Por Ana Marcarini
Faz
parte da nossa natureza a falta de jeito para interpretar os sinais do outro.
Até mesmo porque, muitas vezes, os sinais são confusos mesmo. Diante do
enfrentamento de situações dolorosas podemos ficar arredios, agressivos e
difíceis de conviver. Ou podemos optar pela quietude do isolamento, a fim de
purgar o que dói, interpretar os sentimentos e buscar saídas. Ainda há aqueles
que disfarçam tão bem, mas tão bem, que passam a impressão de serem
insensíveis, donos de corações de pedra, verdadeiros icebergs humanos.
O
fato é que o sofrimento é algo extremamente pessoal. Não somos capazes de
experimentar as sensações alheias. Podemos, no máximo, imaginá-las, supô-las ou
fantasiá-las. No entanto, precisamos respeitá-las. Ainda que imaginemos ter o
direito, não devemos julgá-las; não é lícito avaliar se a maneira do outro
lidar com as mazelas da vida é exagerada, distante ou inadequada. O sofrimento
do outro é sim da nossa conta, o que ele faz com ele não. Mas, como somos
criaturas muito estranhas, fazemos tudo ao contrário: não movemos uma palha
para atenuar a dor e, ainda, achamos que somos capacitados para criticar.
A
perda de uma pessoa amada é das experiências mais dolorosas, significativas e
transformadoras a que somos submetidos em nossa travessia pela vida; seja porque
não fomos capazes de cultivar a reciprocidade do amor; seja porque ela optou
por partir e ter uma vida longe de nós ou ainda, e mais definitivo, porque ela
está perdendo a vida e a morte está prestes a visitá-la.
Diante
da morte, vemo-nos confrontados com inúmeras certezas, incertezas e confusões
particulares. Somos levados a questionar o que temos feito com o nosso tempo.
Ficamos mais receptivos a demonstrações de interesse e afeto. Passamos a
funcionar num modo de economia de energia; pequenos compromissos nos escapam; o
mundo em volta parece girar em descompasso com o nosso ritmo. O que antes, nos
parecia natural e tolerável, passa a incomodar. Estamos à flor da pele; tudo
pesa mais; fere mais; e faz menos sentido. E, quando finalmente chegamos àquele
momento do dia em que nos é permitido tomar um banho, cuidar das necessidades
básicas pessoais e encontrar algum repouso, o corpo está exausto; mas a mente,
triste e inquieta vem conversar conosco; e a conversa é longa, lenta e
complexa.
Assistir
alguém que amamos concluir sua trajetória, ou estar exposto ao risco iminente
do fim, faz brotar de dentro da nossa alma uma versão de nós que parece ter
sido esculpida e reservada para ocasiões especiais. É uma espécie de traje a
rigor para eventos de grande importância. E, assim, como aquele traje que se
usa em situações de festa e comemoração, a versão destinada a fases de risco, é
desconfortável, incômoda e nada prática. O sofrimento, embora visceral, é
extremamente complexo. Muitas vezes, a despeito de estarmos em carne viva por
dentro, não conseguimos externar o que sentimos, até as lágrimas nos abandonam
diante da secura que nos vai na alma. Viramos desertos, repletos de dunas
mutantes a representar nossas ondulações de humor.
No fundo, nenhum de nós está pronto ou minimamente preparado para dizer adeus. Sonhamos com um até breve; alimentamos o desejo de que a vida possa continuar existindo em outro plano. Quem sabe assim possamos encontrar sentido quando alguém nos disser “partiu porque precisava descansar”; “parou de sofrer”; está melhor do que nós”. De verdade, quem está doendo de saudade, prévia ou consumada precisa muito menos de palavras do que de algo mais concreto e palpável. É difícil mesmo encontrar o que dizer quando o outro parece estar sendo tragado por um oceano de tristeza bem ali na nossa frente. Então, quando faltarem as palavras, use os braços. Aninhe, acolha, proteja, sirva de colo ou de escudo. Não há dor que não possa ser aliviada. Não há sofrimento que ignore a força de um afeto generoso e sincero. Ofereça o que você tem de mais bonito, a sua capacidade de diluir tristezas na bênção de um longo, amoroso e paciente abraço.
No fundo, nenhum de nós está pronto ou minimamente preparado para dizer adeus. Sonhamos com um até breve; alimentamos o desejo de que a vida possa continuar existindo em outro plano. Quem sabe assim possamos encontrar sentido quando alguém nos disser “partiu porque precisava descansar”; “parou de sofrer”; está melhor do que nós”. De verdade, quem está doendo de saudade, prévia ou consumada precisa muito menos de palavras do que de algo mais concreto e palpável. É difícil mesmo encontrar o que dizer quando o outro parece estar sendo tragado por um oceano de tristeza bem ali na nossa frente. Então, quando faltarem as palavras, use os braços. Aninhe, acolha, proteja, sirva de colo ou de escudo. Não há dor que não possa ser aliviada. Não há sofrimento que ignore a força de um afeto generoso e sincero. Ofereça o que você tem de mais bonito, a sua capacidade de diluir tristezas na bênção de um longo, amoroso e paciente abraço.
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Fonte: http://www.contioutra.com/
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