A REPETIÇÃO DO INFINITO
Por Leont Etiel
No vislumbre do horizonte
imaginado, a presença da assertiva borgiana a cravar a história da eternidade: “o número de todos os átomos que
compõem o mundo é, embora descomunal, finito, e só capaz, como tal, de um
numeroso finito (embora também descomunal) de permutações. Num tempo infinito,
o número das permutações possíveis deve ser alcançado, e o universo tem de se
repetir. Novamente nascerás de um ventre, novamente crescerá teu esqueleto,
novamente chegará esta mesma página às tuas mãos iguais, novamente percorrerás
todas as horas até a de tua morte incrível."
Uma biografia da duração em detrimento da história como sucessão
temporal, como uma fase de vida suplantando outra, levando a suplantada ao
museu do esquecimento – engano de percepção.
A presença da permanência que a aparência do movimento oculta - o substancialmente essencial que ele carrega. A
insuficiência da paisagem nova para encobrir as camadas das paisagens
anteriores. Ao fim dos seus dias, em longas caminhadas pelas ruas de Buenos
Aires, Borges deu expressão ao que a sua pena apontou em Historia de la Eternidad. O momento que permanece. A imagem que
fica. A definição de eternidade: o sentido do instante de saudade. A repetição
do infinito.