domingo, 5 de março de 2017

As ruas de Borges e a definição de eternidade: o sentido do instante de saudade

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A REPETIÇÃO DO INFINITO

Por Leont Etiel

No vislumbre do horizonte imaginado, a presença da assertiva borgiana a cravar a história da eternidade: “o número de todos os átomos que compõem o mundo é, embora descomunal, finito, e só capaz, como tal, de um numeroso finito (embora também descomunal) de permutações. Num tempo infinito, o número das permutações possíveis deve ser alcançado, e o universo tem de se repetir. Novamente nascerás de um ventre, novamente crescerá teu esqueleto, novamente chegará esta mesma página às tuas mãos iguais, novamente percorrerás todas as horas até a de tua morte incrível." 
Uma biografia da duração em detrimento da história como sucessão temporal, como uma fase de vida suplantando outra, levando a suplantada ao museu do esquecimento – engano de percepção.
A presença da permanência que a aparência do movimento oculta - o substancialmente essencial  que ele carrega. A insuficiência da paisagem nova para encobrir as camadas das paisagens anteriores. Ao fim dos seus dias, em longas caminhadas pelas ruas de Buenos Aires, Borges deu expressão ao que a sua pena apontou em Historia de la Eternidad. O momento que permanece. A imagem que fica. A definição de eternidade: o sentido do instante de saudade. A repetição do infinito.