sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A mediocridade acadêmica que nos assola

O colega David Ben Kel socializou, em rede social, a nota aí abaixo a propósito do texto de um professor universitário que 'estreou como articulista' num conhecido portal de notícias da cidade de João Pessoa. A nota de David é significativa, na denúncia, do ambiente de mediocridade intelectual que estamos a viver - de modo geral, dentro e fora da universidade. Plágios, realização de eventos sem dimensão acadêmica e como mera fonte de obtenção de recursos, presunçosos opiniáticos que se atrevem a brandir juízos a respeito do que não entendem, etc. Já circulam até registros de casos em que não mais sequer há a apresentação de trabalhos em eventos: basta pagar a inscrição, "assinar o ponto" no mesmo e pronto - obtém-se o certificado. Já para não falar dos casos em que trabalhos são apresentados em reduzidíssimo tempo e sem discussão. Com a indústria de certificados a todo vapor, é de se supor o tipo de formação acadêmica que os nossos jovens estão a ter e que futuro profissional esse tipo atitude lhes prepara. Segue a nota do Professor David sobre o referido texto. 


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Por David Ben Kel 

Um artigo de opinião com graves equívocos conceituais, típico dos que acham que podem escrever acerca de tudo, usando apenas o conhecimento intuitivo para basilar suas ilações. Enquanto isso, aquele percuciente, sério e comprometido processo de pesquisa, que nos apresenta uma visão da complexidade, é abandonado. O que resta é a visão monocórdica de mundo que sempre empobrece o debate. O mais triste é que, além de não dominar o assunto sobre o qual se propôs a escrever, o professor desconhece que há variações no uso dos porquês. São quatro aplicações possíveis, segundo a norma culta. Como dar credibilidade a alguém que nem, ao menos, tem a preocupação de fazer uma revisão gramatical antes de publicar um artigo? Há dois atores disputando o prêmio incompetência nesse cenário: quem escreveu e quem publicou. Esse tipo de relação promíscua desvela uma grave crise, ética, moral, legal, da produção epistemológica brasileira. Não há mais seriedade. Publica-se qualquer coisa, se for para continuar nutrindo a já falida narrativa de que o PT acelerou o apocalipse. No que concerne ao conteúdo, é ainda mais sofrível. Alguém precisa dizer ao economista, urgentemente, que ele deve ser um bom professor (de economia).