Ao longo da história, o corpo diplomático brasileiro tem sido conceituado como hábil, qualificado, competente nos processos de negociação e equilibrado, conforme se requer nas relações internacionais e em matéria de política externa. No momento, contudo, parece que os ventos estão a soprar em outra direção, conforme o artigo aí abaixo.
Por Kiko Nogueira
(Jornalista)
De
todas as barbeiragens que o [presidente] interino cometeu na montagem de sua
equipe, a nomeação de José Serra deve lhe provocar as maiores urticárias.
Serra é uma bomba
relógio de proporções continentais. A chamada liabilty.
Dias depois de ser
citado na delação da Odebrecht, acusado de receber 23 milhões de reais em caixa
2, o chanceler se meteu — ou nos meteu — num incidente diplomático
vergonhoso.
Seu homólogo
uruguaio, Rodolfo Novoa, conta que ele tentou “comprar o voto” do
Uruguai para impedir que a Venezuela assumisse a presidência pro tempore
do Mercosul.
Serra, segundo ele,
se ofereceu para levá-lo a negociações comerciais com países da África
subsaariana e o Irã. Irrecusável.
A história foi
publicada no jornal El Pais, que
teve acesso ao conteúdo de uma reunião de Novoa com deputados.
O suborno teria sido
proposto numa visita de Serra e Fernando Henrique Cardoso a Montevidéu no dia 5
de julho, quando a dupla foi se encontrar com o presidente Tabaré Vásquez.
Apanhado em
flagrante, acusado por um colega que, provavelmente, considerava mais
um mané, Serra reagiu atacando: convocou o embaixador uruguaio, Carlos Daniel
Amorín-Tenconi, a dar explicações.
Mas ele também terá
que se explicar. Na Câmara, [o deputado] Afonso Florence protocolou um
requerimento para que JS fale “pessoalmente”, no plenário, sobre o imbróglio.
Serra é um elemento
desagradável e desagregador que sobrevive apenas graças a uma blindagem
calamitosa da mídia e do Judiciário.
O absurdo do
posto que ele ocupa pode ser resumido da seguinte maneira: como é que um
sujeito que não tem amigos e não conhece seus vizinhos ocupa um cargo na
diplomacia dessa magnitude?
Serra dividiu o PSDB
com sua estratégia do tudo ou nada. Preparou dossiês, por exemplo, contra seu
arqui-inimigo Aécio Neves [seu companheiro de partido]. É o mentor de um artigo
clássico contra Aécio publicado no Estadão, chamado “Pó Pará, Governador” [uma
alusão cavilosa ao suposto vício de Aécio Neves em cocaína].
Um ex-assessor dele
conta que, em campanha, Serra se recusava a pagar uma pizza para os
motoristas que aguardavam os figurões nos comitês.
Serra
procura mostrar serviço cantando de galo com os
“bolivarianos”. Enquanto late com eles, com a desculpa de realinhamento
geopolítico ou uma idiotice do gênero, distribui passaportes diplomáticos para
pastores evangélicos.
Serra e FHC quiseram
usar o método que consagraram: a compra de votos. O Uruguai, infelizmente para
eles, não está à venda.
Requião resumiu bem
a palhaçada em discurso no Senado. “Quero pedir desculpas ao Uruguai
pelo comportamento absolutamente indevido do chanceler e da chancelaria
brasileira. Está transformando a política externa do Brasil em chacota com uma
intervenção absolutamente sem sentido”, disse.
“É uma proeza. José
Serra é um gênio: conseguiu brigar com o Uruguai. O Brasil não merece o que
estamos vendo hoje na nossa política externa”.
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