René Magritte - La voix du sang |
Por Leont Etiel
Agora é tudo sopro de um
vento imprevisível. De dias longos e pequenos. De noites banhadas com as águas
diurnas e de dias noturnos. É tempo em que o sol brilha sem entusiasmo, em que as
aves voam em círculo, insistentes, presas dentro de si mesmas. É tempo
taciturno.
Os ares reverberam um som
dissonante. Amiúde. Uma nuvem que se movimenta espraiando-se em incertezas;
riscados que fazem rascunhos no céu fitando a terra e esquecidos do horizonte. Agora
é tudo uma viagem de tanta coisa. Mental. De perto e de longe. Do passado e do
presente. Uma leve brisa entra pela janela para logo desaparecer nas ondas
imemoriais que buscam uma lembrança calcada num cansaço visionário. Olhos que se
desviam ao oculto de si próprio na renúncia do que olhar.
É a distância e o ausente
que o sentido alcança. De caminhos indivisos, de serras e montanhas que mostram
e escondem. O panorama vivencial avistado. Frestas de uma janela das estações,
transpassadas por uma luz inquietante a anunciar a prova do não presente, que se
anuncia pelo não aparecer, a vaguear pensamentos labirínticos impenetráveis à incursão
direta, posto que existentes na imaginação.
O dia corre em horas, mas
condicionado por ritmos intrapsíquicos; o emergir em entusiasmo e a melancólica
imersão, quieta, esperando que logo ele, como dia descolorido, passe. Tudo
sopro de um vento incerto. O abrigo. Esse romantismo a galopar no cometa
que ainda brilha. O surrealismo em raios de extasiante lucidez, a percepção penetrante,
o sensível e o inteligível entrelaçados, a sinalização alegórica, o mundo usual
no eclipse que é a sua luz permanente.
O soar de uma presença que não
é vista, mas sentida. A lufada do ar taciturno que vai onde o pensamento
alcança. Ondeiam o tempo e o vento na imprevisibilidade.