Por Alo Fornaziere
(Escola de Sociologia e Política de São Paulo)
Preâmbulo
Para usar uma analogia militar para
entender a crise atual, pode-se dizer
que o ex-presidente Lula é um general com parte do exército desorganizada e
parte em franca deserção. O principal problema dele é que não tem um Estado
Maior. Nenhum general vence guerras sem Estado Maior. No governo não há Estado
Maior. Há mais de um ano em crise, o governo nunca organizou um comitê de
crise. Os ministros da casa não contam. Podem dizer uma coisa ou outra e Dilma
faz o que quer. A desorganização é total. O PT não comanda mais nada. A
militância não acredita na direção. Também não há um comando estratégico no
partido para enfrentar a crise. Não há definições táticas, estratégicas,
defesas, forças de ataque, nada.
A oposição é constituída por um grupo
de generais e oficiais sem exércitos. Diante desta monumental crise, a
oposição nunca foi capaz de convocar um ato. Sempre foi a reboque de forças
alheias. Generais da oposição não são bem vistos pelas tropas que se mobilizam
nas ruas. No domingo expulsaram Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Marta Suplicy da
Avenida Paulista. Já os manifestantes nas ruas se comportam como tropas
anárquicas que não querem saber do comando de generais. Parecem querer um
ditador. De preferência, Sérgio Fernando Moro, um juiz de primeira instância alçado
à condição de juiz universal e salvador da pátria. Agora, acreditar que de
grupos como o MBL e assemelhados possa surgir líderes significativos significa
acreditar na inviabilidade eterna do Brasil.
O PMDB, por sua vez, se comporta como
uma frente de caudilhos mercenários desunidos, mas que só é capaz de se unir
para dar o bote final. Se une para o assalto da cidadela do Planalto. Feito o
assalto, os caudilhos voltarão às suas divisões tradicionais. O que interessa
são cargos, recursos, negociatas, poder. É a política como meio puro, sem
causas e sem fins.
As manifestações de domingo
complicaram uma saída para a crise. Se não serve Aécio, Temer serve menos
ainda. Se vier a assumir, sua cabeça será pedida, assim como a de Renan
Calheiros, de Cunha e de outros caciques. Se a Lava Jato parar ante a
possibilidade de um novo governo, será sua desmoralização, o fim do juiz herói.
A fúria devastadora das massas desordenadas quer uma limpeza completa. Se vier
uma eleição para presidente, a chance de um aventureiro ou de um outiser triunfar é muito grande. Essa crise tem sinais de que será
prolongada.
Os Cenários Insatisfatórios
Todos os cenários de solução da crise
parecem insatisfatórios. Se Dilma continuar, seu governo continuará se
arrastando até 2018. Aniquilaria qualquer chance do PT e de Lula. A entrada de
Lula, neste momento, no governo confere-lhe o risco de naufragar em definitivo
junto com o próprio governo. Um abraço de afogados. Para o PT, a única tábua de
salvação consiste em tentar salvar Lula para 2018. Mas como? Com a renúncia de
Dilma? Talvez. Dilma poderia construir uma boa peça política que justificasse a
renúncia. Para os prefeitos do PT que concorrem à reeleição e para os futuros
candidatos a prefeitos, a renúncia rápida seria a melhor saída. Dar-lhes-ia
tempo para se recomporem, o PT passaria à oposição enfrentando um governo
marcado pela ilegitimidade e com grave crise econômica e social para enfrentar.
As perspectivas do PT são difíceis e
ambíguas. Do ponto de vista das eleições de 2016, a solução mais plausível é a
renúncia de Dilma. Do ponto de vista da recomposição das forças sociais, o
melhor é enfrentar o processo de impeachment. Haveria lutas, aglutinação de
forças, munição para o combate. Mas o encavalamento de processo de impeachment com
eleições municipais pode ser devastador para os candidatos petistas.
A oposição não está em situação
melhor. Se Temer assumir, terá a marca da ilegitimidade, terá o PT e os
movimentos sociais como oposição e as massas pró-impeachement ser-lhes-ão
hostis. Terá que adotar medidas duríssimas, circunstância que desencadeará
protestos de todo tipo. Temer não é Itamar. Itamar tinha a complacência de
todos. Temer não terá a complacência de ninguém. Collor não tinha forças
sociais. O PT ainda exerce influência sobre as forças sociais mais organizadas
do país. A crise continuará.
Se vierem novas eleições, Aécio Neves
deverá ser o candidato do PSDB. Tem várias citações na Lava Jato. Foi chamado
de “oportunista” e corrupto na Avenida Paulista. O risco de vencer uma Marina
Silva, um Ciro Gomes ou um aventureiro qualquer é grande.
O semipresidencialismo de Renan
Calheiros é uma não solução. Que legitimidade teria um Congresso corrupto, com
Eduardo Cunha e Renan afundados até o pescoço nas denúncias, de indicar um
primeiro-ministro? Um Congresso que tem dezenas de deputados denunciados e 12
senadores investigados. Poderia ser implantado o semipresidencialismo ou
semiparlamentarismo sem um referendo popular? Sem um referendo seria visto como
um golpe, como uma remissão a 1961.
