Os extratos aí abaixo são de um artigo escrito pelo Prof. Marconi Pequeno, do Departamento de Filosofia da UFPB. Foi publicado durante o primeiro semestre, por ocasião das eleições à Reitoria da instituição. 'Indiretas Já!', era o seu título, num reflexo do descontentamento sobre a forma como as eleições têm ocorrido na UFPB. Pois bem, abstraindo-se às menções à eleição reitoral, as passagens a seguir reproduzidas soam apropriadas, como dispositivos de análise, em relação a determinados procedimentos para as eleições de Centros/Campus da instituição. Três exemplos nesse sentido: 1) há casos em que ainda faltam mais de dois anos para eleições, e, no entanto, a se julgar pelas evidências, já há movimentos e manifestações como se estivesse às vésperas da votação; 2) a tentativa de transformar pautas eminentemente técnico-administrativas em trampolim eleitoral, demarcando terreno; 3) a 'propaganda da visibilidade pessoal' (em tempo de redes sociais, o fenômeno multiplica-se), a procura por projeção, a tentativa de instrumentalização estudantil (não respeitando o direito à autonomia discente), a busca por microfone, espaço para falar, para aparecer, etc. Um completo nonsense! A vida universitária não é uma campanha eleitoral permanente, e menos ainda sob os ecos da demagogia.
Por Marconi Pequeno
(Departamento de Filosofia - UFPB)
Atenção! A temporada de caça ao voto foi aberta. Logo estarão
eles a invadir as nossas salas, a nos abordar nos corredores, a ocupar os
nossos laboratórios, a adentrar em todos os becos acadêmicos em busca daquilo
que nutre a sua gana pelo poder: o voto. Quem são esses personagens
da nossa vida acadêmica? São eles, os candidatos
(...)
Ao lado deles, munidos de bottons, panfletos, adesivos,
cartas-programa, encontram-se os ingênuos de boa-fé, prontos a apoiar
iniciativas que, sabemos, são, em sua maior parte, apenas peças de propaganda.
Em seguida, no pelotão de choque, apresentam-se para a batalha os
indefectíveis militantes profissionais. E, dentre estes, encontram-se,
dissimulados, os sinistros caça-gratificações, movidos pela avidez obsessiva
que somente a militância profissional é capaz de gerar. Para tais personagens,
as eleições são o caminho mais curto e fácil para a conquista de um
insignificante poder acadêmico, além, evidentemente, de representar a garantia
de um real aumento de renda mensal. Há, ainda, os zumbis de corredores sempre
perambulando em busca de um candidato para chamar de seu. Esse voto tão
disputado, caro(a) leitor(a)/eleitor(a), será o apanágio para a
emergência de muitos dos males que assolam nossa Instituição.
Com efeito, por ter se tornado o exercício singelo de uma prática
já prosaica, o voto tende a parecer algo inofensivo. Porém, o modo
como ele é obtido, o peso que ele passa a ter em nossa vida universitária e os
efeitos que ele gera são responsáveis por boa parte da nossa degenerescência
acadêmica.
(...)
Na maioria das Universidades que merecem assim ser
chamadas, ou seja, daquelas que realmente contam para o avanço do
conhecimento, da ciência e da tecnologia, Reitores e outros dirigentes
acadêmicos são escolhidos por Colegiados, Conselhos ou Órgão de representação
acadêmica. Estes podem, na mesma medida, destituir e substituir um dirigente
que cometa alguma impostura ou falta grave no exercício do seu mandato.
Cada Instituição encontra seu próprio modus
operandi e a vida acadêmica não
precisa ficar refém de práticas abjetas e notadamente reveladoras de uma
subcultura política. Parafraseando Tolstói, diríamos: as Universidades que
progridem, todas são parecidas entre si; já as que patinam no atraso, cada uma
é atrasada à sua maneira.
(...)
Como uma Instituição pode ser capaz de aceitar que dirigentes
acadêmicos sejam escolhidos de um modo tão obtuso, retrógrado, irracional? E o
que falar dos debates eleitorais? Sim, neles encontramos a face espetacular do
horror acadêmico que nos assola.
A escolha de dirigentes acadêmicos por meio de consulta
surgiu como uma forma de impedir ingerências externas e indevidas à vida
universitária. Em face do arbítrio da ditadura, tal iniciativa tornou-se um
instrumento democrático contra a tirania autoritária do regime de exceção.
Hoje, da forma como tem sido aplicada em nossa Instituição, ela é apenas uma
aberração escondida sob o véu da pseudodemocracia.