No século XIX, Goethe esboçou a ideia de uma literatura
mundial. Nesta, com bem lembra Nelson Ascher, os escritores seriam
reconhecidos de acordo com os seus méritos, independentemente de suas origens
nacionais. O grande obstáculo para a concretização disso é, sem dúvida, a
multiplicidade de línguas. Quem se comunica, sobretudo, em idiomas com inglês,
francês e espanhol, tem mais possibilidade de alcançar leitores em todo o
planeta. É diferente para quem usa uma das outras milhares de línguas, como seria o caso de um romancista
tibetano ou um de contista etíope. Terá de chamar a atenção para despertar o
interesse do mercado tradutor. É assim que se explica, penso eu, o desconhecimento da
obra do húngaro Atilla József. A Hugria, um país de cerca de dez milhões de
habitantes, tem nele um dos seus principais literatos, um poeta de primeira
grandeza. Enfrenta, contudo, a barreira da língua. Vai aí abaixo o seu poema ‘Everything is old’,
vertido da língua húngara (magyar) para o inglês por Peter Hargitai. Qualquer coisa como a janela dos dias que nos passam.
Estátua de Atilla József em Budapeste |
Everything is old here. The ancient storm
Leans on the lightning’s crooked shoulder
and whistles at the thorn-whiskered rose.
They hobble on bad feet
Everything is gold. The revolution
squats, coughing on sharp
scattered
stones, a coin shines
in his bony hands: my favorite song.
Why isn’t my hand transparent-old,
so that, touching a wrinkle on my face,
it would fall into my lap? They would
believe: tears roll from my eyes.
O my youth! My saintly lust!
Fish swarm in the net of twilight,
Frog spawn curdles in the dust