Ao acaso, recebo uma recensão laudatória de um livro intitulado 'Como Fazer Amigos', onde a amizade é quase transformada numa moeda de troca do mercado de interesses pessoais. Não surpreende, mas realmente chama a atenção o patamar ao qual chegou a mercantilização das relações humanas, e ainda adornado pelo comércio bibliográfico da autoajuda. Sou de 'outro mundo', mesmo que - sobre tal assunto - tenha de enfrentar contrariedades. Mas, nesse 'outro mundo', a amizade está balizada pelo que assinalou Agostinho de Hipona nas Confissões. Descontada a "dimensão transcendental" da sua elaboração, é uma definição que contempla até mesmo um agnóstico. Transcrevo-a da versão portuguesa vertida do latim: "A amizade é tão essencial quanto a própria vida. Dilata o
horizonte do amor. Expressa-se na ajuda mútua e na gratidão. Está presente nos
bons e maus momentos. Preza a lealdade. É temperada pelo passar do tempo. O ser amigo nos
funde a amizade do ser; os amigos têm almas aproximativas. Podemos chamar o
outro de amigo quando confiamos a ele nossas ideias."