segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Universidade em ritmo permanente de eleições

Os extratos aí abaixo são de um artigo escrito pelo Prof. Marconi Pequeno, do Departamento de Filosofia da UFPB. Foi publicado durante o primeiro semestre, por ocasião das eleições à Reitoria da instituição. 'Indiretas Já!', era o seu título, num reflexo do descontentamento sobre a forma como as eleições têm ocorrido na UFPB. Pois bem, abstraindo-se às menções à eleição reitoral, as passagens a seguir reproduzidas soam apropriadas, como dispositivos de análise, em relação a determinados procedimentos para as eleições de Centros/Campus da instituição. Três exemplos nesse sentido: 1) há casos em que ainda faltam mais de dois anos para eleições, e, no entanto, a se julgar pelas evidências, já  há movimentos e manifestações como se estivesse às vésperas da votação; 2) a tentativa de transformar pautas eminentemente técnico-administrativas em trampolim eleitoral, demarcando terreno; 3) a 'propaganda da visibilidade pessoal' (em tempo de redes sociais, o fenômeno multiplica-se), a procura por projeção, a tentativa de instrumentalização estudantil (não respeitando o direito à autonomia discente), a busca por microfone, espaço para falar, para aparecer, etc. Um completo nonsense! A vida universitária não é uma campanha eleitoral permanente, e menos ainda sob os ecos da demagogia. 


Por Marconi Pequeno 
(Departamento de Filosofia - UFPB)

Atenção! A temporada de caça ao voto foi aberta. Logo estarão eles a invadir as nossas salas, a nos abordar nos corredores, a ocupar os nossos laboratórios, a adentrar em todos os becos acadêmicos em busca daquilo que nutre a sua  gana  pelo poder: o voto. Quem são esses personagens da nossa vida acadêmica? São eles, os candidatos
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Ao lado deles, munidos de bottons, panfletos, adesivos, cartas-programa, encontram-se os ingênuos de boa-fé, prontos a apoiar iniciativas que, sabemos, são, em sua maior parte, apenas peças de propaganda. Em seguida, no pelotão de  choque, apresentam-se para a batalha os indefectíveis militantes profissionais. E, dentre estes, encontram-se, dissimulados, os sinistros caça-gratificações, movidos pela avidez obsessiva que somente a militância profissional é capaz de gerar. Para tais personagens, as eleições são o caminho mais curto e fácil para a conquista de um insignificante poder acadêmico, além, evidentemente, de representar a garantia de um real aumento de renda mensal. Há, ainda, os zumbis de corredores sempre perambulando em busca de um candidato para chamar de seu. Esse voto tão disputado, caro(a) leitor(a)/eleitor(a), será o apanágio para a  emergência de muitos dos males que assolam  nossa  Instituição. Com  efeito, por ter se tornado o exercício singelo de  uma prática já prosaica, o  voto tende a parecer algo inofensivo. Porém, o  modo como ele é obtido, o peso que ele passa a ter em nossa vida universitária e os efeitos que ele gera são responsáveis por boa parte da nossa degenerescência acadêmica.
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Na  maioria das Universidades que merecem assim ser chamadas, ou seja, daquelas que realmente contam para o avanço do  conhecimento, da ciência e da tecnologia, Reitores e outros dirigentes acadêmicos são escolhidos por Colegiados, Conselhos ou Órgão de representação acadêmica. Estes podem, na mesma medida, destituir e substituir um dirigente que cometa alguma  impostura ou falta grave no exercício do seu mandato. Cada Instituição encontra seu próprio modus operandi e a vida acadêmica não precisa ficar refém de práticas abjetas e notadamente reveladoras de uma subcultura política. Parafraseando Tolstói, diríamos: as Universidades que progridem, todas são parecidas entre si; já as que patinam no atraso, cada uma é atrasada à sua maneira.
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Como uma Instituição pode ser capaz de aceitar que dirigentes acadêmicos sejam escolhidos de um modo tão obtuso, retrógrado, irracional? E o que falar dos debates eleitorais? Sim, neles encontramos a face espetacular do horror acadêmico que nos assola.
A escolha de dirigentes acadêmicos por meio de consulta surgiu como uma forma de impedir ingerências externas e indevidas à vida universitária. Em face do arbítrio da ditadura, tal iniciativa tornou-se um instrumento democrático contra a tirania autoritária do regime de exceção. Hoje, da forma como tem sido aplicada em nossa Instituição, ela é apenas uma aberração escondida sob o véu da pseudodemocracia.