Nagasaki, Japão, após o ataque com a bomba atômica ao fim da Segunda Guerra Mundial (foto de Yosuke Yamahata) |
Filas de rostos pálidos murmurando, máscaras de medo,
Eles deixam trincheiras, subindo pela borda,
Enquanto o tempo bate vazio e apressado nos pulsos,
E a esperança, de olhos furtivos e punhos cerrados,
Naufraga na lama. Ó Jesus, fazei com que isso acabe!
(Siegfried Sassoon - Collected Poems, 1947)
Talvez se ache melhor, em vista das alegações de "barbaridade" dos ataques aéreos, manter as aparências com a formação de regras mais brandas e também limitando-se nominalmente o bombardeio a alvos de caráter estritamente militar [...] para evitar enfatizar a verdade de que a guerra aérea tornou tais restrições obsoletas e impossíveis. Talvez se passe algum tempo até que ocorra outra guerra e enquanto isso o publico pode ser educado quanto ao significado da guerra aérea.
(Rules as to Bombardment by Aircraft, 1921 - Townsend)
Serajevo, 1946. Aqui, como em Belgrado, vejo nas ruas um considerável número de moças cujos cabelos estão ficando grisalhos, ou já estão completamente. Têm os rostos atormentados mas ainda jovens, enquanto as formas dos corpos traem ainda mais claramente sua juventude. Parece-me ver como a mão desta última guerra passou pelas cabeças delas. Tal visão não pode ser preservada para o futuro; essas cabeças logo se tornarão mais grisalhas e desaparecerão. É uma pena. Nada poderia falar tão claramente sobre nossa época às futuras gerações quanto essas jovens cabeças grisalhas, das quais se roubou a despreocupação da juventude. Que pelo menos tenham um memorial nesta notinha
(Signs by the road - Ivo Andric, Conversations with Goya: Bridges, Signs, Londres)
Temos aí três realces no 'mundo de guerras' do século passado, designadamente da Segunda Guerra Mundial. Após o fim desta, mais de uma vez, imaginou-se que eclodiria a Terceira Guerra, sobretudo nos momentos de tensão entre os então blocos da ex-URSS e dos Estados Unidos. Previu-se que isso seria o desastre total, uma guerra nuclear, que não deixaria nada sobre a terra. O fim. Esse cenário ganhou representação nas telas com o filme 'The Day After'. De fato, as tensões entre as duas superpotências alcançaram alta voltagem, mas, nos momentos decisivos, prevaleceu o bom senso. Com o fim da bipolarização entre os mencionados dois blocos, chegou-se a acreditar que o mundo estaria mais seguro. Logo viu-se, contudo, que não era bem assim. Ao fim da Guerra Fria, seguiu-se uma série de conflitos (étnicos, religiosos, econômicos, políticos e geopolíticos) que fazem com que o mundo hoje viva um clima permanente de insegurança. E é isso que tem levado alguns cientistas sociais, sobretudo os historiadores da 'longa duração', a assinalarem que estamos a caminho de uma nova guerra mundial, uma Guerra Total. Até mesmo regiões que não tinham um histórico de instabilidade acentuada, como é o caso da América Latina, estão a vivê-la com disputas internas com propensão a conflitos civis (estimulados por ações exógenas). O Oriente Médio em chamas. O Estado Islâmico. Uma guerra que se arrasta há anos na Síria. Tentativa de golpe na Turquia. E a geopolítica agindo ocultamente para manter hegemonias, por vezes, utilizando até mesmo 'inocentes úteis'. Nesse quadro, a OTAN vai cercando a Rússia. O desastre das consequências que podem advir, para o mundo todo, num cenário de Guerra Total é imprevisível. Mas pode-se imaginar Hiroshima e Nagasaki em escala planetária. O Professor Robert Farley, um estudioso do assunto e especialista da Universidade de Kentucky, chega até mesmo a apontar o que ele chama de 'cinco faíscas' que poderão despoletar a Guerra Total. Isso pode ser visto em textos seus que estão aqui: http://nationalinterest.org/archives/by/12272
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