sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

El otro yo

Por Mario Benedetti

Se trataba de un muchacho corriente: en los pantalones se le formaban rodilleras, leía historietas, hacía ruido cuando comía, se metía los dedos a la nariz, roncaba en la siesta, se llamaba Armando Corriente en todo menos en una cosa: tenía Otro Yo.
El Otro Yo usaba cierta poesía en la mirada, se enamoraba de las actrices, mentía cautelosamente, se emocionaba en los atardeceres. Al muchacho le preocupaba mucho su Otro Yo y le hacía sentirse incómodo frente a sus amigos. Por otra parte el Otro Yo era melancólico, y debido a ello, Armando no podía ser tan vulgar como era su deseo.
Una tarde Armando llegó cansado del trabajo, se quitó los zapatos, movió lentamente los dedos de los pies y encendió la radio. En la radio estaba Mozart, pero el muchacho se durmió. Cuando despertó el Otro Yo lloraba con desconsuelo. En el primer momento, el muchacho no supo qué hacer, pero después se rehizo e insultó concienzudamente al Otro Yo. Este no dijo nada, pero a la mañana siguiente se había suicidado.
Al principio la muerte del Otro Yo fue un rudo golpe para el pobre Armando, pero enseguida pensó que ahora sí podría ser enteramente vulgar. Ese pensamiento lo reconfortó.
Sólo llevaba cinco días de luto, cuando salió a la calle con el propósito de lucir su nueva y completa vulgaridad. Desde lejos vio que se acercaban sus amigos. Eso le lleno de felicidad e inmediatamente estalló en risotadas.
Sin embargo, cuando pasaron junto a él, ellos no notaron su presencia. Para peor de males, el muchacho alcanzó a escuchar que comentaban: «Pobre Armando. Y pensar que parecía tan fuerte y saludable».
El muchacho no tuvo más remedio que dejar de reír y, al mismo tiempo, sintió a la altura del esternón un ahogo que se parecía bastante a la nostalgia. Pero no pudo sentir auténtica melancolía, porque toda la melancolía se la había llevado el Otro Yo.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Para além das palavras

A Pérsia, o Grande Império, o Irã - de Dario, Ciro, Xerxes... e de Rumi, com o que está para além das palavras. 


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Estranhos num mundo que nos estranha: o viajante clandestino

Por Mia Couto 

– Não é arvião. Diz-se: avião.
O menino estranhou a emenda de sua mãe. Não mencionava ele uma criatura do ar? A criança tem a vantagem de estrear o mundo, iniciando outro matrimônio entre as coisas e os nomes. Outros a elas se semelham, à vida sempre recém-chegando. São os homens em estado de poesia, essa infância autorizada pelo brilho da palavra.
– Mãe: avioneta é a neta do avião?
Vamos para a sala de espera, ordenou a mãe. Sala de esperas? Que o miúdo acreditava que todas as salas fossem iguais, na viscosa espera de nascer sempre menos. Ela lhe admolestou, prescrevendo juízo. Aquilo era um aeroporto, lugar de respeito. A senhora apontou os passageiros, seus ares graves, sotúrnicos. O menino mediu-se com aquele luto, aceitando os deveres do seu tamanho. Depois, se desenrolou do colo materno, fez sua a sua mão e foi à vidraça. Espreitou os imponentes ruídos, alertou a mãe para um qualquer espanto. Mas a sua voz se arfogou no tropel dos motores.
Eu assistia a criança. Procurava naquele aprendiz de criatura a ingenuidade que nos autoriza a sermos estranhos num mundo que nos estranha. Frágeis onde a mentira credencia os fortes.
Seria aquele menino a fratura por onde, naquela toda frieza, espreitava a humanidade? No aeroporto eu me salvava da angústia através de um exemplar da infância. Valha-nos nós.
O menino agora contemplava as traseiras do céu, seguindo as fumagens, lentas pegadas dos instantâneos aviões. Ele então se fingiu um aeroplano, braços estendidos em asas. Descolava do chão, o mundo sendo seu enorme brinquedo. E viajava por seus infinitos, roçando as malas e as pernas dos passageiros entediados. Até que a mãe debitou suas ordens. Ele que recolhesse a fantasia, aquele lugar era pertença exclusiva dos adultos.
– Arranja-te. Estamos quase a partir.
– Então vou despedir do passaporteiro
A mãe corrigiu em dupla dose. Primeiro, não ia a nenhuma parte. Segundo, não se chamava assim ao senhor dos passaportes. Mas só no presente o menino se subditava. Porque, em seu sonho, mais adiante, ele se proclama:
– Quando for grande quero ser passaporteiro.
E ele já se antefruía, de farda, dentro do vidro. Ele é que autorizava a subida aos céus.
– Vou estudar para migraceiro.
– És doido, filho. Fica quieto.
O miúdo guardou seus jogos, constreito. Que criança, neste mundo, tem vocação para adulto?
Saímos da sala para o avião. Chuviscava. O menino seguia seus passos quando, na lisura do alcatrão, ele viu o sapo. Encharcado, o bicho saltiritava. Sua boca, maior que o corpo, traduzia o espanto das diferenças. Que fazia ali aquele representante dos primórdios, naquele lugar de futuros apressados?
O menino parou, observente, cuidando os perigos do batráquio. Na imensa incompreensão do asfalto, o bicho seria esmagado por cega e certeira roda.
– Mãe, eu posso levar o sapo?
A senhora estremeceu de horror. Olhou envergonhada, pedindo desculpas aos passantes. Então, começou a disputa. A senhora obrigava o braço do filho, os dois se teimavam. Venceu a secular maternidade. O menino, murcho como acento circunflexo, subiu as escadas, ocupou seu lugar, ajeitou o cinto. Do meu assento eu podia ver a tristeza desembrulhando líquidas missangas no seu rosto. Fiz-lhe sinal, ele me encarou de soslado. Então, em seu rosto se acendeu a mais grata bandeira de felicidade. Porque do côncavo de minhas mãos espreitou o focinho do mais clandestino de todos os passageiros.

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Fonte: http://www.contioutra.com. Título original: 'O viajante clandestino'. 


Um desafio chamado Brasil e o próximo passo

Ciro Gomes tem percorrido o país proferindo a conferência  'O Rumo Certo para o Brasil'. De estilo direto e assertivo, choca muitas vezes por chamar 'os bois pelos nomes', não recusando polêmica. Advogado e professor universitário - tendo estudado economia na Havard Law School -, possui um largo percurso político-administrativo. Na exposição que realizou em João Pessoa, pediu que a sua fala fosse vista de forma acadêmica (mesmo sendo pré-candidato a Presidente da República), e assim  apresentou um panorama da crise brasileira numa perspectiva sócio-histórica, que remonta aos anos do surgimento do Brasil urbano, os anos 1930, com Getúlio Vargas.  Vivendo o país um deserto de projetos, como o Brasil vive, além de se encontrar atolado numa crise que abrange as mais diversas esferas, é salutar que alguém se apresente para discutir rumos para a nação. Se os rumos propostos são factíveis ou não, o debate é um canal para averiguação. De qualquer forma, trata-se de uma tarefa de 'grande fôlego', e possivelmente a sua dimensão encontre expressão nos títulos de dois livros do próprio Ciro: 'Um desafio chamado Brasil' e 'O Próximo Passo' (em coautoria com Roberto Mangabeira Unger - Havard University). 

Image result for O próximo passo, Ciro Gomes

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Entre a teoria e a prática na sociedade atual

sábado, 9 de dezembro de 2017

A nossa queda

Por Edmilson Lopes Júnior
(Sociólogo, UFRN)


Envelhecer foi se tornando obsceno. De repente, temos que ser todos eternamente jovens. Talvez Mick Jagger seja o ícone desse imaginário. Como se tudo fosse assim: a gente nasce, cresce, fica adolescente, jovem e vive como jovem e um dia morre. Balela. A gente envelhece, sim. A gente vai esquecendo coisas, também. Palavras que não vêm, conexões de eventos que demoram a ascender à consciência... Mas, para muita gente, envelhecimento foi guindado à condição de palavra proibida. Como câncer, antigamente. Lá na Várzea do Apodi, ninguém falava câncer... Pronunciava-se "aquela doença". E de forma um tanto conspiratória e amedrontada. Hoje, a velhice é negada. Um elogio grande, nestes dias, é dizer que a pessoa "continua a mesma". Eu, não, não continuo o mesmo. Para o bem e para o mal, mudei. E, sim, estou envelhecendo. E as marcas ficam em todos os lugares, embora, algumas vezes, você ainda pense que o seu corpo é aquele de antes e que vai te obedecer prontamente. Mas, não. Dia desses, subindo as escadas do meu prédio, calculei mal o próximo batente e me esparramei na escadaria. Nos batentes ficaram as compras que levava nas mãos, e, sim, um pouco do controle sobre o eu que definia como parte fundamental de "mim mesmo" (meu corpo). Sim, porque, na queda, vi-me tentando, como direi?, a mitigar os seus efeitos. Pude apenas proteger a cabeça. Não, não tive maiores consequências, exceto um pequeno corte na perna, a essa altura já sarado. A gente aceita as idades quando elas são carregadas semanticamente: idade dos arroubos, idade da paixão, idade da razão... e até uma certa "idade da maturidade". Só. Nós, os vivos, continuaremos a envelhecer, é inexorável... Ah, mas não aquelas especulações do Yuval Noah Harari, no HOMO DEUS? Tá, eu sei. Mick Jagger tá aí, quase jovem. Aliás, o ícone desse tempo que não passa. Joe Cocker, não. O cara morreu velho, que sinistro! Você vai lá e clica "Joe Cocker" no youtube e aparece um cara cantando With a little help from my friends no Festival de Woodstock e um velho senhor também cantando a mesma música. Você se choca? Sei lá, acho verdadeiro e prefiro isso ao mito que é o Mick. E a Jane Fonda? Jane Fonda é a demonstração de que envelhecemos, sim. Ah, porque estou falando de Jane Fonda? Sei lá, eu estava falando de uma queda, de envelhecimento... 

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Texto socializado pelo autor em rede social, sob o título 'A Minha Queda'. 

Lento, mas vem; o reino do tempo


quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Dinamarca: bolsas de estudo para graduação, mestrado e doutorado

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Danish Government Scholarships under the Cultural Agreements prevê bolsas com duração de 5 a 12 meses.
As bolsas destinam-se a jovens qualificados interessados em se especializar em design, arquitetura, estudos ambientais e outros campos relacionados ou em estudar língua e cultura dinamarquesas. Podem se candidatar estudantes do Brasil, China, Japão, Coreia do Sul e Rússia.
O programa oferece um salário mensal de 6,5 mil coroas dinamarquesas, cerca de 3,3 mil reais. Os selecionados devem ser estudantes de instituições de ensino superior que queiram realizar intercâmbio no país europeu.
Por ano letivo, são reservados 50 meses de bolsas de estudos a estudantes brasileiros. Os tipos de benefícios disponíveis são:
Bolsas de 5 a 12 meses para estudantes doutorado/PhD.;
Bolsas de 5 a 12 meses para estudantes de mestrado;
Bolsas de 5 a 12 meses para estudantes de graduação que estudam língua e literatura dinamarquesas

Critérios de seleção do programa
A comissão que vai selecionar os candidatos dará prioridade para quem tiver projetos de pesquisa que, de alguma forma, estejam relacionados ao país. A motivação do candidato em estudar em solo dinamarquês também será avaliada. Serão solicitadas cartas de avaliação/recomendação de ex-professores dos candidatos, assim como também se considerará o patamar intelectual desses professores.

Candidatura às bolsas para estudar na Dinamarca
As inscrições vão até 1º de março de 2018. É preciso fazer o download e preencher o formulário de candidatura e enviá-lo por e-mail (kulturaftaler@ufm.dk) junto aos seguintes documentos:
Currículo;
Carta de motivação;
Programa detalhado de estudos/pesquisa na Dinamarca;
Cópia do diploma (certificada e traduzido);
Histórico escolar;
Carta da universidade de origem;
Certificado de proficiência em inglês;
Carta de admissão ou convite da universidade dinamarquesa;
Carta de recomendação e/ou duas de referência.

Veja a lista das instituições dinamarquesas que participam do programa