Em período pré-festival de jazz do agreste de Pernambuco (a decorrer em Gravatá) e em tempos de leituras de férias, vai aí uma breve recensão do livro 'História Social do Jazz', do historiador Eric Hobsbawm.
Por Rogério Santos
O autor divide o livro em quatro
partes: 1) história, 2) música, 3) negócios, e 4) gente. O
autor alia grande conhecimento da história do jazz e bela escrita literária,
jogando com estilos e linguagens musicais, instrumentos, tipos de pessoas e
ambientes sociais muito diversos. Na última parte, faz considerações de ordem
ideológica: o jazz como protesto social e o jazz como afirmação contra a
opressão política da classe dominante.
Surgido
como forma musical reconhecível por volta de 1900, Hobsbawm vê o seu “grande
despertar” na mescla de música europeia e africana,
de inspiração religiosa, em direção a New Orleans. Outros dois fatores são
determinantes de sua evolução histórica: o aparecimento do entretenimento
profissional dos trabalhadores pobres e o crescimento das grandes cidades.
Hobsbawm
divide, grosso modo, a história do jazz em quatro tempos, cuja
periodização corresponde à estrutura tripla pré-história, expansão e transformação:
1) pré-história,
de 1900 a 1917, quando se torna a música negra em todos os Estados Unidos (ragtime sincopado),
2) tempo
antigo, de 1917 a 1929, em que o jazz strictu
sensu se expandiu
pouco, mas sua reinterpretação evoluiu muito.
3) tempo
médio, de 1929 a 1941, conquista de públicos minoritários na
Europa e amplos nos Estados Unidos com músicos avant-garde (swing), e
4) tempo
moderno, a partir de 1941, quando se dá a verdadeira
internacionalização e aceitação de linguagens puras (bop ou cool).
A
partir de 1920, as empresas produtoras de discos passam a achar que valia a
pena a gravação exclusiva para o mercado composto por negros. Nesse sentido, o
jazz, além de ser forma de fazer música, também é forma de obter lucros.
Combinando entretenimento comercial, realizado por artistas profissionais
contratados por empresários, com venda de ingressos e vendas de discos, esses
fatores econômicos são determinantes no movimento da arte e do destino dos
artistas.
Ao
mesmo tempo, Hobsbawm analisa dois momentos diferentes na conduta dos músicos:
o espetáculo comercial, para ganhar
dinheiro, e a reunião
espontânea de músicos, após os concertos (after hours), onde têm
liberdade de movimentos e se ouvem uns aos outros. Nessas jam sessions,
não necessitam tocar estereótipos, ou seja, o tipo de música que o público quer
ouvir.
Linguagem
de dança moderna e música popular da civilização industrial, o jazz tem, na perspectiva do autor, cinco
características principais:
1)
peculiaridades quanto ao uso de escalas originárias da África ocidental,
2)
ritmo africano,
3)
instrumentais e vocais próprias com poucas cordas e muitos metais e madeiras,
4)
formas musicais e repertório específicos (blues, balada, etc.), e
5)
música de executantes (e menos de compositor).
O jazz,
segundo Hobsbawm, foi sempre objeto de interesse de minoria de aficionados, de
modo semelhante ao da música clássica, mas a
repercussão junto dos fãs nunca se estabilizou como na música
erudita. Esta instabilidade talvez tenha sido devido à ascensão
do rock, tipo de música
com o qual o jazz estabeleceu relações
de inter-influência. Mas o público do rock superou largamente o do jazz,
devido à inovação tecnológica, como
o uso da música eletrônica na guitarra, o microfone individual, o sintetizador,
ao ritmo insistente e palpitante, e à ideia de conjunto ou banda. O rock parte de uma
unidade coletiva, ao passo que o jazz é um
agrupamento de individualidades que se expõem em solos.
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Fonte: http://industrias-culturais.blogspot.com.br/
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