Parte dos meios intelectuais
do país foi tomado pela polêmica em torno do professor Leandro Karnal, após ele
postar em rede social uma fotografia de um jantar em Curitiba ao lado do juiz
Sérgio Moro e de outro magistrado. Na postagem celebra o encontro e o vinho.
Pela postura que vinha mantendo e até pelo que já disse sobre o juiz da Lava
Jato (comparou-o, por exemplo, ao desastre do presidente Collor), as reações de
seguidores seus no facebook foi dura, muito dura, seguindo-se diversos outros
artigos críticos. Bom, ele tem o direito de jantar com quem quiser e
celebrar os vinhos que lhe aprouver - se cabernet sauvignon, malbec, carmere ou
merlot, arrematando o jantar com um porto de honra, pouco importa. É algo da
esfera privada. Não é pauta para o debate público. De igual modo, as suas
qualidades intelectuais não deixaram de existir depois do fato. A crítica que
pega essa via - e há quem vá por aí - não chega a lugar nenhum. O que o
episódio traz a lume é outra matéria. Trata-se daquilo que uma certa sociologia
de raiz francesa chamou de 'intelectuais midiáticos'. Já não fazem propriamente
análises, nem problematizam o mundo social. Transformaram-se em opiniáticos,
comentaristas de todos os assuntos e de nada. Em alguns contextos
universitários, o subproduto disso pode ser denominado de caça microfone e
auditório. O mercado desses intelectuais midiáticos tem sido promissor: venda
de palestras (algumas que beiram autoajuda), consultorias e contratos com
jornais e canais de televisão. Qual independência terão para analisar o papel
da mídia? Nenhuma. São pautados por ela. O professor Karnal tem colocado um pé
nessa canoa, e faz uma gestão milimétrica do marketing de sua imagem. A foto de
Curitiba talvez não seja mera casualidade. Que tipo de consequência tem para a
inteligência nacional a existência de intelectuais midiáticos é algo a se
pensar. E, a rigor, isso não tem a ver propriamente com Karnal. É um fenômeno
mais amplo e complexo. Até porque existem outros supostos intelectuais que têm
desempenhando um papel bem mais ultrajante. Em 2011, em França, Pascal Boniface
(Universidade de Paris VIII) publicou um livro de impacto sobre o assunto. Foi o Les intellectuels faussaires: Le triomphe médiatique
des experts en mensonge - 'Os
intelectuais farsantes: o triunfo midiático dos especialistas em mentira'
(reprodução da capa aí acima). Afirma ele que os referidos são farsantes
que fabricam a falsa moeda intelectual para garantir seu triunfo sobre o
mercado da convicção, não se distinguindo muitas vezes as fronteiras entre
farsantes e mercenários. São mercadores de ilusão, mas, mesmo o espetáculo sendo um embuste, o seu show não é
livre.