Viveu apenas quatro
décadas, mas deixou uma contribuição significativa para a humanidade. Paul
Ludwig Landsberg foi professor de filosofia em Bonn, Alemanha, e compartilhou
do ciclo de amizade de Max Horkheimer, tendo mantido uma colaboração regular
com a Escola de Frankfurt. Deixou o seu país pouco antes de Hitler chegar ao
poder (era filho de judeus), exilando-se na Espanha, de onde saiu novamente
exilado para a França, em decorrência da Guerra Civil Espanhola. Com a ocupação
nazista da França, negou-se a um terceiro exílio para os Estados Unidos. Passou
à clandestinidade, vivendo com nomes falsos. Preso pela Gestapo, foi deportado
para um campo de concentração, onde morreu. Vida atribulada, espírito inquieto.
A morte pairando os seus passos. Dedicou-se à pesquisa sobre ela, estudando
inclusive a vida e obra de santos cristãos (como Agostinho de Hipona), assim
como de místicos e Pascal. Sobre a vida clandestina de Landsberg, Jean Lacroix,
que o escondeu em território francês, escreveu o seguinte: "Abordamos frequentemente o problema
da morte voluntária. Ele me revelou que levava consigo uma dose de veneno que
usaria se fosse localizado pela Gestapo. (...) Creio que modificou essa
intenção no verão de 1942. O que é certo é que se desfez do veneno. Quando foi
preso, aceitou plenamente que não dispunha de sua vida. O problema moral do
suicídio deve ter sido escrito em meados de 1942. Landsberg me enviou o texto
um pouco depois, no início do outono. Eu o escondi e o publiquei na revista
Esprit depois da guerra, em dezembro de 1946, junto com Ensaio sobre a
Experiência da Morte, que ele já havia terminado. Creio que podemos
considerá-los o seu testamento espiritual e intelectual." Do punho
do próprio Landsberg temos o seguinte: Se o homem é o único ser vivo que sabe
que vai morrer, convém lembrar que os animais também têm algum pressentimento
da morte, quando ela os ameaça com a presença imediata. Deitam-se à espera da
morte, atitude calma e digna que misantropos preferiram à de muitos homens. Mas
esse tipo de pressentimento, essa percepção do imediato, não é propriamente um
saber. Mesmo que pudesse se transformar em um saber correspondente, ainda não
seria um saber da necessidade da morte. O animal não saberia, por exemplo, que
a morte do indivíduo pertence à essência da vida e da espécie. A compreensão do
vínculo entre nascimento e morte, da necessidade biológica de o indivíduo
desaparecer em favor da espécie e da espécie desaparecer em favor da realização
da vida em formas sempre novas, essa compreensão, sem dúvida, está reservada
apenas ao homem." Pois bem, o público brasileiro tem agora a
oportunidade de adentrar no universo da obra de Paul Ludwig Landsberg
sobre esse, com a publicação pela Editora Contraponto do livro Ensaio sobre a Experiência da Morte e Outros
Ensaios.