(Da jornalista Leila Cordeiro, a propósito do 'desaparecimento' do seu companheiro, o também jornalista Eliakim Araújo)
Queridos amigos,
Há 45 dias abandonei minhas postagens no Facebook para lutar na pior batalha de nossas vidas, contra um câncer
inesperado que surgiu avassalador no pâncreas do Eliakim, com metástase para o
fígado e vias biliares. Começava ali a guerra. Ele me pediu para manter a
doença fora das páginas de sites e jornais, pois ele acreditava que iria sair
dessa e que voltaria a aparecer saudável como antes.
Foram muitos exames, resultados
desesperadores e altos e baixos na saúde dele. Ao começar a quimioterapia também
vieram os efeitos colaterais, mas o importante é que ele sempre acreditou, até
o último instante, que ficaria curado. Jamais deixei que ele perdesse a
esperança, mesmo quando ele parecia perdê-la. Jamais deixei de estar ao lado
dele um segundo sequer. Abandonei a minha vida para salvar a dele, ou pelo
menos , tentar prolongá-la.
Foram os piores 45 dias da minha
vida. Parecia que um tsunami tinha passado em cima da gente. Mas em nenhum
momento nos revoltamos contra a situação. Afinal, não podíamos perder tempo com
sentimentos negativos. Meu consolo é que o nosso amor foi ainda mais
consolidado nesse período de aflição. Todos os dias trocávamos palavras de
carinho e fazíamos planos para o futuro. Eu sabia que eles não iriam acontecer,
mas jamais deixei que ele descobrisse isso.
Foi tudo muito rápido. Entre idas e
vindas ao hospital, onde foi transferido três vezes para a UTI. Mas na última
vez, ele não conseguiu voltar para casa. Neste último sábado passei o dia
inteiro com ele no hospital, o que aliás era minha rotina, mas foi diferente.
Senti de alguma maneira que ele estava indo embora. Tirei a aliança da mão dele
que começava a ficar inchada e disse que a penduraria no meu cordão, pois mais
tarde quando ele voltasse pra casa eu o pediria em casamento de novo.
Infelizmente, na madrugada de domingo
aconteceu o que todos nós temíamos. Ele começou a passar mal no quarto do
hospital e foi logo transferido para a UTI para respirar por aparelhos. Por
incrível que pareça, ele não entrou em coma, foi sedado, mas para surpresa das
enfermeiras ele tentou arrancar o tubo de respiração duas vezes. Elas
desesperadas colocaram de novo o equipamento mas não conseguiram sedá-lo. Aí,
surgiu a dúvida se ele queria arrancar porque estava desistindo da vida ou
simplesmente porque o tal tubo o estava incomodando. Não pensamos duas vezes,
Ana nossa filha e eu, perguntamos a ele ainda nos seus últimos momentos de
lucidez se ele queria que mantivéssemos o tubo e ele respondeu com um tímido
movimento afirmativo de cabeça. Perguntamos se ele queria lutar mais pra ficar
mais tempo entre nós, e ele novamente afirmou com um balanço ainda mais devagar
de cabeça dizendo que sim.
Por isso, o mantivemos entubado até o
seu último suspiro de luta pela vida. Ali pudemos nos despedir dele. A enfermeira
disse que o nosso querido estava nos ouvindo ainda.Por isso, nos demos as mãos,
nossos filhos Alexandre, Frederico, Ana , Lucas e eu, e cada um se despediu
dele à sua maneira. Sempre despejando sobre o nosso Eliakim todo o amor que
sentimos por ele. E assim ele se foi. Ouvimos o silêncio do bip da máquina, o
silêncio da vida de Eliakim Araujo, que terminou como começou, cercado de muito
amor e carinho. Eis aqui a nossa história. Infelizmente bem diferente daquela
que vivemos intensamente nesses 32 anos, mas assim mesmo, vitoriosa. Afinal,
ele não chegou a sentir os efeitos totais e devastadores dessa terrível doença.
Ele se foi tendo sofrido um pouco, mas não a ponto de perder a esperança de
sobreviver. Queridos amigos, está difícil viver sem ele, muito difícil. É como
se eu tivesse perdido a metade do meu corpo. Mas vou recuperá-lo em homenagem
ao meu amor. Fiquei muito feliz e tenho certeza de que ele também ao ver aqui e
em outras redes sociais tantas homenagens, tantas palavras de amor, respeito e
amizade por ele. Muito obrigada a todos por tudo. Estou com a alma lavada ao
ver o reconhecimento do público a esse grande homem e profissional. Obrigada
aos amigos, à família pelo apoio e principalmente ao Fantastic 4, o quarteto
dos irmãos que tem estado comigo o tempo todo.
Hoje temos uma tarefa terrível.
Encomendar a cremação do corpo de Eliakim. (ô coisa difícil de dizer!!!!!) Não
faremos velório de corpo presente. Ele detestaria isso. Me dizia que não queria
que as pessoas o vissem tão debilitado. Por isso, a cerimônia em homenagem a
ele será na beira da praia de Fort Lauderdale, onde vivemos durante dois anos e
meio uma fase de sonho, talvez um presente de Deus ao nosso guerreiro, como se
o estivesse preparando para o adeus dessa vida. Um pequeno grupo formado pelos
filhos e amigos, vamos jogar suas cinzas no mar, vestidos de branco, cada um
com a oração e a mensagem que queira enviar ao nosso Eliakim, com bolas brancas
que levarão cada pedacinho do nosso grande amor até a eternidade. Estou
chorando muito ao escrever isso, mas ao mesmo tempo estou me consolando por ver
que todo esse nosso imenso amor gerou frutos e viralizou, inundando corações e
mentes, para provar que o amor pode tudo, até suportar uma separação inesperada
e dolorida. Sei que continuamos juntos e assim estaremos para sempre. Quero
agradecer também à linda e emocionante homenagem do Fantástico ao nosso grande
guerreiro e mestre. Meu amor, tudo isso foi pra você!!!
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