quarta-feira, 8 de março de 2017

A Síndrome do Pequeno Poder

A partir de uma perspectiva psicossociológica, pode-se dizer que essa é uma Síndrome com muitas faces e disfarces. Por vezes, inclusive, se esconde por trás de falsas posturas de humildade, de diálogo e de defesa da liberdade. Busca-se, assim, ocultar o permanente desejo de aparecer. A necessidade de uma sala de espelhos.  Da incompetência que lhe nutre, geralmente, resvala-se para o autoritarismo. Abordá-la analiticamente permite delinear um panorama demarcando o que é autoritarismo e o que é poder-autoridade, algo nascido do conhecimento, resultado saudável de uma 'biografia autoral'. A Síndrome do Pequeno Poder tem, infelizmente, se multiplicado cotidianamente.  Aí abaixo um texto a respeito. 




Por Ana Marcarini
(Mestre em Disfunções Linguísticas) 

A Síndrome do Pequeno Poder é um transtorno de comportamento individual que mina as relações sociais e pode esfacelar qualquer chance de estabelecimento de convivência, em detrimento da satisfação de um indivíduo arrogante e abusivo.
Pessoas acometidas por essa Síndrome costumam ter autoestima extremamente prejudicada, sendo levadas a ter a necessidade de humilhar o outro na tentativa de cessar um sentimento de menos valia. Diminui-se o outro para se sentir maior.
Esses indivíduos costumam viver inseridos em ambientes dentro dos quais não encontram lugar, sentem-se inferiores e, por causa disso, reagem agressivamente contra qualquer um que possa representar o mínimo questionamento à sua “autoridade”.
Autoridade é um bem que se conquista. É fruto do reconhecimento a uma habilidade desenvolvida, a um esforço empenhado, a um desempenho de papéis que explicita a competência. Autoridade depende da anuência do entorno.
Já o autoritarismo é outra coisa. É a instauração de um poder à força. É a atitude agressiva que busca subjugar o outro. O autoritarismo nasce da incompetência, da falta de recursos para administrar conflitos.
Lidar com uma pessoa tomada pela Síndrome do Pequeno Poder é dificílimo. Essas pessoas têm uma enorme dificuldade em estabelecer limites de convivência. Uma vez que ela tenha enxergado no outro uma ameaça ao seu suposto poder, ela não medirá ações ou modos para fazer valer a sua ilusória “autoridade”.
O poder verdadeiro emana do saber. Quanto mais sabemos sobre algo mais poder teremos sobre isso. E tudo o que estiver envolvido nesse saber depende do caráter ético e moral de quem o possui. Depende. Depende da importância social daquilo que se sabe, do que vai ser feito com esse saber; depende, ainda, de como e com quem esse conhecimento será partilhado.
As relações de poder na atualidade constroem-se a partir de uma rede complexa de relações. O modelo de hierarquia sólida, que já funcionou tão bem em outros momentos históricos anteriores, hoje não funciona mais. Ainda bem! E o indivíduo com visões distorcidas de poder não conta com recursos para perceber e gerir essa mobilidade.
O conhecimento foi incrivelmente democratizado, graças ao desenvolvimento tecnológico. Qualquer pessoa, dotada da capacidade de ler e compreender o que lê, tem acesso a uma infinita variedade de informações, sejam elas relevantes ou fúteis. Nunca foi tão fácil satisfazer uma curiosidade ou interesse de aprendizagem sobre o que quer que seja.
Esse acesso aberto ao conhecimento, no entanto, exige de nós uma dose muito maior de responsabilidade. Hoje precisamos ser agentes das decisões tomadas. O nosso fazer político, por exemplo… de nada nos adianta ter o poder de eleger nossos representantes se ainda teimamos em escolhê-los de forma irresponsável.
Pensando numa esfera institucional menor que o Estado; uma empresa, por exemplo. Em qualquer empresa, ainda que vigore uma estrutura de cooperação, alguém precisa estar em uma posição de mediador das relações; precisa haver um líder que seja responsável por garantir que haja organização, equilíbrio e produtividade. Sem uma liderança que preze por valores e pelas necessidades coletivas, instaura-se o caos.
E, uma vez instaurado o caos, todos ficam à deriva. O individualismo é o caos. Cada um pensando nos próprios interesses é o caos. A nossa natureza exploratória gerou o caos, numa crise ambiental sem precedentes. De tanto brincarmos de algozes, acabamos vítimas de nossa própria ambição desmedida.
Estaria tudo perdido? Não haveria salvação para nossa “raça humana”? Há. E ela está em nossas mãos, mais concretamente do que nunca esteve. Precisamos entender o que representa exatamente esse tamanho poder. Precisamos ressignificar o nosso papel nas relações com o outro e com o mundo.

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Fonte: http://www.contioutra.com