Por Luiz Caversan*
‘Pobreza’
e grandeza de espírito: os espíritos inferiores
ressentem-se frequentemente com coisas insignificantes; os espíritos elevados
apercebem-se delas, mas não se ressentem minimamente.
(François de La Rouchefocauld)
Chegaram esses dias pela internet uma sequência de fotos muito
emblemáticas sobre o maremoto na Ásia. Diz o e-mail que são
imagens inéditas, que registram alguns momentos dramáticos, exatamente quando a
fúria da natureza desaba, literalmente, sobre os homens.
Há divergências quanto à autenticidade das fotos; poderiam ser de um
outro evento na região, mas não deixam de ter conexão com o que acaba de
acontecer.
Principalmente uma dessas fotografias, que é particularmente
assustadora. Mostra, em primeiro plano, um grupo de pessoas correndo, algumas
delas rindo, como se aquilo fosse mais uma brincadeira de praia, e logo atrás a
monstruosa massa de água.
A imagem remeteu imediatamente à fragilidade, à pequenez do ser humano
diante da natureza que desde sempre ele, homem minúsculo, tenta domar,
controlar, conduzir. Em vão, como sempre se viu.
Na semana passada, uma revista holandesa ocasionou revolta por conta de
um artigo em que diz nada menos o seguinte: trata-se, o maremoto de milhares de
vítimas, de nada menos que uma punição de Deus. Esse desatino tem sua
"lógica", porque, afinal, diz a tradição cristã que nascemos em
culpa, desde Adão e devemos louvar, sim, a infinita bondade do criador, mas
também temer, sempre e sempre, a sua eventual ira.
Dogmas religiosos à parte, o maremoto, os mais de 150 mil mortos e os
outros tantos que virão por conta das doenças e do desamparo que irão se
suceder, oferecem mesmo uma grande oportunidade de reflexão.
Sobretudo sobre a transitoriedade de tudo o que nos cerca e sobre a
nossa incapacidade de aceitar a condição em que vivemos, seja ela imposta por
Deus ou apenas pela inexorabilidade da evolução de nossa espécie nesse planeta
lindo e instável.
"Carpe diem", sugere o dito latino, aproveite, desfrute o dia,
porque se provavelmente jamais saberemos exatamente de onde viemos, uma certeza
a tsunami nos reavivou: iremos, desta para outra, seja ela qual for, a qualquer
momento, em situações as mais impensáveis.
Há, portanto, a chance que nos resta, de desfrutar a felicidade de olhar
o céu azul e constatar, por exemplo, a beleza do dia, que, sabe-se lá até
quando, podemos desfrutar com alegria e paz.
Sim, vale a pena tentar.
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Jornalista e produtor cultural.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/luizcaversan/ult513u383305.shtml.
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