quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

'Sociabilidade virtual': mau uso das redes sociais e depressão

Abaixo, texto do Portal G1 repercutindo pesquisa realizada nos Estados Unidos sobre o mau uso das redes sociais. Redes sociais, sim, mas sem esquecer da 'sociabilidade real' (direta, presencial) e da boa companhia dos livros. Tem se especializado no assunto a profa. May-Ly Nguyen Steers, do Departamento de Psicologia da Universidade de Houston (EUA). 




Fonte: Portal G1 

A vida na metade de cima do planeta está só começando, e tem muita coisa para ver. Mas, quando não está na faculdade em Nova York, Cláudio Domingues vive no mundo que cabe no bolso.
“É rede social e troca de mensagem, principalmente pra falar com a família e amigos que estão lá no Brasil”, conta o estudante.
Cada descoberta da nova experiência, claro, merece um registro.
“Tem gente que deve me achar exibido nas redes sociais, mas tem gente que é meu amigo e gostaria de ver as coisas que eu estou postando”, diz Claudio. 

Em dez anos, as redes sociais arrebataram um terço do planeta. Hoje, são mais de dois bilhões de contas - quase cem milhões só no Brasil. A gente passa quase quatro horas por dia plugado, bem mais do que os americanos e do que a média mundial. E o que as pessoas veem? Elas dizem que gostam de fotos e vídeos, de saber da vida dos amigos e de dar risada.

Com o telefone na mão, Camila caça coisas interessantes para abastecer duas contas: uma pessoal e outra da empresa, que organiza passeios pra brasileiros em Nova York.
Ela dá dicas de restaurantes, lojas da moda, aquele barzinho mais descolado.
“Do mais pacato ao mais interessante, o que é a vida da Camila em Nova York. É como todo mundo tivesse seu reality show”, brinca Camila Santos, consultora.
E assim, o dia-a-dia de Camila vai sendo curtido à distância. Um espetáculo para mais de dois mil seguidores.
Camila: É legal você ver alguém comentando, ‘ah gostei disso’, ‘que roupa bacana’, ‘que estilo legal’. Me sinto bem, acolhida.
A diferença de exposição é impressionante. Antes, a vida de cada um ficava restrita às pessoas mais próximas - a família, os amigos, os vizinhos do bairro. Hoje os espectadores podem ser o mundo inteiro. Mas quantos realmente são seus amigos? Será que isso sempre traz mais felicidade?
Na maior rede social, cada usuário tem em média 350 seguidores. Lauren tem três vezes mais. Fã de celebridades, ela passava até uma hora e meia por dia conectada. 
"Tem muita gente que te incentiva, você conhece pessoas que jamais conheceria", conta Lauren. 
Mas há dois meses, Lauren decidiu dar um tempo, porque começou a se sentir triste. 
"Muitas pessoas publicam coisas só pra parecerem bem. Usam as redes sociais pra se promover. E aí você começa a se comparar. Eu passei a ficar deprimida. Isso, sem falar que você fica sempre esperando uma curtida, que as pessoas gostem de você", explica.

A modelo australiana Essena O'neill apagou o perfil dela nas redes sociais justamente por isso. “Tudo que fazia era editado para ter mais valor, mais seguidores, mais curtidas”, a modelo disse em um vídeo. E foi mais longe: resolveu revelar o que estava por trás de cada foto publicada.
No dia em que tirou uma das fotos, ela diz que quase não comeu. Foram mais de cem cliques até ficar com a barriga do jeito que queria. “Ter tudo nas mídias sociais não significa nada na vida real”, afirma Essena.
Uma pesquisa com universitários, publicada pela Associação Americana de Psicologia, constatou a possibilidade de tristeza e depressão pelo mau uso das redes sociais.
Da pose perfeita para a comida, àquele momento ‘eu sou mais eu’. “Tudo isso cria muita ansiedade”, diz a psicóloga Carolyn Alroy. 

"Nas redes sociais, é como se estivesse acontecendo sempre uma festa e você não tivesse sido convidado. A gente nunca vê a história completa das pessoas, só uma parte dela. Temos de ter a consciência que a vida de todo mundo às vezes é divertida, e às vezes difícil", afirmou a psicóloga. 

Ver só as vidas editadas é o preço da comodidade, de ter tantos amigos com um clique. Os de verdade mesmo, o tempo diz quem são.


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