Causa "estranheza", para dizer o mínimo, no contexto universitário, relatos de que trabalhos discentes ora não são devolvidos, ora não se faz nenhuma observação em relação ao que os alunos escreveram, ora não há leituras sistemáticas, etc. Mas, as notas atribuídas, contudo, geralmente giram no 'topo máximo'. Assim promove-se a ilusão, para quem, claro, se deixar iludir. Quando essa situação passa para o âmbito da relação orientador-orientando, aí o desastre é certo e o prejuízo discente incalculável. No horizonte, desde logo, está o não futuro profissional. A seguir, um texto sobre essa questão.
Por Lydia Masako Ferreira,
Fabianne Furtado e Tiago Santos Silveira
A origem da palavra orientador vem do grego e
significa "aconselhar", e da raiz Indo Europeia, que significa
"pensar". Portanto, "Orientador" teria o significado de
"aconselhar o pensamento".
Em inglês Mentor (orientador)
e mentee (orientando)
surgiram da personagem Mentor da obra Odisséia,
de Homero, que descreve as experiências de Ulisses. Durante a Guerra de Tróia,
Ulisses deixou seu filho Telêmaco aos cuidados de seu melhor amigo, Mentor.
Passados muitos anos após a Guerra de Tróia, Ulisses não havia regressado e
Telêmaco foi em busca de notícias de seu pai. Durante a viagem, Atena, deusa da
sabedoria, inteligência e invenção, assumia a forma de Mentor para orientar e
encorajar Telêmaco. As vicissitudes dessa viagem ofereceram muitas dificuldades
e situações que possibilitaram essa relação orientador-orientando, permitindo o
crescimento e o amadurecimento de Telêmaco.
Essa história explica
a origem da palavra Mentor e resume o conceito da relação
orientador-orientando.
O comitê formado
pelas Academias Nacional de Ciências, Nacional de Engenharia e o Instituo de
Medicina, definiram por consenso: "Orientação é o relacionamento dinâmico
e recíproco profissional e também pessoal entre o docente e o aluno".
O binômio ou díade
orientador-orientando é indubitavelmente a base dos Programas de Pós-Graduação
(PPG) e o que determina o crescimento e a expansão dos cursos de Pós-Graduação
(PG) e a demanda de orientação – pode começar também na própria Graduação. É a
parte essencial do processo de formação na PG, e é também a mais complexa e
delicada relação a ser administrada num PPG senso estrito. Segundo Grant,
"orientar não é somente preocupação com a produção de uma boa tese, mas
também com a transformação do orientando em pesquisador independente".
A PG, que concentra
quase todo o volume da pesquisa nacional, tem como meta a capacitação
profissional de pesquisadores de alto nível, e como parâmetro, o padrão de
qualidade do ensino e da pesquisa com ela compatível. Assume-se que o aluno de
PG é um pesquisador em potencial, em estágio avançado de desenvolvimento, ou
seja, a caminho da autonomia científica, mas ainda depende de um professor, o
que justifica as atividades de orientação como efetivamente necessárias.
O processo de
construção do conhecimento não é uma atividade isolada e necessita da interação
entre os sujeitos professor orientador e aluno orientando. Desse modo, a
orientação se configura como um acompanhamento do pós-graduando nas diversas
etapas de seu processo de qualificação acadêmica, não devendo se restringir à
leitura e revisão do manuscrito, da monografia, da dissertação ou da tese.
As etapas pelas quais
se processa a formação de novos pesquisadores passam pelo Conhecimento Declarado e Processual
(teoria, literatura e evidência), Conhecimento
Processual (metodologia, análise e redação) que, juntos, levam ao Conhecimento Condicional (desenho da
pesquisa e publicação) e finalmente ao Conhecimento
Funcional (pesquisador independente). No entanto, além da formação do
pesquisador independente, uma etapa não descrita, mas de fundamental
importância é o Conhecimento que
denominamos como Multiplicador, que é
a formação de novos líderes e de núcleos para outros ambientes, por meio de
ferramentas que permitam estimular outras características dos alunos.
A defesa de tese
passa a ser somente uma pequena parte do processo de formação do aluno, e a
transformação em pesquisador independente é associada à capacidade de produção
acadêmica, produzindo conhecimento, dando continuidade a linha de pesquisa, possibilitando
nuclear outros pesquisadores.
Essa nucleação tem
interesse nacional para que haja maior homogeneidade regional de grupos de
pesquisa atuantes, com aumento da produção científica brasileira.
Muito além, a orientação
pressupõe a indicação e monitoramento de uma série de atividades, tais como
leituras, estudos dirigidos, estágios de pesquisa e atendimento a cursos ou
disciplinas que possam ampliar ou completar conhecimentos do aluno na área
específica de seu interesse. O orientador deve buscar o equilíbrio entre
dependência e independência na orientação aos seus alunos, em que os extremos
devem ser evitados (dependência ou independência excessiva). O ideal é o modelo
sinérgico em que se aplica o conhecimento funcional e multiplicador, obtendo
como resultado um aumento da capacidade cognitiva e afetiva do aluno.
A
orientação inclui o encaminhamento e a supervisão do candidato na montagem e
execução de sua própria pesquisa, compreendendo, portanto, todas as etapas da
investigação, análise crítica e discussão dos resultados e redação final da
tese, dissertação, monografia ou artigo científico. Essa orientação só pode ser
confiada a docentes qualificados, detentores dos conhecimentos de uma linha de
pesquisa consolidada, com produção científica relevante, quantitativa e
qualitativamente. Essas características e a capacidade de encorajar pesquisa
criativa e competitiva são as responsáveis pela orientação de todo o processo
educativo, desenvolvimento de uma relação eficaz com o orientando e crescimento
profissional do mesmo.
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