Por Hélio Schawartsman
Performances muito acima ou
abaixo da média são por definição incomuns. Assim, quando alguém começa a agir
surpreendentemente bem ou assustadoramente mal, o mais provável é que logo
volte a seu desempenho típico. O nome do fenômeno é regressão à média.
Na vida prática ele nos leva a inferências incorretas,
como supervalorizar o poder da punição e subestimar o do reforço positivo. O
aluno mediano vai mal na prova e toma uma reprimenda do professor. Como, no
teste seguinte, o normal é o estudante voltar à nota mediana, o mestre achará
que a bronca funcionou. Já o discípulo que se sai muito bem na avaliação será
elogiado. Como dificilmente repetirá o desempenho, o professor concluirá que o
incentivo de nada serviu. Nossas mentes ávidas por causalidade não processam
bem a distribuição aleatória da sorte e do azar.
A administração Temer vive seus dias de regressão à
média. Como se sabe, o governo é bom para angariar apoios no Congresso, não se
destaca em pensamento estratégico e é um desastre quando precisa lidar com a
opinião pública.
Por um instante, Temer pareceu ter quebrado os grilhões
da mediocridade. Após a morte do ministro Teori
Zavascki, ele jogou surpreendentemente bem. Era uma situação em que
o presidente, que tem como principais assessores gente muito citada na Lava
Jato, tinha tudo para enforcar-se. Mas, ao anunciar que esperaria o STF
designar um novo relator para a matéria antes de nomear um substituto para
Teori, fez uma jogada e evitou cair numa emboscada.
A boa fase não durou. Temer voltou a ser ele mesmo e
decidiu dar um cargo de ministro ao enroladíssimo Moreira Franco, blindando-o contra Moro na
Lava Jato, e indicar Alexandre de Moraes
para o STF, transferindo diretamente para a corte que poderá julgar
atos de seu governo alguém que até ontem estava no governo.
É difícil transcender à própria natureza.
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Fonte: Folha de São Paulo, versão para assinantes, edição do dia 07/02/2017.