Ensinamentos do pensamento oriental. O indiano Jiddu Krishamurti, falecido em 1986, viveu quase um século, com uma vasta produção, sendo bastante conhecido, por exemplo, pelo seu 'O Primeira e a Última Liberdade'. O texto aí abaixo reproduzido é do seu livro 'Freedom from Known', e versa sobre o tema do amor. Ao seu final, um raro vídeo de Krishamurti.
Por Jiddu Krishamurti
Assim, ao perguntardes o que
é o amor, podeis ter muito medo de ver a resposta. Ela pode significar uma
completa reviravolta; poderá dissolver a família; podeis descobrir que não
amais vossa esposa ou marido ou filhos; podeis ter de demolir a casa que
construístes; podeis nunca mais voltar ao templo. Mas, se desejais continuar a
descobrir, vereis que o medo não é amor, a dependência não é amor, o ciúme não
é amor, a posse e o domínio não são amor, autocompaixão não é amor, a agonia de
não ser amado não é amor. Destarte, se
fordes capaz de eliminar tudo isso, não à força, porém lavando-o assim como a chuva fina lava a poeira de muitos
dias depositada numa folha, então,
talvez, encontrareis aquela flor peregrina que o homem sempre buscou
sequiosamente.
Intelectualmente, sabeis que a unidade humana é a coisa essencial e que
o amor constitui o único caminho para ela, mas quem pode ensinar-vos a amar?
Poderá uma autoridade,
um método, um sistema ensinar-vos a amar? Se alguém vo-lo ensina, isso não é
amor. Podeis dizer: “Eu me exercitarei para o amor. Sentar-me-ei todos os dias
para refletir sobre ele. Exercitar-me-ei para ser bondoso, delicado e me
forçarei a ser atencioso com os outros”? – Achais que podeis disciplinar-vos
para amar, que podeis exercer a vontade para amar? Quando exerceis a vontade e
a disciplina para amar, o amor vos foge pela janela. Pela prática de um certo
método ou sistema de amar, podeis tornar-vos muito hábil, ou mais bondoso, ou
entrar num estado de não-violência, mas nada disso tem algo em comum com o amor.
Não buscar o amor é a única
maneira de encontrá-lo; encontrá-lo inesperadamente e não como resultado de
qualquer esforço ou experiência. Esse amor,
como vereis, não é do tempo. Como uma flor perfumosa, podeis aspirar-lhe
o perfume, ou passar por ele sem o notardes. Aquela flor é para aquele
que se curva para aspirá-la profundamente e olhá-la com deleite. Quer estejamos
muito perto, no jardim, quer muito longe, isso é indiferente. Só é possível encontrá-la, essa coisa
maravilhosa que o homem sempre buscou sequiosamente , quando o pensamento,
alcançando a compreensão de si próprio, termina naturalmente.
Podeis ler
tudo isto hipnotizado e encantado, mas ultrapassar realmente o pensamento e o
tempo – o que significa transcender o sofrimento – é estar cônscio de uma dimensão
diferente, chamada “amor”. Mas, não sabeis como chegar-vos a
essa fonte maravilhosa – e, assim, que fazeis? Quando não sabeis o que fazer,
nada fazeis, não é verdade? Nada, absolutamente. Então, interiormente, estais
completamente em silêncio. Compreendeis o que isso significa? Significa que não
estais buscando, nem desejando, nem perseguindo; não existe nenhum centro. Há,
então, o amor.
Um texto tocante. É no silêncio que há o amor. No deserto de quem somos que percebemos o amor. Gostei muito! Talvez por isso que há muita intimidade quando o silêncio não é um incômodo. Talvez haja muito amor, com o vinho na mão, no alto de uma laje, a se olhar as estrelas...
ResponderExcluir