Xilogravura de Camilo Thomé |
Diante da estupidez e da decadência que avistava, Walter Benjamin, na sua introspecta polidez, fez vir a lume - não sem sofrimento, talvez - páginas atiladas em rua de sentido único. Anotou a existência de um 'estranho paradoxo' e outras decorrências, ao afirmar:
"as pessoas, quando agem, têm em mente [muitas
vezes] o interesse privado mais mesquinho, mas, ao mesmo tempo, no seu
comportamento, são mais do que nunca
determinadas pelo instinto massificado. E mais do que nunca, o instinto massificado tornou-se errado. O
obscuro instinto do animal - como inúmeros episódios o comprovam - encontra a
saída para o perigo iminente, mas ainda
invisível. Em contrapartida, esta sociedade, onde cada um
tem apenas em vista o seu próprio interesse mesquinho, sucumbe como uma massa
cega, com estupidez animal - mas sem a “sabedoria” dos animais - a todo o perigo,
ainda que muito próximo. Muitas vezes se tem demonstrado que é tão rígida a sua fixação à vida habitual,
mas de há muito perdida, que acaba por não se verificar a aplicação efetivamente
humana do intelecto, a previdência, até mesmo ante o perigo iminente. Assim a imagem da estupidez completa-se nela:
insegurança, ou mesmo degradação dos instintos vitais, e desfalecimento ou até
decadência do intelecto."
A estupidez que Benjamin avistava resultou, com o nazi-fascismo, em uma das maiores tragédias da história, com repercussões inclusive no Brasil. Atualmente, não é preciso fazer muito esforço para demonstrar que a mesma estupidez salta de determinadas cabeças e começa a acelerar o galope. Trombetas da História em 'rua de sentido único'. Que as pessoas de bem e os 'democratas em substância' - mesmo tendo divergências entre si - se deem conta da situação. É o que deles se espera. A propósito, a revista Brazzil publicou uma nova versão de um texto que escrevi sobre a encruzilhada que estamos a viver. Pode ser lido aqui: http://brazzil.com/a-few-examples-of-how-societal-fascism-is-alive-and-well-in-brazil/.