Drawing Hands, de M. C. Escher |
Por
Miguel Esteves Cardoso
(Doutor
em Filosofia Política; escritor)
É
impossível para alguém ser enganado que não seja por ele próprio
(Ralph
Waldo Emerson)
A confiança é um bem tão
etéreo que não pode ser recuperado. Só pode ser conquistada e perdida. A
confiança leva tempo a conquistar porque o coração que confia é um coração
aberto, sem defesas, que pode ser destruído num instante.
O nosso tempo não é de
confianças, porque é um tempo egocêntrico e sensacionalista em que cada um só
fala de si e das coisas que sente. Ouço dizer que A ama B, que A está
apaixonada por B, que A acha que o amor dela é correspondido. Mas A confia em
B? A diz que não. E ri-se, ainda por cima.
Confiar em alguém e saber
que essa pessoa confia em nós, poder contar com ela e saber que ela, com razão,
pode contar conosco, está para a amizade e para o amor como a segurança está
para a paz. Não há quem não saiba conquistar a confiança de alguém. É muito
fácil. Basta ser verdadeiro, ser leal e ser inabalável. Basta ter a coragem de
admitir o que toda a gente sabe: que ninguém é perfeito e que a única perfeição
que está ao nosso alcance é a consistência.
Não há nenhuma grande
entrega. Uma pessoa apenas tem de se dar a conhecer. Tem de ser com
honestidade. Não somos obrigados a confessar os nossos defeitos, mas quando
somos apanhados a mostrar um deles temos de sorrir e pedir desculpa por ser
assim. A pessoa que engana é a pessoa que deixa de querer a confiança de quem
enganou. E é essa indiferença que mais magoa a pessoa enganada.
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Fonte: https://www.publico.pt/2016/12/05/sociedade. Título original: 'Confiar'.