A
lista da Odebrecht e demais empreiteiras está gerando duas estratégias do
chamado fogo de encontro.
A
primeira, o contragolpe de Michel Temer, para impedir sua cassação, com duas
etapas bastante nítidas.
Primeiro,
a imprensa solta um conjunto de reportagens tentando construir um clima de
otimismo. Depois, martela-se na tecla que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
não poderia impichar Temer para não expor o país a nova crise política e
econômica.
A
segunda estratégia em andamento é a do PSDB paulista – que tem dois notáveis
nas delações (José Serra e Geraldo Alckmin). Consistirá em encontrar um bode
expiatório no Tribunal de Contas do Estado (TCE), repetindo a estratégia de
despiste do caso Alstom.
Peça
1 – o fator Temer
Primeiro,
analisemos Temer.
O
nome da crise é Temer e sua saída é condição necessária para tentar se recompor
minimamente o tecido social e político e sair da crise.
Argumento
1 – o governo Temer é essencialmente corrupto
A
esta altura, nem mesmo cegos políticos duvidam das vulnerabilidades morais do
governo Temer. Montou um Ministério coalhado de políticos suspeitos, empenhados
em fazer negócios rapidamente, ao preço do desmonte de políticas públicas
arduamente construídas no período da redemocratização.
Argumento
2 – por sua ficha, Temer está sujeito a chantagens
O
próprio Temer é um político marcado para morrer politicamente. A dúvida é se
será antes ou depois de terminar o governo. Como deputado, comandou a mais
suspeita organização de deputados que passou pelo Congresso
pós-redemocratização – Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco e
Eduardo Cunha.
No
exercício da presidência, Temer abrigou no governo – na condição de assessores
especiais – dois empresários com os quais provavelmente mantém relações de
negócios: José Yunes e Sandro Mabel.
As
inúmeras ilegalidades cometidas ao longo de sua carreira política o expõem a
toda sorte de chantagens. Depois que ameaçou revelar algumas delas, Eduardo
Cunha voltou a ter influência no governo, conseguindo nomear lugares-tenentes
para cargos chaves, conforme denúncia do presidente do Senado Renan Calheiros..
Não
apenas isso. Os Yunes – pai e filho – se meteram em um rosário de offshores em
paraísos fiscais, e possivelmente estão enredados nos esquemas de captação de
recursos de Temer, conforme a delação do ex-diretor da Odebrecht – que apenas
tangenciou as relações comerciais do grupo.
É
uma série de bombas-relógio que irão explodindo ao longo dos próximos meses.
Argumento
3 – reformas e falta de legitimidade
O
fato de Temer ser politicamente pequeno e moralmente vulnerável coloca em xeque
todas as maldades planejadas contra os contribuintes. Como empurrar goela
abaixo da população a reforma da Previdência e a reforma trabalhista, sob o comando
de um presidente ilegítimo e moralmente vulnerável?
Só
um completo sem noção alegará, como fez Temer, que sem a reforma da Previdência
todas as políticas sociais ficarão comprometidas. Ora, a Previdência – com sua
parte de assistência social – é a maior rede social do país, a viga mestre das
políticas sociais.
Argumento
4 – reformas e economia
A
ideia de que a aprovação das reformas imediatamente despertará os investidores
é falsa por vários motivos. Nenhum investidor de longo prazo considerará
consolidadas reformas draconianas impostas por uma coalizão de força em um
momento específico da história – a não ser que se aposte que o Estado de
exceção é irreversível.
Além
disso, a estratégia de desmonte do Estado nacional, perpetrada pela equipe
econômica, deixou a economia sem nenhum fator de recuperação – nem demanda das
famílias, nem novos investimentos privados. O papel contra cíclico dos gastos
fiscais foi deixado de lado devido às posições eminentemente ideológicas da
equipe econômica.
Peça
2 – o fator PSDB de São Paulo
No
domingo, a Folha cometeu outra pós-verdade na manchete principal: “Andrade
Gutierrez diz que subornou o Tribunal de Contas de SP” (https://goo.gl/CfvoAD).
Os
autores da reportagem são sérios. O prato feito que receberam, dificilmente.
A
reportagem criou a figura de um suposto candidato a delação premiada. Ou seja,
nem delator é, logo não pode ser identificado.
O
candidato a delator, suposto executivo da Andrade Gutierrez, informou que
subornava um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) que, por sua
vez, repassava a propina para seus colegas, para fechar os olhos às
irregularidades dos contratos.
A
estratégia foi utilizada com muito sucesso no caso Alstom. Denunciou-se um
conselheiro, Robson Marinho, que havia sido Chefe da Casa Civil do governo
Covas. O escândalo perpassou os governos Alckmin e Serra. Nas denúncias do
Ministério Público Estadual e no Federal, não havia a figura de nenhum
político, apenas funcionários de segundo e terceiro escalão e o conselheiro
Robson Marinho.
No
caso do MPF, a maneira como escondeu os políticos tucanos foi escandalosa, com
o procurador Rodrigo De Grandis evitando atender aos pedidos do Ministério
Público suíço, apesar de cobrado pelo Ministério da Justiça. A maneira como a
corregedoria do MPF o absolveu comprovou de maneira enfática a partidarização
do poder.
Agora,
quando as delações chegam novamente nos políticos paulistas, cria-se uma
denúncia em cima de um conselheiro, Eduardo Bittencourt de Carvalho, há 6 anos
afastado do TCE. Bittencourt era um aplicado tucano que em 2002 adquiriu os
bois da fazenda de Fernando Henrique Cardoso por preço de gado inglês.
Foi
afastado do TCE por suspeita de enriquecimento ilícirto, mas jamais foi
influente junto aos seus pares. E jamais poderia ser personagem central dos
escândalos da Andrade Gutierrez no estado. Afinal, para conseguir contratos
irregulares o suposto candidato a delator tratou provavelmente com Paulo Preto,
com autorização de José Serra e Geraldo Alckmin. A parte de Bittencourt foi
menor: apenas fechar os olhos para a maracutaia.
Peça
3 – aguardando a lista
Nos
próximos dias certamente haverá novos movimentos visando blindar políticos do
PSDB. Gilmar Mendes transformou-se no melhor advogado com que o PSDB e Temer
poderiam contar.
No
entanto, a soma de vazamentos envolvendo Serra e Aécio assumiram tal dimensão
que mesmo o tíbio Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot
provavelmente não terá alternativa a não ser citá-los nas denúncias que
encaminhará logo mais ao Supremo.
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Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-tse-temer-e-os-bodes-expiatorios. Título original: 'Xadrez do TSE, Temer e os bodes expiatórios'.