cf. PLATÃO, República 504 a-505 b; 507 a-509 c. A propósito dessas duas passagens
emblemáticas sobre a Idéia do Bem, cf. M. VEGETTI,
L’Idea del Bene nella Repubblica di
Platone, Discipline Filosofiche 1
(1993) 207-230; R. FERBER, Platos Idee des Guten.Sankt
Augustin,1989, 49-148.
8  Cf. J. ANNAS, Platon, em BRUNSCHWIG, J. & LLOYD, G. (ed.) Le savoir grec. Dictionnaire critique.Paris,1996, 742.
9 É este o enfoque mais realista que dá origem às Leis: IX, 874 e; 713 e; 853 d; 897 d;955 d.
10 Em Platão, as noções de “medida” (metrion) e de “meio-termo” (mesotes) estabelecem a hierarquia das artes (technai) ou dos saberes práticos, que têm por objeto
a própria praxis, hierarquia que culmina na “arte política” (cf. Górgias 521 d). Diferentemente de
Aristóteles, a concepção da techne normativa das ações, para Platão, está ligada estrutu- ralmente
à Teoria das Idéias.
10 Em Platão, as noções de “medida” (metrion) e de “meio-termo” (mesotes) estabelecem a hierarquia das artes (technai) ou dos saberes práticos, que têm por objeto
a própria praxis, hierarquia que culmina na “arte política” (cf. Górgias 521 d). Diferentemente de
Aristóteles, a concepção da techne normativa das ações, para Platão, está ligada estrutu- ralmente
à Teoria das Idéias.
10 Em Platão, as noções de “medida” (metrion) e de “meio-termo” (mesotes) estabelecem a hierarquia das artes (technai) ou dos saberes práticos, que têm por objeto
a própria praxis, hierarquia que culmina na “arte política” (cf. Górgias 521 d). Diferentemente de
Aristóteles, a concepção da techne normativa das ações, para Platão, está ligada estrutu- ralmente
à Teoria das Idéias.
11  Cf. Y. LAFRANCE,
Métrétique, mathématiques et dialectique en
Politique 283 c-285 c, em ROWE, C.J. (ed.) Reading the “Statesman”. Proceeding of the III Symposium Platoni-
cum.Sankt Augustin,1995, 90-94.
12  A título de exemplificação, entre as éticas do Corpus Aristotelicum (Ética a Nicômaco,
Ética a Eudemo e Magna Moralia), privilegio somente
a Ética a Nicômaco. Sobre a relação
desta com as demais éticas, cf. C. MAZZARELLI, Aristotele. Etica Nicomachea. Milano,
1998, 40-44;
P. DONINI, Aristotele. Etica Eudemia. Traduzione, Introduzione e Note. Roma-Bari,1999, V-XIV 
13 ARISTÓTELES , Ética a Nicômaco I,7,
1098 a 16-18.
14 ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco I,6,
1101 a 15-17.
15  Sobre a questão do “bem humano” em Aristóteles, cf. J.M. COOPER, Reason and Hu-
man
Good in Aristotle. Cambridge,1975; R. KRAUT, Aristotle on the Human Good. Prince- ton, 1989.
16 Para uma abordagem sobre a virtude e a felicidade a partir das perspectivas da vulne-
rabilidade e da contingência, cf. M. C. NUSSBAUM, The Fragility of Goodness. Cam- bridge,1988;  N.  SHERMAN,
 The
 Frabric
 of
 Character. Aristotle’s Theory  of  Vir-
tue.Oxford,1989.
17  Sobre
o Cármides, cf. M.’F. HAZEBROUCQ, La folie humaine et ses remèdes. Platon, “Charmide” ou “De la modération”. Paris, 1997.
18 Sobre a analogia técnica na ação moral, cf. D. ROOCHNIK, Of Art and Wisdom. Plato’s Understanding
of Techne. Pennsylvania, 1996
19  Cf. T. IRWIN, Plato’s Moral Theory..., 6-10 et passim; IDEM, Plato. Gorgias. Ox- ford,1979, 134-136.
20 Cf. G. REALE, Gorgia. Traduzione, Introduzione e Commento. Brescia,
1994, 73-75.
21 Cf. G. VLASTOS, Elenchus et
mathématiques: un tournant dans le développement phi- losophique de Platon, em CANTO-SPERBER,
M. (ed.) Les paradoxes de
la connaissance. Essais sur le Ménon de Platon. Paris,1991, 50-80 (retomado em G. VLASTOS,
Socrates. Ironist and Moral Philosopher, 107-131); cf. também I. MUELLER,
Mathematical Method and Philosophical Truth,
em KRAUT, R. (ed.) Plato.Cambridge,1997,
170-199.
22 A definição de arete na
República é modificada
em função da psicologia moral de Platão
que
põe em xeque o “intelectualismo socrático: o conhecimento do bem não fornece sempre por si só uma razão de ser virtuoso
e que é sempre
possível agir irracionalmente
ainda que voluntariamente. Se elementos não-cognitivos estão nas fontes da motivação do agir moral, então é
preciso reformular a noção de “excelência moral”: cada virtude, ou qualidade da alma, é definida como um forma de equilíbrio ótimo estabelecida entre
as avaliações, as emoções, as reações e os desejos próprios à cada parte da alma. Sobre a complexidade da tripartição da alma na República, cf.
os artigos programáticos de J.
M. COOPER, Plato’s Theory of Human Motivation e de M. WOODS, Plato’s
Division of the Soul, em IRWIN, T. (ed.) Classical Philosophy
3: Plato’s Ethics, 97-115.117-141, respecti- vamente. Cf. também S. CAMPESE,
Epithymia/epithymetikon, em VEGETTI,
M. (ed.) Pla-
tone. La Repubblica. Traduzione e commento 3: Livro IV.Napoli,1998, 245-286.
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 Fonte: http://www.puc-rio.br/parcerias/sbp/pdf/3-jorge.pdf
 
 
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