segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Do infinito do pensar, da dor e da alegria: Leonardo Coimbra

Quem foi Leonardo Coimbra? Filósofo lusitano (1883-1936), habitante da cidade do Porto, notabilizou-se por um pensamento original, afirmando o ensaísmo. Na questão universitária, o seu discurso é direto: "nas literaturas vivem todos os sonhos e aspirações humanas. Todas as experiências de sentimento aí aparecem: a curiosidade nova, o amor, o enternecimento, a audácia (...).  Partindo de si, o homem deve abraçar todo o Universo. Ser boca onde todas as dores venham cantar; olhos onde todos os sofrimentos venham chorar lágrimas de piedade e ternura universais". Ângelo Alves, com o seu Leonardo Coimbra: Filósofo da Liberdade e do Amor Infinito (Lisboa, Fundação Lusíada), procura apresentar dimensões sintéticas do pensamento do filósofo.  O texto a seguir é do próprio livro.

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«O apelativo de madrugante, atribuído à filosofia de Leonardo Coimbra, é uma metáfora, bem ao jeito do seu autor, que, mesmo ao determinar uma obra de pensamento e filosofia, usa uma linguagem predominantemente literária. Reporta-se fundamentalmente a O Criacionismo, primeiro livro de Leonardo e, embora implicitamente, a toda a sua filosofia, que apareceu como da noite para o dia, imprevista e precoce, autónoma e inovadora. Surgiu fora de um contexto visível no nosso meio cultural. 

Os que tiveram a fortuna de conviver com o filósofo portuense, não julgam suficiente, para explicar o seu aparecimento, o convívio concreto de alguns homens mais amadurecidos e de alta mentalidade, como Junqueiro, Pascoaes, Basílio Teles e Sampaio Bruno. Nenhum deles tinha feito obra similar. 

Além disso, como toda a madrugada, que é prenúncio dum novo dia, trata-se de uma obra anunciadora de promessas, de um sol radiante.

É um novo dia que desponta para a filosofia portuguesa, um novo pensamento a que não falta o sentido profético. No dizer de Sant’Anna Dionísio: “é uma obra baptismal que revela, de um golpe, um homem novo, de prodigiosa vocação reflexiva, dotado de uma vastíssima cultura científica e portador de uma espécie de sentido profético que define mil vezes melhor que Sampaio Bruno, com o seu livro O Encoberto, a vocação despertante e ontológica do povo português, cujo silêncio secular e cuja inapetência aparente ele queria como que resgatar com inopinada precocidade”.

Pela sua cultura científica e filosófica, pela originalidade das suas ideias, pelos seus dotes de comunicação e empatia, que fizeram dele o maior orador contemporâneo, depois de Alexandre Braga e António Cândido, pela luta sustentada em favor da liberdade e dos mais altos valores espirituais, pela sua independência e amor pátrio, Leonardo Coimbra foi um dos espíritos mais influentes no meio cultural portuense e mesmo nacional, nas primeiras décadas deste século. 

A lição e o exemplo de Leonardo são os de um verdadeiro intelectual, que, como filósofo e artista, buscou a verdade com toda a alma e a comunicou, pela palavra escrita e falada, em coerência, fidelidade e beleza. 

Dizia Platão que a verdade, por estar muito alta, exige o homem todo para lá poder chegar. Esta forte exigência cumpriu-a o filósofo portuense, com audácia, até à morte. 

Por isso, foi um homem livre. É que só a verdade liberta, mesmo só a relativa, a única que podemos alcançar nas trevas deste mundo. Leonardo soube procurá-la em limpidez de consciência e seguir a sua voz, na expectativa de possuir mais verdade, a caminho da Verdade absoluta.»





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