Uma vida demasiado repleta
de agitação é uma vida esgotante que continuamente exige estimulantes mais
fortes para provocar as emoções que acabam por ser consideradas parte
essencial do prazer. Uma pessoa habituada à demasiada agitação é comparável à
que tem um desejo mórbido de pimenta e acaba por ser incapaz de lhe apreciar o
sabor numa quantidade que sufocaria qualquer outra pessoa. Há sempre um certo
aborrecimento quando se evita em demasia a agitação, mas, por sua vez, a agitação
demasiada não só enfraquece a saúde como embota o gosto para toda a espécie de
prazeres, substituindo titilações por profundas satisfações orgânicas,
habilidade por inteligência e impressões fugidias por beleza. Não pretendo
exagerar os perigos da agitação. Uma certa quantidade talvez seja saudável,
mas, como em quase todas as outras coisas, o problema é de ordem quantitativa.
Uma dose demasiado pequena pode gerar desejos mórbidos e o abuso pode produzir
o esgotamento. Certa capacidade para suportar o aborrecimento é pois essencial
a uma vida feliz e isso era uma das coisas que deviam ser ensinadas aos
jovens.
(Bertrand Russell, em The Conquest of Happiness)