Na escuridão da cegueira, Jorge Luís Borges recorreu ao alemão
alles nahe werde fern (‘tudo que é
próximo se afasta’), de Goethe, para dizer que, ao entardecer, as coisas que nos
são mais próximas já se afastam dos nossos olhos. Vão-nos deixando. Por certo, soava
paradoxal e melancólico que o mundo visível se afastasse dos olhos de Borges
quando da manifestação crepuscular de uma existência que, pela sua produção espiritual,
negava o perecer e o sagrava pela consagração da sua obra. Na vista que
desaparecia, Borges conseguia, contudo, manter o equilíbrio de comportamento. Prova
de que, mesmo diante das intempéries da cegueira, o exercício da racionalidade
pode assegurar a permanência da razoabilidade. Pois bem, difícil mesmo é
testemunhar a cegueira da irracionalidade nos não cegos dos olhos, e num local em
que, de per si, é a casa da
racionalidade, isto é, a universidade. Imagine o que é um padrão de campanha de
eleição reitoral ter como marca o modus
operandi das torcidas de futebol, onde, além dos gritos, resolver as “diferenças”
no braço não é uma opção descartada. Imagine o que é se programar um debate
para o Campus de uma universidade, e
a comunidade local desse Campus (professores,
estudantes e servidores técnicos) ver-se constrangida por presenças exógenas.
Imagine o que é o debate ser suspenso porque a atmosfera que prevalece é a da
truculência, e não a do diálogo. Dessas
situações, a dedução logo se apresenta: chegou-se ao fundo do poço pelo
exercício da irracionalidade numa instituição que deve ser guardiã da razão e
exemplo de civilidade para a sociedade. Lamentável.
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