The Muscles of the Sky - René Magritte |
Por Ana Macarini
Há
quem ainda tenha fé no bom senso de todos os seres humanos. Essas pessoas tocam
suas vidas acreditando que os outros à sua volta conseguem, de forma natural,
entender até onde vai a sua liberdade de interferir, ou de depender, ou de
controlar.
Este
pode ser um risco mal calculado. A grande maioria de nós, não nasce com bons
instrumentos de geografia emocional. Infelizmente, a chance de esbarrarmos com
verdadeiros sugadores de alma, energia e vida, cresce numa escala geométrica a
cada dia.
O
culto a uma postura pautada na satisfação imediata das vontades e necessidades
pessoais, produz indivíduos extremamente autocentrados, cuja percepção dos
limites alheios vive no mundo do desconhecido.
Houve
um tempo em que se ousou acreditar que o comportamento individualista ficava
restrito, ou prioritariamente concentrado a centros urbanos capitalistas, ou
ambientes corporativos voltados à produção de riquezas, ou, até mesmo a grupos
familiares cuja dinâmica de funcionamento fosse regida pela competição entre seus
membros, seja por bens materiais, atenção ou afeto.
Essa
crença cai por terra diante de uma realidade concreta e mundial, segundo a qual
as condições de sobrevivência, material ou filosófica, aparecem cada vez mais
ligadas às habilidades de cada um em juntar bens de consumo, conquistar a
admiração alheia e ostentar um sucesso que pode ser duradouro ou meteórico,
tanto faz.
Assim,
focados num objetivo estabelecido pelo outro, já que dependemos da sua
audiência para sermos felizes, acabamos perdendo a noção dos limites. Vamos
tocando a vida meio que de forma tão automática quanto irrefletida, e nos
afastamos dos valores que deveríamos ter cultivado com o mesmo empenho que
utilizamos para sermos bem-sucedidos socialmente.
Limites
são linhas invisíveis; porém, absolutamente necessárias para garantir nossa
opção pela vida, e não pela sobrevivência.
Precisamos
conhecer nossos limites físicos, caso contrário viveremos em rota de colisão
certa, porém não agendada, com um completo colapso das nossas capacidades de
agir, sentir e pensar.
Precisamos
conhecer nossos limites, porque sem eles tornamo-nos presas fáceis de nossa
vaidade e loucura pelo poder. Loucura esta que, mais dia ou menos dia, fará de
nós réplicas daquelas pessoas cujos comportamentos imorais e criminosos já criticamos
um dia.
Precisamos
conhecer nossos limites emocionais para que consigamos ser algo mais parecido
com gente, e menos parecido com máquinas. É a linha afetiva que confere a cada
um de nós a figura humana que apresentamos ao outro, quando o outro não tem
nada para nos oferecer; quer seja o poder tão cobiçado; quer seja o sofrimento
para nos garantir que existe alguém em situação pior do que a nossa.
Precisamos
estabelecer limites à nossa autoindulgência, uma vez que essa excessiva
permissividade certamente fará de nós pessoas molengas demais diante das
dificuldades e demasiado empedernidas diante das falhas e dificuldades alheias.
Mas,
não nos basta conhecer os próprios limites. Esse conhecimento, ainda que faça
de nós seres humanos mais dignos e merecedores de confiança, não é capaz de nos
garantir a paz. A paz, vem da nossa capacidade de estabelecer para o outro até
que ponto ele tem permissão de tocar, conhecer e penetrar o nosso íntimo.
Quando não somos capazes de fornecer ao outro o conhecimento da linha que
determina quem é ele e quem somos nós, ficamos perdidos. E perdidos de nós
mesmos, nunca poderemos nos encontrar, muito menos estaremos aptos para
conviver. Sem termos conhecimento de nossas intersecções com o outro, nunca
seremos capazes de ver a diferença entre limite, abismo e linha de chegada.
Assim, podemos ser surpreendidos por uma queda fatal, quando pensávamos estar
chegando no topo.
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Fonte: http://www.contioutra.com/
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