Uma Crise Complexa
A atual crise é como um jogo de
xadrez sendo jogado em quatro tabuleiros. Num dos tabuleiros só jogam o juiz
Moro, o Ministério Público, a Polícia Federal e o STF. Este é o jogo do
imponderável, do incontrolável. Esses jogadores têm o poder de desorganizar o
jogo de todos os outros tabuleiros. É um jogo que atormenta o sono do governo e
da oposição, de Lula e de Aécio Neves, de Dilma e de Eduardo Cunha, de Renan
Calheiro e de Temer.
Preâmbulo
Para usar uma analogia militar para
entender a crise atual, pode-se dizer
que o ex-presidente Lula é um general com parte do exército desorganizada e
parte em franca deserção. O principal problema dele é que não tem um Estado
Maior. Nenhum general vence guerras sem Estado Maior. No governo não há Estado
Maior. Há mais de um ano em crise, o governo nunca organizou um comitê de
crise. Os ministros da casa não contam. Podem dizer uma coisa ou outra e Dilma
faz o que quer. A desorganização é total. O PT não comanda mais nada. A
militância não acredita na direção. Também não há um comando estratégico no
partido para enfrentar a crise. Não há definições táticas, estratégicas,
defesas, forças de ataque, nada.
A oposição é constituída por um grupo
de generais e oficiais sem exércitos. Diante desta monumental crise, a
oposição nunca foi capaz de convocar um ato. Sempre foi a reboque de forças
alheias. Generais da oposição não são bem vistos pelas tropas que se mobilizam
nas ruas. No domingo expulsaram Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Marta Suplicy da
Avenida Paulista. Já os manifestantes nas ruas se comportam como tropas
anárquicas que não querem saber do comando de generais. Parecem querer um
ditador. De preferência, Sérgio Fernando Moro, um juiz de primeira instância alçado
à condição de juiz universal e salvador da pátria. Agora, acreditar que de
grupos como o MBL e assemelhados possa surgir líderes significativos significa
acreditar na inviabilidade eterna do Brasil.
O PMDB, por sua vez, se comporta como
uma frente de caudilhos mercenários desunidos, mas que só é capaz de se unir
para dar o bote final. Se une para o assalto da cidadela do Planalto. Feito o
assalto, os caudilhos voltarão às suas divisões tradicionais. O que interessa
são cargos, recursos, negociatas, poder. É a política como meio puro, sem
causas e sem fins.
As manifestações de domingo
complicaram uma saída para a crise. Se não serve Aécio, Temer serve menos
ainda. Se vier a assumir, sua cabeça será pedida, assim como a de Renan
Calheiros, de Cunha e de outros caciques. Se a Lava Jato parar ante a
possibilidade de um novo governo, será sua desmoralização, o fim do juiz herói.
A fúria devastadora das massas desordenadas quer uma limpeza completa. Se vier
uma eleição para presidente, a chance de um aventureiro ou de um outiser triunfar é muito grande. Essa crise tem sinais de que será
prolongada.
Os Cenários Insatisfatórios
Todos os cenários de solução da crise
parecem insatisfatórios. Se Dilma continuar, seu governo continuará se
arrastando até 2018. Aniquilaria qualquer chance do PT e de Lula. A entrada de
Lula, neste momento, no governo confere-lhe o risco de naufragar em definitivo
junto com o próprio governo. Um abraço de afogados. Para o PT, a única tábua de
salvação consiste em tentar salvar Lula para 2018. Mas como? Com a renúncia de
Dilma? Talvez. Dilma poderia construir uma boa peça política que justificasse a
renúncia. Para os prefeitos do PT que concorrem à reeleição e para os futuros
candidatos a prefeitos, a renúncia rápida seria a melhor saída. Dar-lhes-ia
tempo para se recomporem, o PT passaria à oposição enfrentando um governo
marcado pela ilegitimidade e com grave crise econômica e social para enfrentar.
As perspectivas do PT são difíceis e
ambíguas. Do ponto de vista das eleições de 2016, a solução mais plausível é a
renúncia de Dilma. Do ponto de vista da recomposição das forças sociais, o
melhor é enfrentar o processo de impeachment. Haveria lutas, aglutinação de
forças, munição para o combate. Mas o encavalamento de processo de impeachment com
eleições municipais pode ser devastador para os candidatos petistas.
A oposição não está em situação
melhor. Se Temer assumir, terá a marca da ilegitimidade, terá o PT e os
movimentos sociais como oposição e as massas pró-impeachement ser-lhes-ão
hostis. Terá que adotar medidas duríssimas, circunstância que desencadeará
protestos de todo tipo. Temer não é Itamar. Itamar tinha a complacência de
todos. Temer não terá a complacência de ninguém. Collor não tinha forças
sociais. O PT ainda exerce influência sobre as forças sociais mais organizadas
do país. A crise continuará.
Se vierem novas eleições, Aécio Neves
deverá ser o candidato do PSDB. Tem várias citações na Lava Jato. Foi chamado
de “oportunista” e corrupto na Avenida Paulista. O risco de vencer uma Marina
Silva, um Ciro Gomes ou um aventureiro qualquer é grande.
