quinta-feira, 12 de março de 2015

A inquieta e atribulada história do tempo presente



O ocaso de uma época talvez seja equivalente a um sorriso que, mesmo manifestando-se, evidencia tristeza. Ou equivalente ainda a um poema que, apesar de ser tecido com fios da vida, em essência, espelha o crepúsculo, o perecer. Ao assinalar que a obra de arte na Era da Reprodutividade Técnica teve a sua aura deteriorada, Walter Benajmin não apenas abriu trilha analítica para demonstrar que ela, a obra, perdeu a sua singularidade, mas também para que se realce que a própria sociabilidade humana é afetada. Este fenômeno foi, atualmente, intensificado com a chamada 'Revolução da Tecnologia da Informação'.  Quando, em princípio dos anos 2000,  em edição lusitana, publiquei um livro sobre as novas tecnologias (aqui: http://livrariautopia.blogspot.com.br/2011/03/leite-ivonaldo-novas-tecnologias.html), tudo ainda estava muito no começo. O que, agora, pode ser considerada a pré-história das redes sociais, tinha representação no mIRC (com o famoso 'tc de onde?'). O referido livro passou ao largo de algo atualmente inquietante: a aceleração do tempo presente, tornando a sua história apressada e atribulada. Tenha-se em conta, por exemplo, o caso brasileiro destes agitados dias que estamos a viver. Até há pouco, os movimentos em função do impeachment da Presidente da República, no melhor dos casos, poderiam ser classificados como anedota de salão. Hoje, a coisa mudou de configuração, e  o governo emite sinais de preocupação, vendo que a possibilidade tornou-se efetiva. A rapidez da comunicação difundida pelos canais propiciados pelas novas tecnologias, as mídias digitais, as redes sociais, etc., aceleraram os acontecimentos de um modo tal que nos faz lembrar o que disse Jean Laucouture a propósito da história do tempo presente, tendo em conta Danton e a Revolução Francesa: "Fazer a história imediata é ser Georges-Jacques Danton levado ao cadafalso, falando ao provo de sua relação com a revolução e explicando o significado da sua morte." Aí está. O ocaso de uma época é equivalente a um poema que, apesar de ser tecido com fios da vida, em essência, espelha o crepúsculo, o perecer.


   

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