sábado, 23 de janeiro de 2016

O eterno agora: sozinho, solitário, solitude

  
Tem circulado, nos últimos dias, uma interpretação de Paul Tillich a propósito do 'estado solitário e sozinho' que é um verdadeiro acinte ao pensamento do autor. Quem compartilha, nas redes sociais, certas coias deveria se certificar melhor sobre o que está repassando (principalmente se é docente). Ora exclui-se o que Tillich entende por solitude, ora funde-se o solitário e o sozinho como 'uma espécie de tragédia' e, por vezes, paradoxalmente, apresenta-se, em nome do existencialismo,  estes dois estados como 'dado ontológico' para 'efetivamente realizar a existência humana'. Como se fosse possível 'realizar a existência' sem interação, sem companhia, sem compartilhar os sentimentos dessa existência. Mais grave ainda é se apresentar isso como versão do existencialismo. A imagem de uma pessoa isolada, sem ter com quem dialogar/dizer as suas confidências, sem ter a quem falar as últimas palavras no leito de morte, é o reflexo de alguém de uma vida amargurada e incapaz de estabelecer/sustentar relações - isso em nada tem a ver com existencialismo. Para início de conversa, em The Eternal Now ('O Eterno Agora'), Tillich afirma: "Langauge has created the word ‘loneliness’ to express the pain of being alone. And it has created the word ‘solitude’ to express the glory of being alone (algo como, em tradução direta e sintética: a linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho). Do ponto de vista etimológico, em língua portuguesa, solidão e solitude têm raiz no latim solitudine. A questão é que, de modo geral, se coloca de parte  o significado da palavra solitude presente na raiz latina solitudine (ou até mesmo se desconhece a referida dupla perspectiva). Vale então uma leitura, no original, do vasto trabalho de Paul Tillich.  



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