Estamos vivendo tempos caóticos, de manhas e artimanhas, onde, na busca de se conquistar apoios para narrativas, versões são apresentadas como fatos em si, e a verdade é pisoteada. Muito embora há já um bom tempo pesquisadores tenham apontado as faces da manipulação, é na sociedade atual (e em nosso caso, sobretudo no Brasil de agora) que a manipulação de pessoas se tem constituído num fenômeno central da vida social. Se, em determinada época, ela requeria um considerável grau de planejamento (para preparação e execução de campanhas, por exemplo), de modo que nem sempre os seus efeitos eram imediatos, agora é tudo muito diferente. Com a rapidez instaurada pela revolução da tecnologia da informação, cada vez mais o principal canal de manipulação incide sobre as notícias, isto é, sobre as notícias falsas. Como se precaver para não se tornar massa de manobra? Aí abaixo, o cientista político e especialista em comunicação Leonanrdo Sakamoto apresenta dez dicas a esse respeito.
Por Leonardo
Sakamoto
(Doutor
em Ciência Política, Professor da PUC-SP e Pesquisador Visitante no Departamento
de Ciência Política da New School, em Nova York)
Talvez
você nem saiba, mas está comprando gato por lebre na internet. Descobrir que
uma notícia circulando é falsa nem sempre é simples e mesmo profissionais
de comunicação experientes caem em armadilhas. Mas manter-se sempre atento e
refugiar-se no alto do seu ceticismo é fundamental. Por isso, trago
algumas dicas que podem ser úteis para testar a credibilidade
de sites e páginas que querem te usar como massa de manobra.
1) Verifique se o veículo que traz a notícia pertence a
uma empresa, pessoa ou organização conhecidas. Não que isso seja um atestado de
credibilidade, mas uma pessoa jurídica ou física que corre o risco de pagar
altas indenizações tende a tomar mais cuidado do que um site fabricado de
última hora que se mantém anônimo.
2) Evite páginas que não trazem a pessoa ou equipe que
produzem o conteúdo. Quem dá a cara para bater é mais confiável. É claro que há
páginas na rede com difamadores que usam pseudônimos para fugir de punições.
Não dá para zerar o risco, mas checar se a pessoa da qual você sempre compartilha textos
existe mesmo vale a pena.
3) Se você acha que se informa o suficiente apenas lendo
um título, por favor, não compartilhe nada nessa vida. Um título bombástico
pode esvaziar feito uma bexiga furada ao você ler o texto e perceber que nada o
sustenta.
4) A foto que acompanha a notícia é nova ou antiga? Ela
foi descontextualizada, ou seja, ilustra outra coisa diferente e está sendo
distorcida para servir ao propósito do texto falso? Dá para perceber que ela
foi alterada no Photoshop?
5) Desconfie de textos que não trazem fontes confiáveis,
como entrevistados e pesquisas de instituições conhecidas, para defender as
informações e números divulgados.
6) Muita gente não faz diferença entre um texto opinativo
e um narrativo. No jornalismo, os dois têm seu valor, mas informação precede
opinião. Desconfie de textos que querem se fazer passar por notícias, mas são
opinião pura. Exija provas.
7) Links para documentos, áudios, vídeos e imagens não
são, necessariamente, provas. Eles precisam trazer dados novos e relacionados à
denúncia e, acima de tudo, precisam fazer sentido. Muitos difamadores colocam
esses elementos porque sabem que a maior parte das pessoas nem vai clicar
neles, achando que existem provas irrefutáveis simplesmente porque estão lá.
8) Ao ver uma denúncia cabulosa em um site ou página
obscuros, verifique se algum veículo de comunicação mais conhecido,
progressista ou conservador, deu também. Desconfie de notícias que circulam
apenas entre sites anônimos e grupos de WhatsApp. Muitas vezes esses sites e
grupos pertencem às mesmas pessoas que produziram o texto falso.
9) A população sabe escolher entre uma alface boa e uma
ruim na feira, mas não foi educada (e isso deveria fazer parte do currículo
escolar) para identificar o que são argumento falsos. Se soubesse, condenava
algumas páginas e sites ao esquecimento. Sobre formas de pegar um argumento
falso, sugiro este
texto que publiquei aqui.
10) Por fim, lembre-se: uma notícia não é verdadeira
simplesmente porque você concorda com ela ou porque ela reforça sua visão de
mundo. Eu sei que é bom quando o mundo diz que estamos certos, mas a vida não é
conto de fadas. Aprender a consumir informação com a qual não concorda,
mas que tenha qualidade, porque ela ajuda a explicar o mundo em que você vive,
acredite, é sinal de maturidade.
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Fonte: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/. Título original: 'Dez dicas para descobrir se uma notícia é falsa'.