Devemos ao escritor Salman Rushdie a retomada contemporânea da reflexão do grego Heráclito segundo a qual 'o caráter de alguém é o seu destino'. Rushdie é daquelas pessoas que não se importa em pagar o preço que for necessário para dizer a sua palavra. De origem indiana, e oriundo do islamismo, radicou-se na Inglaterra, principalmente após a publicação de um livro em 1989 em que fazia questionamentos ao extremismo muçulmano. O Aitolá Khomeini, líder iraniano, condenou-o à morte, ordenando que era dever de 'todos os muçulmanos zelosos' procurar assassiná-lo. Rushdie viu-se forçado a viver no anonimato, e sobreviveu (ou tem sobrevivido). Agora tematiza sobre o caráter, o "ontológico conexo", o romance, a relação com a literatura. É uma matéria instigante. Já foi dito que há um espelho mental do qual ninguém escapa. Pode então refletir o que ensombreia o destino referido por Heráclito. Desvios de caráter. Deformação da personalidade. O peso da consciência refletida. Certa feita Leont Etiel escreveu sobre uma parte oculta do mundo interior individual, que é uma caixa de refúgio (consciente, ao invés do inconsciente de Freud), sendo ela observada, por vezes, em breves operações mentais mediante os incontroláveis movimentos do pensamento. Mas ela não é aberta, pois 'há perfumes tão sutis que, uma vez abertos os vasos que os contêm, quase instantaneamente eles se dissipam pela atmosfera. Fogem ao controle de quem abriu os vasos.' Isso, contudo, não retira o espelho mental do seu lugar, ele continua a postos. Pegando "veredas analíticas" parecidas com essas, com uma outra perspectiva, Ezio Bazzzo foi adiante e escreveu 'As sutilezas do mau caratismo'. Salman Rushdie, por sua parte, diversifica os ares, e pergunta-se: o que acontece quando o tipo de pessoa que você é não determina a vida que você tem? A propósito, vale conferir o vídeo dele aí abaixo.