quarta-feira, 15 de junho de 2016

'O céu estrelado': amor e felicidade em Kant


Immaneul Kant (1724-1804) desperta os mais diversos pontos de vista. Seja como for, há teses dele que, sobretudo na área das ciências humanas e no Brasil de hoje, merecem reflexão. Uma delas: "Pensamentos sem conteúdo são vazios; intuições sem conceitos são cegas - somente a partir da sua união pode surgir cognição." Mas ele também enveredou pelas formulações em torno do amor. É o que encontramos em Metafísica dos Costumes, Introdução à Doutrina da Virtude, inciso XII, parte C: Do Amor dos Seres Humanos. Aí podemos ler o seguinte: 

"O amor é uma matéria do sentir, não do querer e não posso amar porque o quero e, ainda menos, porque o devo (não posso ser constrangido a amar); por conseguinte, um dever de amar é um absurdo. Mas a benevolência (amor benevolentiae), como conduta, pode estar sujeita a uma lei do dever. Entretanto, a benevolência altruísta para com os seres humanos é com frequência (embora com muita impropriedade) também chamada de amor.As pessoas chegam mesmo a falar de amor que é também um dever para nós quando não se trata da felicidade do outro, mas da plena e livre capitulação de todos os nossos fins a favor dos fins de um outro ser (mesmo um ser sobrenatural). 
Mas todo dever é uma coação, um constrangimento, mesmo se este é para ser auto-constrangimento de acordo com a lei. 
O que é feito a partir do constrangimento, contudo, não é feito a partir do amor."

A hermenêutica é um tanto 'complexa', mas, ao que parece, o fio que perpassa o texto é o de que o amor conecta-se à ideia de liberdade. É provável que isso tenha relação com outra tese de Kant, onde a noção de valor não se associa a uma doutrina moral "que nos ensina como sermos felizes, mas como nos tornarmos aptos à felicidade." Ou, poder-se-á dizer, aptos a momentos de felicidade. 

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