quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O ar taciturno vai onde o pensamento alcança

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René Magritte - La voix du sang 

Por Leont Etiel

Agora é tudo sopro de um vento imprevisível. De dias longos e pequenos. De noites banhadas com as águas diurnas e de dias noturnos. É tempo em que o sol brilha sem entusiasmo, em que as aves voam em círculo, insistentes, presas dentro de si mesmas. É tempo taciturno.
Os ares reverberam um som dissonante. Amiúde. Uma nuvem que se movimenta espraiando-se em incertezas; riscados que fazem rascunhos no céu fitando a terra e esquecidos do horizonte. Agora é tudo uma viagem de tanta coisa. Mental. De perto e de longe. Do passado e do presente. Uma leve brisa entra pela janela para logo desaparecer nas ondas imemoriais que buscam uma lembrança calcada num cansaço visionário. Olhos que se desviam ao oculto de si próprio na renúncia do que olhar.
É a distância e o ausente que o sentido alcança. De caminhos indivisos, de serras e montanhas que mostram e escondem. O panorama vivencial avistado. Frestas de uma janela das estações, transpassadas por uma luz inquietante a anunciar a prova do não presente, que se anuncia pelo não aparecer, a vaguear pensamentos labirínticos impenetráveis à incursão direta, posto que existentes na imaginação.
O dia corre em horas, mas condicionado por ritmos intrapsíquicos; o emergir em entusiasmo e a melancólica imersão, quieta, esperando que logo ele, como dia descolorido, passe. Tudo sopro de um vento incerto. O abrigo. Esse romantismo a galopar no cometa que ainda brilha. O surrealismo em raios de extasiante lucidez, a percepção penetrante, o sensível e o inteligível entrelaçados, a sinalização alegórica, o mundo usual no eclipse que é a sua luz permanente.
O soar de uma presença que não é vista, mas sentida. A lufada do ar taciturno que vai onde o pensamento alcança. Ondeiam o tempo e o vento na imprevisibilidade.