quinta-feira, 9 de março de 2017

Atilla József e a janela dos dias que nos passam

No século XIX, Goethe esboçou a ideia de uma literatura mundial. Nesta, com bem lembra Nelson Ascher,  os escritores seriam reconhecidos de acordo com os seus méritos, independentemente de suas origens nacionais. O grande obstáculo para a concretização disso é, sem dúvida, a multiplicidade de línguas. Quem se comunica, sobretudo, em idiomas com inglês, francês e espanhol, tem mais possibilidade de alcançar leitores em todo o planeta. É diferente para quem usa uma das outras milhares de  línguas, como seria o caso de um romancista tibetano ou um de contista etíope. Terá de chamar a atenção para despertar o interesse do mercado tradutor. É assim que se explica, penso eu, o desconhecimento da obra do húngaro Atilla József. A Hugria, um país de cerca de dez milhões de habitantes, tem nele um dos seus principais literatos, um poeta de primeira grandeza. Enfrenta, contudo, a barreira da língua.  Vai aí abaixo o seu poema ‘Everything is old’, vertido da língua húngara (magyar) para o inglês por  Peter Hargitai. Qualquer coisa como a janela dos dias que nos passam.

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Estátua de Atilla József em Budapeste 

Everything is old here. The ancient storm
Leans on the lightning’s crooked shoulder
and whistles at the thorn-whiskered rose.
They hobble on bad feet
Everything is gold. The revolution
squats, coughing on sharp
scattered  stones, a coin shines
in his bony hands: my favorite song.
Why isn’t my hand transparent-old,
so that, touching a wrinkle on my face,
it would fall into my lap? They would
believe: tears roll from my eyes.
O my youth! My saintly lust!
Fish swarm in the net of twilight,
Frog spawn curdles in the dust