terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O social nas 'ondas sonoras do jazz'

Em período pré-festival de jazz do agreste de Pernambuco (a decorrer em Gravatá) e em tempos de leituras de férias, vai aí uma breve recensão do livro 'História Social do Jazz', do historiador Eric Hobsbawm. 



Por Rogério Santos

O autor divide o livro em quatro partes: 1) história, 2) música, 3) negócios, e 4) gente. O autor alia grande conhecimento da história do jazz e bela escrita literária, jogando com estilos e linguagens musicais, instrumentos, tipos de pessoas e ambientes sociais muito diversos. Na última parte, faz considerações de ordem ideológica: o jazz como protesto social e o jazz como afirmação contra a opressão política da classe dominante.
Surgido como forma musical reconhecível por volta de 1900, Hobsbawm vê o seu “grande despertar” na mescla de música europeia e africana, de inspiração religiosa, em direção a New Orleans. Outros dois fatores são determinantes de sua evolução histórica: o aparecimento do entretenimento profissional dos trabalhadores pobres e o crescimento das grandes cidades.
Hobsbawm divide, grosso modo, a história do jazz em quatro tempos, cuja periodização corresponde à estrutura tripla pré-história, expansão e transformação:
1) pré-história, de 1900 a 1917, quando se torna a música negra em todos os Estados Unidos (ragtime sincopado),
2) tempo antigo, de 1917 a 1929, em que o jazz strictu sensu se expandiu pouco, mas sua reinterpretação evoluiu muito.
3) tempo médio, de 1929 a 1941, conquista de públicos minoritários na Europa e amplos nos Estados Unidos com músicos avant-garde (swing), e
4) tempo moderno, a partir de 1941, quando se dá a verdadeira internacionalização e aceitação de linguagens puras (bop ou cool).
A partir de 1920, as empresas produtoras de discos passam a achar que valia a pena a gravação exclusiva para o mercado composto por negros. Nesse sentido, o jazz, além de ser forma de fazer música, também é forma de obter lucros. Combinando entretenimento comercial, realizado por artistas profissionais contratados por empresários, com venda de ingressos e vendas de discos, esses fatores econômicos são determinantes no movimento da arte e do destino dos artistas.
Ao mesmo tempo, Hobsbawm analisa dois momentos diferentes na conduta dos músicos: o espetáculo comercial, para ganhar dinheiro, e a reunião espontânea de músicos, após os concertos (after hours), onde têm liberdade de movimentos e se ouvem uns aos outros. Nessas jam sessions, não necessitam tocar estereótipos, ou seja, o tipo de música que o público quer ouvir.
Linguagem de dança moderna e música popular da civilização industrial, o jazz tem, na perspectiva do autor, cinco características principais:
1) peculiaridades quanto ao uso de escalas originárias da África ocidental,
2) ritmo africano,
3) instrumentais e vocais próprias com poucas cordas e muitos metais e madeiras,
4) formas musicais e repertório específicos (blues, balada, etc.), e
5) música de executantes (e menos de compositor).
O jazz, segundo Hobsbawm, foi sempre objeto de interesse de minoria de aficionados, de modo semelhante ao da música clássica, mas a repercussão junto dos fãs nunca se estabilizou como na música erudita. Esta instabilidade talvez tenha sido devido à ascensão do rock, tipo de música com o qual o jazz estabeleceu relações de inter-influência. Mas o público do rock superou largamente o do jazz, devido à inovação tecnológica, como o uso da música eletrônica na guitarra, o microfone individual, o sintetizador, ao ritmo insistente e palpitante, e à ideia de conjunto ou banda. O rock parte de uma unidade coletiva, ao passo que o jazz é um agrupamento de individualidades que se expõem em solos.
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Fonte: http://industrias-culturais.blogspot.com.br/


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