sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Reorientando

Por Gustavo Gollo

Estamos vivendo um momento crucial na história da humanidade, um instante ímpar, sem precedentes, no qual ocorrências em várias esferas confluem para algo maior do que tudo o que já foi visto
Comecemos pelo detalhe mais banal desse equacionamento. Economicamente o mundo está passando por uma revolução que superará a queda do império romano. Trata-se do desmoronamento dos EUA e da derrocada do ocidente. A economia real chinesa já superou a americana, que ainda mantém as aparências sustentada por irrealidades financeiras e uma dívida trilhonária. Em breve, o dólar ruirá e os chineses começarão a ditar novas regras. O poder mundial trocará de mãos. Haverá uma reorientação, um retorno ao oriente.
Embora esse venha a ser o fenômeno mais avassalador da história da humanidade, tratar-se-á de um fenômeno tradicional, de um tipo já ocorrido inúmeras vezes, apenas muito maior que os antecedentes; será diferença de escala, no entanto, somente.
Mais significativas que a mudança do eixo de poder são as ameaças à sobrevivência da humanidade. O conjunto de ameaças à sobrevivência da humanidade vem crescendo assustadoramente. Somam-se agora aos desequilíbrios ecológicos as ameaças decorrentes da nanotecnologia, dos transgênicos, da guerra e das máquinas inteligentes. Se continuarmos criando novas ameaças nesse ritmo não teremos a menor chance de sobreviver por mais um século. De qualquer forma, o transumanismo deverá se impor, desfigurando as pessoas a um ponto tal que as tornarão irreconhecíveis por nós, o que ocorrerá em poucas décadas. Note que a maioria das pessoas não tem a menor ideia do que está acontecendo; mesmo os mais informados sobre tais assuntos têm apenas uma pálida ideia dos desenvolvimentos frementes que estão acontecendo.
Uma terceira ocorrência, penso, supera todas as outras em importância, o fenômeno que foi chamado de “singularidade” e que corresponde mais propriamente a uma divergência nas equações, ao surgimento de uma infinitude brutal engolindo todas as coisas.
Tal estranheza, esse ponto limite que supera nossa racionalidade, decorre simplesmente da iminência do surgimento de máquinas capazes de criar máquinas mais aperfeiçoadas que elas mesmas. Trata-se de um fenômeno metaevolutivo, da evolução da evolução; um salto evolucionário gigantesco! O enorme conjunto de fatores se autoalimentando tem gerado um crescimento brutal, uma verdadeira explosão. Estamos prestes a presenciar esse ponto absurdo, essa infinitude pouco inteligível. Esse acontecimento será como um brilho extremo e ofuscante.
(A singularidade costuma ser imaginada como decorrência do surgimento de máquina inteligente capaz de projetar máquina ainda mais aperfeiçoada que ela própria, levando a um desenvolvimento cada vez mais acelerado. De fato, o fenômeno já está em andamento. Nossa cultura funciona desse modo, possibilitando o aprimoramento de si mesma de uma maneira mais efetiva que a seleção natural; fazemos seleção artificial. Tem surgido a seleção racional. De qualquer forma estamos consolidando uma enorme rede, como um cérebro gigante, constituído pela conexão de todas as mentes em meio a uma grande rede de computadores, telefones e demais circuitos).
Bem, mas tudo isso é o tipo de coisa que os brasileiros, em geral, não querem ver; fomos alijados dessas transformações e acompanharemos todas elas à distância, sem compreendê-las, como se fossem fenômenos mágicos. Executaremos danças e rezas para tentar nos livrar de algumas delas.
A “reorientação”, o retorno ao oriente, deve ocorrer de imediato, suspeito que em 2017, não acredito que possa demorar mais que 5 anos. Consistirá no desvendamento abrupto do turbilhão de mentiras no qual temos vivido, grande o suficiente para transformar nosso mundo em uma completa fantasia, fazendo com que vivamos em uma irrealidade total. Estamos loucos.
A descoberta de nossa própria loucura será um enorme choque, será como despertar de um sonho.
A palavra do ano escolhida pelo dicionário Oxforf foi “post-truth”, ou pós-verdade, uma expressão que já nos esclarece um pouco do que vem por aí. Temos vivido uma fantasia, o mundo pintado pelos meios de comunicação é uma enorme farsa: cairá o pano.
Lamentavelmente, devemos abdicar da esperança de ver a realidade, de conhecer o mundo como ele é; reconstruiremos uma profusão de histórias do mundo. Um ponto, no entanto, merece atenção. Temos vivido a farsa patrocinada pelos poderosos. Acreditamos no mundo veiculado pelos meios de comunicação, uma fábula sustentada por seus patrocinadores. A maioria de nossas crenças foi bancada pelos poderosos, pelos patrocinadores dos meios de comunicação; é nisso que acreditamos, quase todos os nossos conceitos vêm daí. É com esse mundo que romperemos.
Obviamente os poderosos recriarão novos mitos, novas pós-verdades; uma profusão delas será criada, não só pelos poderosos como por muitos de nós. Uma pluralidade de ideias se apresentará, inúmeras alternativas de interpretação do mundo enriquecerão nossa visão atual, globalizada e depauperada. Haverá uma fragmentação das crenças.
Difícil prognosticar o que virá além disso, mas a visão de cada um dependerá, da corrente em que prossigam.
(Descubro agora, ao reler esse texto, que a maioria procurará a orientação do rebanho que logo se reagrupará em vista dessa necessidade, conduzida por pastores poderosos).
A automação substituirá quase por completo o trabalho humano abrindo duas possibilidades básicas. A abundância gerada pela automação permitirá o sustento da população. Uma renda mínima será distribuída a todos, garantindo sua sobrevivência e permitindo que as pessoas se dediquem às artes, ciências e esportes. A Europa parece estar se encaminhando para essa direção. O golpe aplicado aqui tirou-nos desse objetivo e direcionou-nos para a seguinte.
A outra possibilidade é bem cruel, um pesadelo: retira-se todo o apoio do Estado (previdência, saúde, educação) à população controlada por uma polícia forte. Sem emprego, sem renda, as populações urbanas degradam-se rapidamente retornando a índices de séculos atrás (longevidade baixíssima, altíssima natalidade, altíssima mortalidade infantil, inanição, etc.). Essa parece ser a diretriz para o terceiro mundo, determinada por visão racista. Consistirá em uma espécie de neo-feudalismo.
A velocidade das transformações será brutal; atente, por exemplo, ao otimismo brasileiro quando da escolha das olimpíadas, em outubro de 2009, há 7 anos (lembra como tudo estava maravilhoso?), em contraste com o desalento desses tempos [atuais].
Mas tudo está se acelerando e teremos uma chance de retomar nosso destino durante o breve instante que sucederá a reorientação. Será tudo muito rápido; como em um turbilhão avassalador, ventos revolucionários varrerão o mundo inteiro. Teremos uma única chance.

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Fonte: http://jornalggn.com.br/