Já foi afirmado que o chileno Victor Jara parecia interpretar para a eternidade. E que, de algum modo, aparentava ter consciência disso. De fato. Há algo de trágico e melancólico em suas interpretações. Adornado com uma suavidade sem igual. Dizem que o toque nas águas que fazem o Pacífico banhar o Chile tem disso. E tem mistério, enigma carregado a decifrar, pois, conforme a tinta vertida pela pena de Neruda, ele não 'cabe em nenhuma parte', El Océano Pacífico. Acredito que da primeira feita que escutei Victor Jara era, como hoje, um sábado. Chamou-me a atenção a cadência crepuscular. Alguma coisa como falar com o silêncio. Algo próprio, sabe-se lá por quais vias!, do espírito do dia de sábado em algumas crenças e comunidades pagãs antigas - Saturno celebrado; Shabat, cessação. Pois bem, seja como for, vale a pena, aí abaixo, escutar Jara cantando o 'Poema 15' de Pablo Neruda. Déjame que te hable también con tu silencio, claro como una lámpada, simple como un anilo.