Já é fato dado que, muitas vezes, não é a idade cronológica que define as pessoas. Ana Macarini, contudo, vai mais além no texto aí abaixo.
Por Ana Macarini
Estamos vivendo um movimento que lembra a força de
uma epidemia. Vivemos cercados de pessoas acometidas por uma espécie de mistura
de “Síndrome de Peter Pan”, com “Complexo de Cinderela”, mais uma pitada de
“Jeito Pateta de ser” e um tiquinho de “Meu sonho é morar na Disney”. Isso até
seria engraçado, se não fosse assustador. E trágico.
Há pessoas que simplesmente não encontram o caminho
da maturidade. E nem é que não queiram crescer ou estejam perpetuando a
adolescência para além dos trinta, quarenta ou cinquenta anos porque decidiram
que é assim que tem que ser. Não! Nada disso!
Simplesmente não sabem como fazê-lo. Existe uma
legião de perdidos num limbo da infância emocional eterna, alimentados por um
estilo de educação familiar que não percebe o quão danoso pode ser a qualquer
um de nós, ser poupado a todo custo de sofrer frustrações, de lidar com as
negações, de enfrentar a vida por si mesmo.
Há milhares de famílias, que vão desde os menos
favorecidos até os mais abastados, que insistem em criar seus filhos como se
eles – os pais – fossem durar para sempre. Alimentam suas crianças e jovens com
infinitas mamadeiras de dependência emocional, sob o pretexto de garantir que
seus rebentos sejam absolutamente felizes, sempre felizes, todos os dias, o
tempo todo.
O resultado de tamanha alienação é a ocorrência de
meninos e meninas, que serão meninos e meninas para toda a eternidade.
Recém-nascidos para sempre, que esperneiam quando algo não sai do jeito que
esperavam. Que amarram a cara, quando não são imediatamente atendidos. Que não
fazem a menor ideia de como todas as coisas que os cercam vão parar em suas
mãos.
Meninos e meninas com vida sexual ativa. Meninos e
meninas que não sabem dar importância ou valorização para a formação acadêmica.
Meninos e meninas que chegam à vida adulta, sem ter a menor ideia do quanto de
dinheiro é necessário para mantê-los. Meninos e meninas que se consideram
adultos o suficiente para beber, para fumar, para amanhecer na rua e voltar
para suas casas a hora que bem entenderem. Alguns com carteira de motorista em
mãos, mas sem juízo suficiente para sentar-se atrás de um volante ou no banco
de uma moto. Muitos, sem nenhuma noção de compromisso e responsabilidade.
Perdidos.
E, não, não estou falando que as pessoas precisam
viver de forma rígida e azeda. Não estou falando que é proibido ser alegre. Não
se trata de não ter o direito de ser criança, ou jovem e se divertir e
aproveitar essas fases tão maravilhosas e absolutamente necessárias para que um
dia, surja um adulto inteiro.
O grande nó para o qual eu convido a uma boa reflexão é o fato de que estamos
assistindo passivamente a inúmeras crianças e incontáveis jovens, sendo
privados da experiência fantástica que é passar por essas fases e estar
disposto a entrar em outras. Outras fases, tão ricas e bonitas quanto são
aquelas pelas quais passamos em nossos anos iniciais.
Crescer é um direito! Amadurecer é tomar posse da
própria vida. É ter a chance de fazer escolhas. É experimentar o prazer de
andar com as próprias pernas. E errar. E acertar. E tentar outra vez, outra
coisa, de outro jeito. Tenhamos a amorosidade necessária para abrir mão de
congelar nossos filhos num tempo em que, depois de um tempo, o que era
encantador certamente será ridículo. Tenhamos a sabedoria para dar a mão às
nossas crianças na travessia da vida, sabendo que vez ou outra é com as mãos
livres que se deve andar.
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Fonte: http://www.contioutra.com/geracao-dos-imaturos-para-sempre/. Título original: 'A geração dos imaturos para sempre'.