Por André Singer
(Universidade de São Paulo - USP)
Ao que parece o comando da Lava Jato, cujas formas decisórias
ainda estão para ser esclarecidas, resolveu acelerar o passo e deflagrar o ato
final da luta iniciada após a reeleição de 2014. A absurda condução coercitiva
do ex-presidente Lula para depor na manhã de ontem tenta mobilizar e compactar,
numa ofensiva final, os que desejam derrubar Dilma e extinguir o lulismo.
Veremos nas próximas semanas se será vitoriosa.
A investigação a respeito do
ex-presidente pode estar embasada em critérios técnicos, conforme o defendido
pelo representante do Ministério Público (MP) no Paraná para explicar o que
está em curso. Só o tempo dirá. Mas a justificativa a respeito da condução
coercitiva não para em pé.
Disse o delegado da PF, encarregado
de expor as razões da medida, que a mesma foi tomada com vistas a preservar a
segurança do próprio Lula. Mas é o contrário. Os confrontos em São Paulo teriam
sido evitados se o ex-mandatário fosse convidado a depor com toda a
tranquilidade em Brasília, como o fez de outras vezes. Afirmar que se procurava
preservar a integridade do depoente não faz o menor sentido.
O juiz Sergio Moro certamente sabe o
que se produziria se autorizasse o que autorizou. Era óbvio que haveria
repercussão midiática nacional e internacional equivalente à da prisão de uma
celebridade. Era esse efeito imagético que buscava.
Com todas as atenções voltadas para o
factoide, houve difusão extraordinária das acusações formuladas pelo MP,
associando Lula de maneira central ao escândalo da Petrobras. Fazê-lo um dia
depois de, com o mesmo sentido, os meios de comunicação serem tomados pela
suposta delação de Delcídio do Amaral criou massacre noticioso, o qual açula os
ânimos antipetistas.
Na outra frente do tabuleiro, numa
vingança clássica, o ex-líder do governo ressuscitou o impeachment. Ao afirmar
que a presidente tentou interferir na Lava Jato, abre a porta para a oposição
acusá-la de obstrução da Justiça. Até aqui era flagrante a inconsistência dos
crimes de responsabilidade atribuídos a Dilma.
Por enquanto não há prova de que a
acusação proceda. Por mais credibilidade que tivesse o delator, pelo cargo
antes ocupado, trata-se só de sua palavra. Talvez por isso o esforço do Partido
da Justiça (PJ), via João Santana, obter a incriminação das contas eleitorais.
O desfecho desta que parece ser a mãe
de todas as batalhas dependerá de dois fatores. De um lado, a capacidade de o
PJ dar materialidade às imputações lançadas contra Dilma. De outro, da
temperatura das ruas, aquecidas pelas manifestações programadas pela direita e
pela disposição de luta demonstrada por Lula ao se livrar da injustificada
coerção policial.
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