Graciliano Ramos: exercício do ofício de escrever |
Duas situações diferentes
que, de determinado modo, se tocam: 1ª) Frequentemente, estudantes se queixam da
dificuldade que têm em escrever; 2ª) por outro lado, também é frequente testemunharmos
supostas "autoridades acadêmicas", ávidas em exibicionismo, destilarem
um palavrório tipo espuma de
palavras - fala-se muito, mas
não se diz nada. Mera retórica vazia, mas como papel não pode se defender... O caso dos estudantes é compreensível,
pois estão em processo de formação; quanto à segunda situação, não - é preciso ter senso, já não digo de proporção, mas do ridículo mesmo. A escrita
implica o aprendizado e o exercício de um ofício. A propósito, certa feita,
Graciliano Ramos, nome notável da literatura brasileira, foi indagado sobre
como se deve escrever um texto. A sua resposta foi, digamos, lapidar, dada no
estilo próprio de um homem da literatura. Disse ele: “Deve-se
escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício.
Elas começam com uma primeira lavada, molham-no novamente, voltam a torcer.
Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais
uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra
limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma
só gota. Somente depois de feito tudo isto é que elas dependuram a roupa lavada
na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a
mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a
palavra foi feita para dizer.”
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