domingo, 28 de agosto de 2016

A ilha dentro de si: espelho oculto

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'O Doador Feliz', de René Magritte 

Por Leont Etiel

Ao cruzar as fronteiras da ilha que, quando se está na companhia de outras pessoas, fica desabitada dentro de si, Ravi  Sharma se deu que ela, a ilha, não aceita habitantes que não seja aquele que a abriga em seu interior. Então quando se cerca de pessoas é como se ela não existisse, como se o seu deserto deixasse de sê-lo, como se ela, encolhendo-se até desaparecer, procurasse se proteger de invasões. Como se ela ao se comprimir para se proteger buscasse, na verdade, conservar a proteção para abrigar quem a hospeda quando ele se encontra retirado do mundo, de si para si, introspecto, quando a sua única companhia é o espelho da memória.
Tendo ultrapassando as fronteiras da ilha dentro de si, Ravi Sharma se viu perante províncias. Descobriu que a vida do ser humano é constituída por províncias, quais sejam, mente, corpo e vontade. Cada uma delas é uma força na personalidade, mas elas interligam-se entre si, de modo que é difícil dizer qual delas é responsável pelas ações humanas. Se esta ação é da mente, aquela do corpo e aquela outra da vontade.
Refazendo-se desses vislumbres, Ravi Sharma logo tomou a via de um outro labirinto mental. A ilha que habita dentro de si é pródiga em estimular deambulações mentais, de modo que se sai de uma deambulação, entra-se outra, mais outra e mais outra. Tudo isso desde que não haja sinal de pessoas outras, pessoas que emitindo sons, que chamamos falas, não nos queiram arrancar da ilha que habita em nosso interior. Como dizíamos, Ravi Sharma havia tomado um outro labirinto mental e já ia adiantado nas suas curvas, essas, um modo de dizermos conjecturas.
Quase que num ‘faça-se luz’ veio-lhe à mente uma série de premissas, de pressupostos, de pensamentos, encadeando-se dedutivamente, rápido e mais rápido, que o levaram ininterruptamente a conclusões como a seguir postas. Três personalidades nos perpassam. Há a pessoa que nós pensamos que somos, um personagem imaginário. Há a pessoa que nossos amigos pensam que nós somos, um personagem que pode se encontrar distante da realidade que nós somos. E há a pessoa real, com todos os seus humores, (in)decisões e sentimentos.  
Isto posto, Ravi Sharma viu que havia chegado ao fim do labirinto mental que o conduziu a esse quadro de conclusões. Mas não sem antes ter acesso a uma última asserção. Em palavras compassadas, ele a expressou dizendo que a vontade tem um número de satélites, satélites que são o amor, a coragem, a raiva e outros tantos que fazem dela uma poderosa constelação em nosso universo.  
Neste exato momento, do fim desta última asserção, Ravi Sharma percebeu que a ilha, a ilha que habita dentro si, começava a comprimir-se. Foi então que ele ouviu um pequeno barulho externo, pelo que então se apressou para cruzar as fronteiras deixando a ilha. Na saída, ele viu que a palavra-chave para regressar à ilha é solidão.  A ilha que habita o interior de cada um é um espelho individual oculto.