Por António Damásio
(Neurocientista))
A emoção é
um programa de ações, portanto, é uma coisa que se desenrola com ações
sucessivas. É uma espécie de concerto de ações. Não tem nada a ver com o que se
passa na mente.
É despertada pela mente,
mas acontece com ações que ocorrem dentro do corpo, nos músculos, coração,
pulmões, nas reações endócrinas. Sentimentos são, por
definição, a experiência mental que nós temos do que se passa no corpo. É o
mundo que se segue (à emoção). Mesmo que se dê muito rapidamente, em matéria de
segundos, primeiro são ações, e pode-se ver sem nenhum microscópio. Você pode
me ver tendo uma emoção, não vê tudo, mas vê uma parte. Pode ver o que se passa
na minha cara, a pele pode mudar, os movimentos que eu faço, etc., enquanto o
sentimento você não pode ver.
O sentimento eu tenho e
você não sabe se eu tenho ou não tenho. E se você tiver um sentimento de
profunda tristeza, mas se me quiser enganar, e quiser comportar-se como se
estivesse alegre, vai me enganar mesmo, porque eu não posso saber o que está
dentro da sua cabeça.
Isso é uma diferença
fundamental. É a diferença entre aquilo que é mental e aquilo que é
comportamental. É uma reação inata, o sistema de reações é inato e desencadeado
por um determinado processo, geralmente um processo intelectual, uma coisa que
se percebe, se ouve, que se vê, etc., e depois acontece dentro do corpo dessa
forma complexa. Essa é a grande diferença. E como é evidente, é mais fácil
perceber o que se passa objetivamente do que perceber uma coisa que se passa
dentro da mente de outrem.
Existe grande
inter-relação entre o cérebro e a sociedade que construímos. Para ele, nossa
consciência se molda a partir do ambiente, mas a pessoa social também é
determinada pela biologia e por fenômenos que podem ser estudados pela
neurobiologia. Assim, é possível abordar temas como religião, justiça e
política. Apesar de sermos, em grande parte biologia, não somos só biologia,
mas também frutos da civilização, o que cria espaço para a
individualização.
As emoções são programadas
pela educação que recebemos e pela biologia, tanto que podemos encontrar
precursores em outros seres com vida social, embora sem a mesma complexidade.
Já os sentimentos permitem, por exemplo, aprender e prever situações
vantajosas, fundamental para a capacidade de planejar, além de abrir as portas
da imaginação, do conhecimento, da consciência e de uma cultura
complexa.
Emoções geram sentimentos,
atos racionais, e estes são utilizados para a aprendizagem.