'O Doador Feliz', de René Magritte |
Por Leont Etiel
Ao
cruzar as fronteiras da ilha que, quando se está na companhia de outras pessoas, fica desabitada dentro de si, Ravi
Sharma se deu que ela, a ilha, não aceita habitantes que não seja aquele
que a abriga em seu interior. Então quando se cerca de pessoas é como se ela
não existisse, como se o seu deserto deixasse de sê-lo, como se ela,
encolhendo-se até desaparecer, procurasse se proteger de invasões. Como se ela
ao se comprimir para se proteger buscasse, na verdade, conservar a proteção
para abrigar quem a hospeda quando ele se encontra retirado do mundo, de si
para si, introspecto, quando a sua única companhia é o espelho da memória.
Tendo
ultrapassando as fronteiras da ilha dentro de si, Ravi Sharma se viu perante
províncias. Descobriu que a vida do ser humano é constituída por províncias,
quais sejam, mente, corpo e vontade. Cada uma delas é uma força na
personalidade, mas elas interligam-se entre si, de modo que é difícil dizer
qual delas é responsável pelas ações humanas. Se esta ação é da mente, aquela
do corpo e aquela outra da vontade.
Refazendo-se
desses vislumbres, Ravi Sharma logo tomou a via de um outro labirinto mental. A
ilha que habita dentro de si é pródiga em estimular deambulações mentais, de
modo que se sai de uma deambulação, entra-se outra, mais outra e mais outra. Tudo
isso desde que não haja sinal de pessoas outras, pessoas que emitindo sons, que
chamamos falas, não nos queiram arrancar da ilha que habita em nosso interior.
Como dizíamos, Ravi Sharma havia tomado um outro labirinto mental e já ia
adiantado nas suas curvas, essas, um modo de dizermos conjecturas.
Quase
que num ‘faça-se luz’ veio-lhe à mente uma série de premissas, de pressupostos,
de pensamentos, encadeando-se dedutivamente, rápido e mais rápido, que o levaram
ininterruptamente a conclusões como a seguir postas. Três personalidades nos
perpassam. Há a pessoa que nós pensamos que somos, um personagem imaginário. Há
a pessoa que nossos amigos pensam que nós somos, um personagem que pode se
encontrar distante da realidade que nós somos. E há a pessoa real, com todos os
seus humores, (in)decisões e sentimentos.
Isto
posto, Ravi Sharma viu que havia chegado ao fim do labirinto mental que o
conduziu a esse quadro de conclusões. Mas não sem antes ter acesso a uma última
asserção. Em palavras compassadas, ele a expressou dizendo que a vontade tem um
número de satélites, satélites que são o amor, a coragem, a raiva e outros
tantos que fazem dela uma poderosa constelação em nosso universo.
Neste
exato momento, do fim desta última asserção, Ravi Sharma percebeu que a ilha, a
ilha que habita dentro si, começava a comprimir-se. Foi então que ele ouviu um
pequeno barulho externo, pelo que então se apressou para cruzar as fronteiras
deixando a ilha. Na saída, ele viu que a palavra-chave para regressar à ilha é
solidão. A ilha que habita o interior de
cada um é um espelho individual oculto.