O semipresidencialismo de Renan
Calheiros é uma não solução. Que legitimidade teria um Congresso corrupto, com
Eduardo Cunha e Renan afundados até o pescoço nas denúncias, de indicar um
primeiro-ministro? Um Congresso que tem dezenas de deputados denunciados e 12
senadores investigados. Poderia ser implantado o semipresidencialismo ou
semiparlamentarismo sem um referendo popular? Sem um referendo seria visto como
um golpe, como uma remissão a 1961.
Uma Crise Complexa
A atual crise é como um jogo de
xadrez sendo jogado em quatro tabuleiros. Num dos tabuleiros só jogam o juiz
Moro, o Ministério Público, a Polícia Federal e o STF. Este é o jogo do
imponderável, do incontrolável. Esses jogadores têm o poder de desorganizar o
jogo de todos os outros tabuleiros. É um jogo que atormenta o sono do governo e
da oposição, de Lula e de Aécio Neves, de Dilma e de Eduardo Cunha, de Renan
Calheiro e de Temer.
O outro tabuleiro é o Congresso. Ali
se trava a batalha principal do impeachment. Seja qual for o resultado, o
desfecho será dramático. Deixará feridas sangrentas. Os ganhadores de hoje
podem ser os perdedores de amanhã. O terceiro tabuleiro é o governo. Quase
ninguém mais quer jogar nesse tabuleiro. O PMDB quer sair desse jogo. O PT
também. A rigor, o PT não apoia mais o governo. Apoiar um governo significa
dar-lhe sustentação no Congresso, apoiar suas políticas. O PT já não está
fazendo isto. Dilma é uma jogadora cada vez mais solitária.
O quarto tabuleiro está nas ruas, nos
ambientes de trabalho, nas redes sociais. O jogo é emocionante. Movido a
paixões e ódios. As massas enfurecidas do impeachment e do combate à corrupção
contam com o apoio de decisões politicamente orientadas da Lava Jato. As forças
de esquerda tendem a se aglutinar muito mais em torno de Lula do que do
governo. Olham mais para o futuro do que para o presente.
As massas, como diria o velho Hegel,
aqui sim, o filósofo alemão Hegel dos “Princípios da Filosofia do Direito”, as
massas são confusas. Nelas está a verdade e o erro infinito. Defendem o
essencial do bem comum, mas quando julgam podem produzir desastres. São
facilmente enganadas por demagogos. Podem escrever jornadas glorificantes ou
soluções cujos efeitos maléficos perdurem décadas.
Os políticos do governo e da
oposição, do PT e do PSDB, deveriam negociar uma saída olhando para o Brasil,
tendo como referência o que as massas querem. A saída terá que ser política. E
a política requer negociação. Produzir vitoriosos e derrotados neste momento
prolongará a crise. Há que se encontrar uma solução tampão para que a
democracia se depure no tempo, pelos seus mecanismos legítimos. Mas, neste
momento, faltam lideranças, falta bom senso e sobra oportunismo de um lado e
desespero de outro.
O outro tabuleiro é o Congresso. Ali
se trava a batalha principal do impeachment. Seja qual for o resultado, o
desfecho será dramático. Deixará feridas sangrentas. Os ganhadores de hoje
podem ser os perdedores de amanhã. O terceiro tabuleiro é o governo. Quase
ninguém mais quer jogar nesse tabuleiro. O PMDB quer sair desse jogo. O PT
também. A rigor, o PT não apoia mais o governo. Apoiar um governo significa
dar-lhe sustentação no Congresso, apoiar suas políticas. O PT já não está
fazendo isto. Dilma é uma jogadora cada vez mais solitária.
O quarto tabuleiro está nas ruas, nos
ambientes de trabalho, nas redes sociais. O jogo é emocionante. Movido a
paixões e ódios. As massas enfurecidas do impeachment e do combate à corrupção
contam com o apoio de decisões politicamente orientadas da Lava Jato. As forças
de esquerda tendem a se aglutinar muito mais em torno de Lula do que do
governo. Olham mais para o futuro do que para o presente.
As massas, como diria o velho Hegel,
aqui sim, o filósofo alemão Hegel dos “Princípios da Filosofia do Direito”, as
massas são confusas. Nelas está a verdade e o erro infinito. Defendem o
essencial do bem comum, mas quando julgam podem produzir desastres. São
facilmente enganadas por demagogos. Podem escrever jornadas glorificantes ou
soluções cujos efeitos maléficos perdurem décadas.
Os políticos do governo e da
oposição, do PT e do PSDB, deveriam negociar uma saída olhando para o Brasil,
tendo como referência o que as massas querem. A saída terá que ser política. E
a política requer negociação. Produzir vitoriosos e derrotados neste momento
prolongará a crise. Há que se encontrar uma solução tampão para que a
democracia se depure no tempo, pelos seus mecanismos legítimos. Mas, neste
momento, faltam lideranças, falta bom senso e sobra oportunismo de um lado e
desespero de outro.
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Fonte: http://jornalggn.com.br/
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