Tem circulado, nos
últimos dias, uma interpretação de Paul Tillich a propósito do 'estado
solitário e sozinho' que é um verdadeiro acinte ao pensamento do autor. Quem
compartilha, nas redes sociais, certas coias deveria se certificar melhor sobre
o que está repassando (principalmente se é docente). Ora exclui-se o que Tillich entende por solitude, ora funde-se o solitário e o sozinho como 'uma espécie de tragédia' e, por
vezes, paradoxalmente, apresenta-se, em nome do existencialismo, estes
dois estados como 'dado ontológico' para 'efetivamente realizar a existência
humana'. Como se fosse possível 'realizar a existência' sem interação, sem
companhia, sem compartilhar os sentimentos dessa existência. Mais grave ainda é
se apresentar isso como versão do existencialismo. A imagem de uma pessoa isolada,
sem ter com quem dialogar/dizer as suas confidências, sem ter a quem falar as
últimas palavras no leito de morte, é o reflexo de alguém de uma vida
amargurada e incapaz de estabelecer/sustentar relações - isso em nada tem a ver com existencialismo. Para início de conversa, em The Eternal
Now ('O Eterno Agora'),
Tillich afirma: "Langauge has created
the word ‘loneliness’ to express the pain of being alone. And it
has created the word ‘solitude’ to express the glory of being alone (algo como,
em tradução direta e sintética: a linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho.
E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar
sozinho). Do ponto de vista etimológico, em língua portuguesa, solidão e solitude têm raiz no latim solitudine.
A questão é que, de modo geral, se coloca de parte o significado da
palavra solitude presente na raiz latina solitudine (ou até mesmo se desconhece a referida dupla perspectiva). Vale então uma leitura, no original, do vasto trabalho de
Paul Tillich.
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