Por Ana Macarini
E de repente você se vê diante de um desalinho na
pretensa organização que ansiava para sua vida. Imprevistos. Esses meninos
travessos que reviram tudo e trocam tudo de lugar. Fizeram de seus planos algo
que não se tornará algo concreto. Assim, o obrigaram a buscar dentro de si uma
outra rota, um caminho novo, um desvio.
Desvios são uma espécie de segunda chance, uma
oportunidade de se reinventar, um ensejo para encontrar em nossos cantinhos
guardados algo que nos faça sentir um arrepio na alma. Arrepios na alma são
momentos raros que nos conectam diretamente aos nossos desejos, sejam
reconhecidos ou absolutamente surpreendentes.
Viver sem arrepios na alma é como passar a não
sentir mais o sabor, o cheiro, a textura, o som das coisas, tudo ao mesmo
tempo. É como não ser mais capaz de se entregar à excitação de um prazer antecipado,
daqueles que a gente consegue sentir em ondas quando está prestes a nos
encontrar.
É desse prazer que a gente precisa, seja numa
experiência física, afetiva ou espiritual. A falta desse prazer vai nos
deixando refratários à alegria. Passamos a funcionar como bonequinhos de corda,
só que movidos por expectativas vazias em nome do alcance de uma felicidade
plástica, reproduzida, artificial.
Expectativa é uma coisinha traiçoeira que deixa a
gente com uma sede específica de uma coisa idealizada, sem a qual temos a
absoluta certeza de que morreremos de sede. Corremos o risco de cultivar um
ardor crônico na garganta, afixados numa teimosia de não ver nada além daquele
idílico devaneio.
O que não sabíamos (porque esse tipo de coisa ninguém
conta mesmo!), é que estar nu de expectativas é uma das experiências mais
libertadoras que podemos provar. Ver cair ao chão uma armadura pesada e rígida,
para ensaiar uns passos insolentes na direção de algo cujo resultado é
absolutamente imprevisível, é abrir espaço para o improvável… o delicioso
improvável.
E não há nada mais belo que uma alma que se arrepia
de prazer, morando dentro de um corpo que experimenta a mesma sensação.
Reconhecimento. Entrega. Comunhão. A pele arrepiada nos faz lembrar sabores
doces, intrigantes, desafiadores. Fechemos os olhos para esperar que a onda nos
atinja, até que a gente se dissolva feito espuma. Uma vez experimentada essa
catarse de emoções, não haverá mais lugar para almas quietinhas, doces,
obedientes. Por isso, entre o arrepio na alma e o arrepio na pele… escolha os
dois!
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Fonte: http://www.contioutra.com/
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