Tenho repisado
nos debates em que participo, conforme a perspectiva das pesquisas
sobre massificação, que, dos fatores que
desvirtuam o comportamento humano, dois, por certo, sobressaem logo de
imediato: os de caráter ontológico e os de agregação. No primeiro caso, o ser
humano pode ser tomado por três elementos que têm a propensão de originar três
tipos de violência: 1) a competição, que gera o ataque aos outros; 2) a
desconfiança, que ocasiona a violência para se defender; 3) o desejo de glória,
nutrindo-se bastante da vaidade, que faz emergir a violência (simbólica ou não)
por causa de ninharias, de coisas pequeninas. No segundo caso, temos o comportamento
massificado. As respostas em relação ao que consiste a diferença entre o
comportamento ‘estritamente individual’ e o comportamento massificado são
diversas, mas podem ser congregadas sinteticamente, até porque as distinções
são mais de grau do que de natureza. Se o medo, a alegria e a raiva são três
emoções humanas fundamentais, quando relacionadas às ‘multidões massificadas e
alienadas’, elas se tornam, respectivamente, pânico, júbilo e hostilidade. E
assim prolifera a manipulação. Multidões repetindo mecanicamente as mesmas
palavras. Tendo isso em atenção, o francês Sylvain Timsit, inspirado nos
estudos do linguista Noam Chomsky, definiu como as estratégias de manipulação
funcionam. Aí abaixo, estão descritas algumas delas.
1. A estratégia da distração
O
elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que
consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das
mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do
dilúvio, ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes.
A
estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de
interessar-se por conhecimentos essenciais, nas áreas da ciência, economia,
psicologia, neurobiologia e cibernética.
Manter a atenção do público distraída, longe dos
verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter
o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à
granja como os outros animais
2. Criar problemas e depois oferecer soluções
Este método também é chamado “problema-reação-solução“. Se
cria um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público,
a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja aceitar.
Por exemplo: Deixar
que se desenvolva ou que se intensifique a violência urbana, ou organizar
atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de
segurança e políticas
desfavoráveis à liberdade.
Ou também: Criar uma crise econômica para
fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o
desmantelamento dos serviços públicos. (qualquer
semelhança com a atual situação do Brasil não é mera coincidência).
3. A estratégia da gradualidade
Para fazer que se aceite uma medida inaceitável,
basta aplicá-la gradualmente,
a conta-gotas, por anos consecutivos. Foi dessa maneira que condições
socioeconômicas radicalmente novas foram impostas durante as décadas de 1980 e
1990. Estratégia também utilizada por Hitler. E comumente utilizada pelas grandes
meios de comunicação.
4. A estratégia de diferir
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão
impopular é a de apresentá-la como “dolorosa
e necessária“, obtendo a aceitação pública, no momento, para
uma aplicação futura.
É mais
fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato.
Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente.
Depois, porque o público, a massa, tem sempre a
tendência a esperar ingenuamente que “amanhã
tudo irá melhorar” e que o sacrifício exigido poderá ser
evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se à ideia da mudança e
aceitá-la com resignação quando chegue o momento.
5. Dirigir-se ao público como crianças
A maioria da publicidade dirigida ao grande
público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente
infantis, muitas
vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma
criança de pouca idade ou um deficiente mental.
Quanto mais se tenta enganar ao espectador, mais
se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se alguém se dirige a uma pessoa
como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da
sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou
reação também desprovida de um sentido crítico como as de uma pessoa de 12 anos
ou menos de idade.”
6. Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para
causar um curto circuito na análise racional, e finalmente no sentido crítico
dos indivíduos.
Por outro lado, a utilização do registro
emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou
injetar ideias, desejos, medos e
temores, compulsões ou induzir comportamentos.
7. Manter o público na ignorância e na mediocridade
Fazer com
que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos
utilizados para seu controle e sua escravidão.
O pressuposto aqui é: “A qualidade da educação
dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível,
de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores e
as classes sociais superiores seja e permaneça impossível de ser revertida por
estas classes mais baixas.”
8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade
Induzir as
pessoas a acreditarem que é moda o ato de ser estúpido.
9. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se
conhecem
No
transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado uma
crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e
utilizados pelas elites dominantes.
Graças à
biologia, à neurobiologia, à psicossociologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem
desfrutado de um conhecimento avançado sobre a psique do ser humano, tanto
em sua forma física como psicologicamente.
O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo
comum do que ele conhece a si mesmo. Isto significa que, na
maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre
os indivíduos, maior que o dos indivíduos sobre si mesmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário