sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Palavras ditas: intermitências de uma cidade inquieta (cosmopolitismo e cultura na Mossoró de Antônio Francisco)

Das minhas andanças mundo afora, Mossoró é uma das cidades que sempre tenho voltado. Os anos de atividade profissional na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) levaram-me a constituir consistentes laços com a cidade. Uma cidade que, cada vez mais, se tem afirmado como um pólo cosmopolita e como propulsora de  uma intensa vida intelectual, impulsionada pelas suas universidades (com destaque para as duas públicas). E onde a inquieta cultura popular abunda. Neste sentido, o poeta Antônio Francisco é uma referência - 'o poeta da bicicleta', conforme o documentário a seu respeito que já cruzou o Atlântico. O poeta que se tornou membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Por estes dias, em mais uma passagem por Mossoró, para um Seminário na UERN, voltei a apreciar a prosa de Antonio Francisco. Vale a pena. Abaixo, vídeo e entrevista dele (concedida ao Jornal O Mossoroense,de 23/10/2011). Poesia na escola, erudição e preocupação ambiental.







Entrevista - Poeta Antônio Francisco

Membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel desde 2006, o poeta Antônio Francisco Teixeira de Melo é conhecido como um dos maiores cordelistas da região. Graduado em História pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), Antônio Francisco apresenta pelos palcos da vida todo o seu talento de cordelista, xilógrafo e compositor.
Ele começou a trabalhar profissionalmente com literatura tardiamente, aos 45 anos, mas isso não o impediu de construir uma carreira sólida, que rendeu vários livros e cordéis publicados e ter seu nome comparado a grandes mestres da cultura popular, como Patativa do Assaré. Nesta entrevista, o poeta fala sobre sua vida, desafios e sua paixão, a literatura. 
O Mossoroense: Como foi que o senhor despertou o gosto pelos cordéis?
Antônio Francisco: 
Comecei a gostar de cordéis, quando vi meu pai abrir sua mala e ali dentro estar vários, como o "Português de melancia", "O pavão misterioso", foi assim que comecei a tomar gosto pelos cordéis. Além disso, sempre li jornais. Quando era gazeteiro, as letras dos jornais ficavam pregadas em mim. Também tinha uma tia que contava histórias, contava que ia a pé para Canindé... Então aquelas histórias da minha tia ficavam na minha cabeça. E foi então que comecei a ser também contador de histórias e fui escritor pela vivência, aos 45 anos. Antes eu escrevia de brincadeira, fazia uma paródia, uns versos livres para os amigos, mas publicar mesmo eu só vim publicar com 45 anos de idade.
OM.: Na maioria das vezes, a pessoa começa a construir uma carreira profissional aos 20 e poucos anos, principalmente na área cultural, que é uma área difícil para a maioria, com muitas barreiras a serem vencidas. Por que o senhor decidiu iniciar a carreira de cordelista aos 45 anos de idade?
AF.:
 Eu sempre tive muita energia, e ainda tenho. Antes tudo que eu via eu queria ser. Queria ser pintor, escultor, retocar, jogar bola. Depois decidi ser esportista. Eu tinha a vantagem da minha saúde que permitia que eu fosse ciclista. Apesar de ser pequeno, comprei uma bicicleta passei uma parte boa da minha vida andando de bicicleta, sou louco por bicicleta, conheci muitas cidades. Enquanto que para uns andar de bicicleta é só um esporte, para mim é um grande lazer. Passei muito tempo dedicado ao esporte e não tinha tempo para outras coisas.
Somente depois dos 40 anos começou a minha aproximação com Crispiniano Neto, Luiz Campos, Caio Cézar Muniz, com a Poema e comecei a fazer recitais. Eu acho que se a pessoa não dá certo no palco, não dá certo. Eu dei certo, graças a Deus. Hoje sou convidado para fazer palestras em vários locais e muitas pessoas leem meus cordéis.
OM: O senhor teve apoios na sua carreira como poeta?
AF.: 
Em toda minha vida eu soube que era muito difícil conseguir vitória nessa área, mas eu consegui. E contei com a ajuda de muitas pessoas. Um dos grandes passos da carreira foi quando conheci Vingt-un Rosado. Ele foi a mola-mestra na minha carreira. Ele sempre me incentivou, ficava insistindo para eu fazer livros, tanto que eu fiz. Como diz Crispiniano, meu livro foi Vingt-un quem fez. (risos). Foi tudo graças a ele, a Poema, meus amigos, desde o começo. E de lá para cá foi dando certo.
OM: O senhor tem quantos cordéis e livros publicados?
AF.:
 Eu escrevo pouco. Vou contar uma história: Quando era jovem, morava na Lagoa do Mato, eu sacudia pedra de uma margem da lagoa para outra. Um dia chegou um senhor com cinco pedras e perguntou quantas das cinco pedras eu conseguia atravessar até o outro lado. Eu disse que não posso, não são cinco pedras qualquer que sei que vou conseguir arremessar pela lagoa. São cinco pedras escolhidas por mim, que eu sei que irá atingir o outro lado. Com os cordéis é desse jeito. Entre cinco ou seis assuntos, eu escolho um para dar certo. Não é todo assunto que dá um cordel. Por isso, tenho uns 40 títulos de cordéis publicados. Já com relação a livros, tenho quatro livros publicados e um sendo preparado.
OM.: Um de seus livros, "Dez Cordéis num cordel só", foi incluído na lista de obras para o Processo Seletivo Vocacionado (PSV) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern). Como o senhor avalia essa indicação?
AF.:
 Ter um livro indicado no vestibular da Uern foi um marco da minha vida como escritor e como mossoroense. Imagine, você ter um livro no meio de nomes como o de Machado de Assis, Cecília Meireles. Você saber que milhares de jovens vão ler o seu livro é muito gratificante. Eu acho bom, foi um grande troféu.
OM.: A sua história de vida foi tema de um documentário "O Poeta e a Bicicleta", que foi exibido em um festival de curtas em Lisboa, Portugal. O senhor imaginava que sua história fosse ser propagada tão longe.
AF.:
 Com o resultado do documentário fiquei muito feliz, e mais feliz ficou Talles Chaves, o diretor do filme. Eles fizeram o documentário em uma oficina de curtas e chegaram até onde chegaram pela qualidade. Nem eles pensavam e nem eu imaginava que íamos chegar tão longe. De levar o nome de Mossoró a Portugal. Eu ganhei, ele ganhou e toda a cultura de Mossoró ganhou com isso.
OM.: Hoje o senhor é um cordelista conhecido, que conseguiu reconhecimento pelo seu trabalho. Quais as dificuldades que teve até chegar aqui?
AF.:
 Não tive muitas dificuldades. Até porque nunca fiz nada que eu não gostasse. Quando eu era sapateiro, eu me acordava às 4h da manhã e ficava rezando para o dia amanhecer para fazer sapato. Quando eu era pintor, passava a semana abrindo letras em Mossoró e no sábado e domingo, meus dias de lazer, eu ia olhar as letras que eu fiz. Já nos cordéis, comecei com 45 anos, já comecei maduro, sabia das dificuldades. Eu ia de bicicleta pedir patrocínio, e o cara chegar de bicicleta numa loja para pedir patrocínio é difícil, eu já ia consciente.
Na verdade o meu sonho, e foi o que eu alcancei, foi conseguir que minha família, meus vizinhos, meus amigos lessem meus livros. E hoje, muita gente recita meus livros, em Mossoró eu vejo as professores lendo meu livro para os alunos, os estudantes lendo o meu livro para o vestibular.E isso me deixa alegre. Quando você quer convencer o mundo, você deve primeiro convencer em casa. E eu acho que consegui isso. Quando vi um sobrinho meu com o livro na mão aquilo para mim foi uma felicidade. Às vezes a pessoa pergunta, você é feliz fazendo isso, fazendo aquilo? Eu sou feliz demais.
OM: O senhor demonstra um grande carinho pelos livros. Na sua opinião, qual a importância da leitura para a formação dos cidadãos?
AF.:
 Eu acredito que a pessoa não pode viver uma vida toda sem ter tido o prazer de ler. Às vezes, a mãe obriga o filho a ir à escola, a ler um livro. É preciso fazer a criança e o jovem compreenderem que escola não é um castigo, a leitura não é um castigo. A leitura é um prazer, um conhecimento, uma viagem. Quando peguei um livro e vi que através das letrinhas você viajava, conhecia vários mundos, chorava, se emocionava e ainda tem o conhecimento e a vontade de dizer isso nos cantos contando sua história, aquela foi a maior alegria do mundo. Tenho minha biblioteca, deito naquela redinha (ele fala de uma rede armada na sala de sua casa), redinha de Caicó. Isso para mim é uma felicidade.
OM.: Como o senhor se define atualmente?
AF.:
 Hoje com 62 anos, não sei se estou mais feliz porque tenho minha profissão ou porque dei uma carreira e agradeci a Deus como é bom ter saúde e disposição para viver. Quando vinha pela manhã, encontrei com um contemporâneo meu dizendo que estava com artrose, então eu parei para não passar correndo por e



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